Incentivo a hortas urbanas em Curitiba é tema de audiência
A vereadora Carla Pimentel (PSC) promoveu, nesta sexta-feira (25), uma audiência pública para debater a criação, em Curitiba, de uma política pública que incentive a agricultura urbana (005.00231.2013). O evento foi realizado no plenário da Câmara Municipal e reuniu especialistas em gestão de resíduos, como Carlos Biasi, representante da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) para a região Sul do Brasil, representantes do poder público, universidades e projetos-piloto nessa área.
“Vamos receber todas as sugestões apresentadas e transformá-las em emendas ao projeto original, que cria o Programa Horta Solidária Urbana”, afirmou Carla Pimentel. A proposição sugere que a prefeitura de Curitiba cobre menos IPTU de quem aderir à iniciativa. “Outras ideias na área da preservação do meio ambiente e sustentabilidade foram apresentadas durante a audiência, que podem se tornar novos projetos de lei”, antecipou a vereadora.
Segundo Isac Baril, diretor do Departamento de Educação Alimentar e Nutricional da secretaria municipal do Abastecimento, Curitiba já tem instaladas 1.208 hortas urbanas. “Elas estão localizadas em terrenos vazios, espaços não ocupados, embaixo das torres de transmissão da Eletrosul, igrejas, escolas. Isso tudo, entretanto, significa só 5% do que poderíamos ocupar. Temos espaço, mas faltam pessoas capacitadas para atender a demanda”, disse o técnico.
Ele também apresentou os números da política pública Câmbio Verde, mantida pelo Executivo. “São 100 pontos de coleta distribuídos pela periferia da cidade, em que uma pessoa troca quatro quilos de lixo por um de hortifrúti (hortaliças, frutas, legumes e verduras). Em setembro, recolhemos 252 toneladas de lixo e distribuímos 63 toneladas de hortifrúti”, comemorou Baril.
Para o representante da FAO, é preciso ampliar iniciativas como a criação de hortas urbanas e a distribuição local desses alimentos. “A FAO é vinculada à ONU e trata da agricultura e alimentação e, nos últimos anos, tem se preocupado com a erradicação da fome. Hoje, existem 840 milhões de pessoas no mundo com problemas de nutrição e fome. Só que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados por ano. Desse número, 3 milhões de toneladas são de alimentos não consumidos, cuja decomposição acelera o efeito estufa”, apontou Carlos Biasi.
“Precisamos de novos encaminhamentos, novas ideias para lidar com essa situação, sob pena de no futuro os descendentes dessa época terem que lidar com sérios problemas ambientais. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a plantação de pêssego foi alterada por pesquisadores, que adaptaram as plantas à redução de horas frias no dia, provocada pelo aquecimento global”, exemplificou o representante da FAO.
Destinação do lixo
O tema das hortas urbanas foi tratado dentro de um debate mais amplo, sobre o reaproveitamento do lixo. O engenheiro Luís Celso Coelho da Silva, do Departamento de Limpeza Pública da secretaria municipal do Meio Ambiente, apresentou dados de 2012 sobre o descarte de materiais no Brasil. “No ano passado, foram produzidas 62,7 bilhões de toneladas de lixo no país, sendo que 42% foram levadas para lixões, sem o devido tratamento ambiental”, alertou Silva. Ele relatou que a prefeitura de Curitiba planeja ações para reduzir o porcentual de lixo orgânico coletado hoje em dia, que chega a 40% do material descartado.
A alternativa para isso, completou Arlineu Ribas, secretário-executivo do Conresol (Consórcio Intermunicipal para Gestão de Resíduos Urbanos da Região Metropolitana de Curitiba), podem ser ações de compostagem, geração de biogás e gás carbônico, produção de adubo, criação de plantas aquáticas e industrialização dos resíduos sólidos (reciclagem).
O Conresol é a entidade que gere o lixo produzido por Curitiba e outras 20 cidades do seu entorno. “O custo dessa destinação final é de R$ 250 por tonelada, ou seja, gastamos R$ 750 mil por dia com lixo. Das 850 mil toneladas que recolhemos por ano, 40% é material orgânico”, contabilizou Ribas. “A taxa de impostos para isso, proveniente do IPTU, paga só metade dessa despesa. A situação é ainda pior em outros municípios do consórcio, onde o gasto supera em até oito vezes a arrecadação”, revelou. Três milhões de pessoas habitam a área gerida pelo Conresol.
Boas práticas
Duas iniciativas regionais foram apresentadas durante a audiência pública: a “Revolução dos Baldinhos”, de Santa Catarina, e a “Casa da Videira”, de Curitiba. “O custo da coleta de lixo na comunidade Chico Mendes (no bairro Monte Cristo, região continental de Florianópolis, capital de Santa Catarina) caiu de R$ 40 mil para R$ 18 mil por mês”, apontou Juliana Torquato Luiz, socióloga e representante do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro).
A entidade, que existe há mais de 20 anos, desenvolveu o projeto-piloto da “Revolução dos Baldinhos” para enfrentar, em 2009, uma infestação de ratos provocada pelo acúmulo de lixo nas ruas da comunidade. Os moradores foram incentivados e treinados para recolher o lixo orgânico da rua, levar até um terreno onde seria feita a compostagem e, depois disso, usar o adubo em hortas nos quintais de suas residências. “Hoje, 200 famílias da comunidade participam do projeto e, organizados numa cooperativa, vendem parte do adubo”, explicou Juliana.
Iniciativa semelhante faz em Curitiba Eduardo Feniman, pesquisador da Associação Casa da Videira. Há quatro anos ele pesquisa novas técnicas de agricultura urbana utilizando como "laboratório" sua própria residência. Diariamente a equipe da Casa da Videira visita estabelecimentos comerciais e recolhe, gratuitamente, lixo orgânico. Esse material é usado em hortas e trato de animais, criados no quintal da residência. “Conseguimos muito alimento apto para consumo, mas impróprio para a comercialização. E é um material muito nobre para ser imobilizado em aterros sanitários, pois significam o trabalho do agricultor, água e terra disponibilizada para o consumo”, diz Feniman.
A jovem Caroline Holella, de um grupo intersetorial belga, acompanhou o debate e informou que existem grupos estrangeiros interessados em apoiar e pesquisar iniciativas como essas, na área da sustentabilidade e tecnologia verde. Uma delegação de vereadores chilenos também participaram da atividade. Ambos estavam acompanhados da assessora de Relações Internacionais da prefeitura de Curitiba, Rosane Kupka.
Nicolau Leopoldo Obladen, da direção da Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre), lembrou os presentes de que é preciso cuidado na realização da compostagem. “O risco de contaminação do resíduo doméstico urbano é muito maior que os resíduos da agricultura. A preocupação não é só pegar o resíduo e transformar em agricultura, mas determinar sua origem para evitar contaminação”, advertiu.
No final da audiência pública, foram servidas comidas elaboradas pelas chefes Hannah Lima, Taciana Stec e Vânia Krekniski que defende uma culinária capaz de aproveitar todo o alimento. “O cozinheiro tem que pensar não só na receita e em deixar o prato saboroso, mas também cuidar do lixo, evitar o desperdício e ter consciência ambiental”, diz Hannah.
“Vamos receber todas as sugestões apresentadas e transformá-las em emendas ao projeto original, que cria o Programa Horta Solidária Urbana”, afirmou Carla Pimentel. A proposição sugere que a prefeitura de Curitiba cobre menos IPTU de quem aderir à iniciativa. “Outras ideias na área da preservação do meio ambiente e sustentabilidade foram apresentadas durante a audiência, que podem se tornar novos projetos de lei”, antecipou a vereadora.
Segundo Isac Baril, diretor do Departamento de Educação Alimentar e Nutricional da secretaria municipal do Abastecimento, Curitiba já tem instaladas 1.208 hortas urbanas. “Elas estão localizadas em terrenos vazios, espaços não ocupados, embaixo das torres de transmissão da Eletrosul, igrejas, escolas. Isso tudo, entretanto, significa só 5% do que poderíamos ocupar. Temos espaço, mas faltam pessoas capacitadas para atender a demanda”, disse o técnico.
Ele também apresentou os números da política pública Câmbio Verde, mantida pelo Executivo. “São 100 pontos de coleta distribuídos pela periferia da cidade, em que uma pessoa troca quatro quilos de lixo por um de hortifrúti (hortaliças, frutas, legumes e verduras). Em setembro, recolhemos 252 toneladas de lixo e distribuímos 63 toneladas de hortifrúti”, comemorou Baril.
Para o representante da FAO, é preciso ampliar iniciativas como a criação de hortas urbanas e a distribuição local desses alimentos. “A FAO é vinculada à ONU e trata da agricultura e alimentação e, nos últimos anos, tem se preocupado com a erradicação da fome. Hoje, existem 840 milhões de pessoas no mundo com problemas de nutrição e fome. Só que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados por ano. Desse número, 3 milhões de toneladas são de alimentos não consumidos, cuja decomposição acelera o efeito estufa”, apontou Carlos Biasi.
“Precisamos de novos encaminhamentos, novas ideias para lidar com essa situação, sob pena de no futuro os descendentes dessa época terem que lidar com sérios problemas ambientais. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a plantação de pêssego foi alterada por pesquisadores, que adaptaram as plantas à redução de horas frias no dia, provocada pelo aquecimento global”, exemplificou o representante da FAO.
Destinação do lixo
O tema das hortas urbanas foi tratado dentro de um debate mais amplo, sobre o reaproveitamento do lixo. O engenheiro Luís Celso Coelho da Silva, do Departamento de Limpeza Pública da secretaria municipal do Meio Ambiente, apresentou dados de 2012 sobre o descarte de materiais no Brasil. “No ano passado, foram produzidas 62,7 bilhões de toneladas de lixo no país, sendo que 42% foram levadas para lixões, sem o devido tratamento ambiental”, alertou Silva. Ele relatou que a prefeitura de Curitiba planeja ações para reduzir o porcentual de lixo orgânico coletado hoje em dia, que chega a 40% do material descartado.
A alternativa para isso, completou Arlineu Ribas, secretário-executivo do Conresol (Consórcio Intermunicipal para Gestão de Resíduos Urbanos da Região Metropolitana de Curitiba), podem ser ações de compostagem, geração de biogás e gás carbônico, produção de adubo, criação de plantas aquáticas e industrialização dos resíduos sólidos (reciclagem).
O Conresol é a entidade que gere o lixo produzido por Curitiba e outras 20 cidades do seu entorno. “O custo dessa destinação final é de R$ 250 por tonelada, ou seja, gastamos R$ 750 mil por dia com lixo. Das 850 mil toneladas que recolhemos por ano, 40% é material orgânico”, contabilizou Ribas. “A taxa de impostos para isso, proveniente do IPTU, paga só metade dessa despesa. A situação é ainda pior em outros municípios do consórcio, onde o gasto supera em até oito vezes a arrecadação”, revelou. Três milhões de pessoas habitam a área gerida pelo Conresol.
Boas práticas
Duas iniciativas regionais foram apresentadas durante a audiência pública: a “Revolução dos Baldinhos”, de Santa Catarina, e a “Casa da Videira”, de Curitiba. “O custo da coleta de lixo na comunidade Chico Mendes (no bairro Monte Cristo, região continental de Florianópolis, capital de Santa Catarina) caiu de R$ 40 mil para R$ 18 mil por mês”, apontou Juliana Torquato Luiz, socióloga e representante do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro).
A entidade, que existe há mais de 20 anos, desenvolveu o projeto-piloto da “Revolução dos Baldinhos” para enfrentar, em 2009, uma infestação de ratos provocada pelo acúmulo de lixo nas ruas da comunidade. Os moradores foram incentivados e treinados para recolher o lixo orgânico da rua, levar até um terreno onde seria feita a compostagem e, depois disso, usar o adubo em hortas nos quintais de suas residências. “Hoje, 200 famílias da comunidade participam do projeto e, organizados numa cooperativa, vendem parte do adubo”, explicou Juliana.
Iniciativa semelhante faz em Curitiba Eduardo Feniman, pesquisador da Associação Casa da Videira. Há quatro anos ele pesquisa novas técnicas de agricultura urbana utilizando como "laboratório" sua própria residência. Diariamente a equipe da Casa da Videira visita estabelecimentos comerciais e recolhe, gratuitamente, lixo orgânico. Esse material é usado em hortas e trato de animais, criados no quintal da residência. “Conseguimos muito alimento apto para consumo, mas impróprio para a comercialização. E é um material muito nobre para ser imobilizado em aterros sanitários, pois significam o trabalho do agricultor, água e terra disponibilizada para o consumo”, diz Feniman.
A jovem Caroline Holella, de um grupo intersetorial belga, acompanhou o debate e informou que existem grupos estrangeiros interessados em apoiar e pesquisar iniciativas como essas, na área da sustentabilidade e tecnologia verde. Uma delegação de vereadores chilenos também participaram da atividade. Ambos estavam acompanhados da assessora de Relações Internacionais da prefeitura de Curitiba, Rosane Kupka.
Nicolau Leopoldo Obladen, da direção da Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre), lembrou os presentes de que é preciso cuidado na realização da compostagem. “O risco de contaminação do resíduo doméstico urbano é muito maior que os resíduos da agricultura. A preocupação não é só pegar o resíduo e transformar em agricultura, mas determinar sua origem para evitar contaminação”, advertiu.
No final da audiência pública, foram servidas comidas elaboradas pelas chefes Hannah Lima, Taciana Stec e Vânia Krekniski que defende uma culinária capaz de aproveitar todo o alimento. “O cozinheiro tem que pensar não só na receita e em deixar o prato saboroso, mas também cuidar do lixo, evitar o desperdício e ter consciência ambiental”, diz Hannah.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba