Manifestações de domingo dividiram opiniões em plenário
Enquanto Chico do Uberaba (PMN) e Professor Galdino (PSDB) pediam a prisão do ex-presidente Lula, na sessão plenária desta segunda-feira (14), na Câmara Municipal de Curitiba, os vereadores Valdemir Soares (PRB), Pier Petruzziello (PTB), Serginho do Posto (PSDB) e Jorge Bernardi (Rede) fizeram críticas direcionadas mais ao governo federal, sem entrar no tom acusatório dos primeiros. Professora Josete, a única a permanecer filiada ao PT no Legislativo, disse estar assustada com o cenário nacional. “A criminalização do PT está abrindo o flanco para setores antidemocráticos”, declarou a parlamentar.
“Lula fez um grande mal para o Brasil. Ele é um bandido. Merece vir algemado para Curitiba”, atacou Galdino, primeiro a comentar em plenário as manifestações de domingo em todo o Brasil, que reuniram nas ruas 3,5 milhões de pessoas. “Lula, Curitiba espera você de grades abertas”, completou Chico do Uberaba. “O Brasil demonstrou, com seu coração, a preocupação com o destino do país. Impeachment já!”, seguiu o parlamentar, falando em “escândalo internacional” e “roubalheira do PT”.
Serginho do Posto defendeu as manifestações e qualificou o momento nacional de “delicado”. Ele leu declaração da ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), publicada ano passado: “Houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a ação penal 470 [mensalão] e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo”.
O mesmo recurso foi utilizado pelo vereador Valdemir Soares, que leu a manifestação de Marcos Pereira, presidente nacional do PRB, publicada no jornal Folha de São Paulo na semana passada. “[Quando] o governo federal vai parar de bravatas e admitir que o país está falido? Que é um fracasso na educação, saúde e infraestrutura básica?”, escreveu o dirigente partidário, cuja opinião foi endossada por Soares. “Ontem as pessoas estiveram nas ruas contra a corrupção e em defesa da Operação Lava Jato”, avaliou Bernardi.
O vereador da Rede Sustentabilidade, contudo, defendeu que haja uma “pacificação” no cenário político. “A situação do Brasil não vai bem. Nós observamos, principalmente nas redes sociais, que há um a polarização entre vermelhos e azuis, e isso não é bom para o nosso país. Esse agravamento da situação política já causa a maior recessão da história desse país. Precisamos nos desarmar e focar nos pontos positivos, buscar uma pacificação que não atrapalhe o Legislativo. A radicalização pode nos levar a uma guerra civil”, sugeriu Jorge Bernardi.
Antes da Professora Josete (PT) falar em plenário, a sessão teve que ser interrompida, pois Chico do Uberaba e Chicarelli (PSDC) reclamaram de a vereadora ter sido privilegiada na ordem das inscrições. Felipe Braga Côrtes (PSDB), que presidia a sessão, mostrou aos a lista oficial aos parlamentares, mas as acusações, aos gritos, seguiram por alguns minutos e se misturaram a críticas ao PT. “Eu acredito na democracia, e por isso precisamos garantir que todos os pensamentos possam se manifestar – e isso só pode acontecer se não entrarmos na lógica do ódio, da intolerância”, argumentou Josete.
A vereadora deu como exemplos de ódio a invasão de uma reunião do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na cidade de Diadema, em São Paulo, e pichações na sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Instituto Lula. “O ocorrido em Diadema foi lamentável. O ouvidor da Polícia Militar paulista reagiu, disse que é necessário saber de quem partiu a ordem, que [ações policiais como essa] são um risco à democracia, e que em 1964 começou assim”. Para Josete, depois de criminalizar o PT, setores conservadores passarão a criminalizar os movimentos sociais de esquerda. “A política tem que ser passada a limpo, não criminalizada. E a punição precisa aos corruptos precisa acontecer, desde que haja provas e que a legalidade seja respeitada”, opinou.
Josete cobrou “mais responsabilidade da mídia” e reclamou, por exemplo, de a investigação sobre o envolvimento do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB) na cobrança de propina por auditores da Receita Estadual “não ser tratada com a mesma agressividade”. “Nesse caso não há vazamento seletivo [de informações]”, disse, criticando a Operação Lava Jato – que ela disse ser “direcionada”. Pier Petruzziello reagiu a esse comentário, afirmando não ser possível “desqualificar a manifestação de domingo, nem a Lava Jato”.
“Desqualificar a Lava Jato é desqualificar a inteligência de um magistrado com reserva moral muito forte”, seguiu Pier Petruzziello. “A Dilma [Rousseff] não tem a menor condição de governar o Brasil, não mantém o diálogo com as instituições. Chamar isso de perseguição é absurdo. Vamos acordar! O PT vai ter que engolir isso. O PT se perdeu. Erraram. Precisamos continuar protestando, para dar força à Justiça Federal e à Polícia Federal”, defendeu. Josete, por sua vez, convidou “os setores progressistas” à manifestação de apoio ao governo federal, marcado para dia 18 de março.
Incentivo ao MP-PR
“Infelizmente a investigação sobre a licitação dos ônibus de Curitiba está há dois anos parada no Ministério Público do Paraná”, disse Jorge Bernardi, conectando o assunto à pauta dos protestos de domingo. “Espero que o MP-PR aprofunde o trabalho, igual faz a equipe da Operação Lava Jato”, comentou. O vereador disse considerar que os 200 mil curitibanos na manifestação de ontem “querem ver a questão investigada”, depois das irregularidades levantadas pela CPI do Transporte Coletivo. Ele foi o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito e Bruno Pessuti (PSC) assumiu a relatoria (leia mais).
Leia também:
Depoimento de Lula na Operação Lava Jato repercute em plenário
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba