Jairo Marcelino, a testemunha da redemocratização em Curitiba
Nascido no dia 17 de julho de 1943, Jairo Marcelino tinha 40 anos quando ingressou na CMC. (Foto: Carlos Costa/CMC)
Nenhum outro vereador ocupou posição tão privilegiada quanto a de Jairo Marcelino, com 37 anos ininterruptos de mandato na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), como observador da redemocratização na capital do Paraná. Falecido nesta terça-feira (20), ele era membro da geração de 1983 na CMC, que foi a primeira a se eleger após o fim do bipartidarismo imposto pela ditadura militar. Aos 77 anos, Marcelino estava internado desde setembro com pneumonia, foi diagnosticado com Covid-19 e não sobreviveu às complicações da doença.
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Nascido no dia 17 de julho de 1943, Jairo Marcelino tinha 40 anos quando ingressou na CMC. Para quem começou a trabalhar aos 14, como cobrador de ônibus na linha Uberaba, e em 1962 passou a motorista de ônibus, já era uma pessoa vivida. Mas comporia, naquela distante nona legislatura, o bloco dos novatos que o início da redemocratização trazia para a vida pública. Décadas depois, era comum ouvir servidores e vereadores, durante o trabalho parlamentar, chamarem-no afetivamente de “professor”. Jairo Marcelino deixa esposa, 6 filhos, 13 netos e 2 bisnetos. O prefeito Rafael Greca anunciou, nas redes sociais, luto oficial de três dias em respeito à memória do parlamentar.
À esquerda, Jairo Marcelino comenta o resultado das eleições em 2016, no plantão da CMC na apuração no TRE-PR. À direita, no início de 2017, faz projeções para o mandato, no projeto #eudiscuto da CMC.
A nona legislatura da CMC foi um ponto de virada na história de Curitiba, pois nela vários políticos hoje famosos ingressaram na vida pública. O número de vereadores aumentou de 21 para 33 em 1983 – e dois terços da Câmara era de candidatos sem experiência prévia naquele Legislativo. Esperando por eles, em plenário, estavam os experientes Ivan Ribas, Ivanir Stival, João Derosso, José Gorski, Luiz Carlos Betenheuser, Luiz Gil Leão Filho e Moacir Tosin, por exemplo.
Eleito com 4.042 votos, pelo PDS (ex-Arena), no bloco de novatos Jairo Marcelino seria colega de plenário de Algaci Túlio, Haziel Pereira Filho, Horácio Rodrigues, José Felinto, José Maria Correia, Jorge Bernardi, Marlene Zannin, Mauro Moraes, Neivo Beraldin, Rafael Greca de Macedo, Rosa Maria Chiamulera, Sady Ricardo e Tito Zeglin, por exemplo. Com a passagem do tempo, ele passaria a ocupar posições destacadas no Legislativo e mudaria de partido. Agora estava no PSD, mas passou mais de uma década filiado ao PDT.
Jairo Marcelino foi da Mesa Diretora da CMC por seis vezes durante seus 37 anos de mandato. O cargo mais alto ele desempenhou de 1995 a 1996, no papel de segundo secretário, compondo a trinca da Comissão Executiva com Íris Simões, presidente, e Jair Cezar, primeiro secretário. Depois foi 2º vice-presidente de 1999 a 2000, 3º secretário de 2001 a 2002, 3º secretário de 2005 a 2006 e 3º secretário de 2011 a 2012, com João Cláudio Derosso na presidência. Na gestão Paulo Salamuni, de 2013 a 2014, Marcelino foi 4º secretário.
“O homem, quando nasce, Deus dá um dom para ele. E ele tem que cumprir aquilo que está posto. Estou fazendo a minha parte”, disse Jairo Marcelino, em entrevista à TV Transamérica, no final de 2019. Na sua trajetória, o mandato do ex-vereador era associado à defesa dos profissionais do transporte escolar, dos taxistas e dos moradores da região Norte de Curitiba, onde residia. O Sistema de Proposições Legislativas da CMC registra 379 leis municipais de autoria dele.
No seu primeiro mandato, Jairo Marcelino aprovou uma regulamentação para o serviço de transporte escolar em Curitiba – a lei municipal 6.909/1986. E, nos anos seguintes, continuou a legislar em prol do setor, editando diversas normas desse tipo (7.347/1989, 7.559/1990, 10.097/2000, 11.328/2004, 11.421/2005, 11.629/2005, 14.831/2016 e 15.639/2020). Nesta última, por sugestão do parlamentar, vários pontos foram flexibilizados (confira aqui). Diretamente vinculadas ao serviço de táxi, são cinco (8.686/1995, 9.232/1997, 9.691/1999, 9.700/1999 e 15.601/2020). Mas ele também é autor da proibição de outdoors em terrenos abandonados (9.088/1997), de regras para instalação de para-raios em prédios (12.557/2007) e do Dia de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla (13.453/2010).
No quesito apoio à sociedade civil, Jairo Marcelino é autor das leis que declararam de utilidade pública a Associação Reviver Down (9.162/1997), o Instituto Ciência e Fé (9.025/1997), o Instituto dos Vigilantes do Paraná (13.972/2012), a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Paraná (15.532/2019), a Associação da Patrulha Rodoviária Federal no Paraná (6.910/1986), a Sociedade Civil Boca Maldita (7.363/1989) e a Sociedade Cultural Carnavalesca Embaixadores da Alegria (8.266/1993), por exemplo.
Nas emendas orçamentárias para este ano, destinou R$ 450 mil a escolas e creches públicas da Região Norte de Curitiba. Também contribuiu para as doações coletivas aos hospitais Pequeno Príncipe e Erasto Gaertner e alocou recursos para a revitalização de áreas de lazer e ao incentivo ao esporte na cidade. Destinações semelhantes ele fez nos anos anteriores, ajudando instituições de saúde e equipamentos públicos da Região Norte.
Quanto à preservação da história da cidade e das suas pessoas, há no SPL muitos registros de leis criadas por Jairo Marcelino. São do ex-vereador as homenagens em vida, com o título de Vulto Emérito, ao jornalista Cid Destefani, ao desembargador Heliantho Guimarães Camargo e ao empresário Fernando Ghignone, por exemplo. Arlindo Ventura, do bar O Torto, Miguel Arcanjo Capriotti, ex-comandante do Corpo de Bombeiros, e a empresária Flora Madalosso Bertolli, por exemplo, receberam dele a Cidadania Honorária de Curitiba.
Boletim médico
"É com grande pesar que comunicamos o falecimento do Sr. Jairo Marcelino na tarde de hoje, por complicações relacionadas à Covid-19. Nos últimos dias de internação houve um agravamento do quadro clínico, caracterizado por piora da oxigenação sanguínea, queda da pressão arterial e sinais de comprometimento de vários órgãos. Não apresentou sinais de melhora apesar das medidas terapêuticas empregadas, resultando em falência de múltiplos órgãos, que levou ao óbito", diz o boletim médico final, assinado pelo doutor Osni Silvestri, superintendente médico do Hospital Vita.
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