Julieta Reis: "não basta dizer que quer ser candidata"

por Assessoria Comunicação publicado 11/03/2015 17h00, última modificação 29/09/2021 10h24
Para tentar se eleger como vereadora, deputada, senadora ou até presidente da República, não basta apenas ter a vontade de se candidatar. É preciso exercer algum tipo de liderança, ter dinheiro para investir na campanha e, sobretudo, coragem para enfrentar a vida pública. A observação foi feita por Julieta Reis (DEM), na entrevista sobre a sua visão da participação da mulher na política.

A parlamentar não defende a cota feminina de cadeiras nas casas legislativas, pois entende que as vagas hoje existentes nas três instâncias – municipal, estadual e federal – são de direito. Mas reconhece que a disputa com os homens é difícil, porque eles são a maioria dentro dos partidos, “se entendem melhor” e precisam menos do chamado “primeiro empurrão” na política.

Câmara Municipal de Curitiba: Mais da metade do eleitorado brasileiro é feminino, mas nas eleições gerais de 2014 apenas 28,9% dos 22,3 mil candidatos eram mulheres. No pleito de 2012, apenas cinco vereadoras foram eleitas (de um total de 198 mulheres que concorreram ao cargo). Como a vereadora avalia a situação? Por que a mulher não participa tanto da política quanto se espera?

Julieta Reis: O voto é muito pessoal. As pessoas só votam em quem elas gostam ou em quem confiam. E não necessariamente isto significa que a mulher vota na mulher. Para a eleitora votar na mulher, ela precisa ter afinidade, admiração, simpatia e, no caso do vereador, aproximação. Com relação à segunda pergunta, acredito que a mulher tem a dificuldade natural de se candidatar na eleição majoritária (prefeita, governadora, presidente da República). Na proporcional (vereadora, deputada, senadora), temos a garantia da cota de 30% de candidatas nos partidos e ainda sim temos poucas mulheres para preenchê-la.

CMC: Por que destas dificuldades?

JR: Porque os homens ainda têm maior vontade de exercer o poder. Quando se vai escolher o candidato ao cargo de prefeito ou ao de governador, este é indicado pela maioria partidária, formada por homens. A mulher precisa ser uma líder e conquistar o voto de uma maneira mais pessoal, já que o número de candidatos homens é bem maior. Isto sem falar na questão financeira: você tem os votos, a liderança, mas nem sempre é suficiente para se eleger. Quando digo financeiro, não me refiro à compra de voto, mas à organização da campanha, ter estrutura para divulgar o trabalho e metas.

CMC: Os partidos investem mais nos homens do que nas mulheres?

JR: Eu acredito que sim, porque os líderes partidários são homens. Existe uma tendência natural: a linguagem, o entendimento, a maneira de pensar entre os homens é diferente. Eles se entendem melhor.

CMC: Esta “maneira de pensar” desestimula a candidatura feminina?

JR: Neste caso não. As mulheres, às vezes não são candidatas por outras razões. Elas não querem, por exemplo, misturar a vida particular com a política. Muitas vezes são casadas e não querem se afastar de casa. E a vida pública exige isto: numa campanha política, você tem que estar na rua de manhã, de tarde e quase que de noite. A mulher deve ter disponibilidade para se organizar, gastar energia numa atividade como esta. Isto sem falar na imagem que as pessoas têm da política. As pessoas pensam: “política não é para mim”, “política é uma coisa negativa”. A imagem é esta, em função de uma série de fatores. Por isso, existem mulheres que não se dispõem a se expor.

CMC: Há quem defenda que a cota feminina nas cadeiras das casas legislativas poderá garantir a presença de mais mulheres na política. A vereadora concorda?

JR: Não concordo, porque as vagas estão lá. É só se candidatar à vaga a que você tem direito. Nenhuma mulher pode dizer que não se candidatou a um cargo de nível proporcional porque não deixaram. Isto não existe mais.

CMC: A vereadora tem perspectivas sobre o crescimento da participação da mulher na política?

JR: Nós já melhoramos muito nos últimos anos. Aqui na Câmara, por exemplo, sempre tivemos três vereadoras. Hoje somos cinco mulheres. Acho que, em 2016, podemos ter mais candidatas ao cargo, mas isto vai depender muito do nascimento de novas lideranças. Porque não basta você chegar e dizer “eu quero ser candidata”. É preciso que você tenha um trabalho de liderança de grupo (na comunidade escolar, na igreja, no bairro) ou ter muito dinheiro para investir. Aí você tem o voto pessoal, somado ao voto da estrutura de campanha para divulgar sua proposta. No caso das mulheres, a dificuldade é maior para se organizarem porque muitas trabalham fora, outras cuidam da família.

CMC: Mas há espaço para se organizarem?

JR: A nível municipal, sim. Já nas campanhas gerais é mais difícil. No Senado,  por exemplo, é muito mais difícil para uma mulher ser eleita. Normalmente aquelas que chegaram lá, já tinham alguém no grupo político que apostou nelas: ou é o pai, ou é o marido, ou é o irmão. A mulher sempre tem que ter um determinado incentivo, um primeiro “empurrão”. Depois ela segue sozinha. Ela precisa mais do que o homem deste primeiro “empurrão”.

CMC: A vereadora afirmou que sobram vagas para as mulheres que querem disputar um cargo eletivo. Além disso, ressaltou que a vontade de participar apenas, não basta. É preciso ter um perfil para a política, ser uma liderança e ter dinheiro para investir na campanha. O que falta, então, para as mulheres serem candidatas?

JR: Elas precisam de coragem para isto. Coragem para enfrentar as dificuldades da vida pública. Precisa ter disponibilidade de tempo e tranquilidade familiar mínima para se dedicar à atividade política. Não é todo mundo que tem o perfil para exercer um cargo público, mas temos que lutar permanentemente por uma participação maior das mulheres, porque o mundo seria muito melhor se houvesse o equilíbrio entre o pensamento feminino e o masculino.

*Em seu quinto mandato, Julieta Reis foi eleita vereadora de Curitiba em 2012, com 6.965 votos. Ela é formada em Artes Plásticas pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná e em Didática do Desenho pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). A parlamentar é servidora aposentada da Prefeitura de Curitiba. Apoia a geração de empregos e, na Câmara Municipal, o direito ao trabalho dos ambulantes (informações da assessoria parlamentar).
 
Por Pedritta Marihá Garcia – Jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba.