Homofobia é debatida em seminário da Câmara Municipal
“O público LGBT é o segundo, no Paraná, que vivencia a violência e a violação de direitos humanos, ficando apenas atrás das crianças e dos adolescentes”. A afirmação foi feita pelo coordenador da ONG Dom da Terra Afro LGBT, Marcio Marins, durante o Seminário “Dia Municipal de Combate à Homofobia: Construindo Marcos e Respeitando a Cidadania”. O evento aconteceu nesta quinta-feira (21) na Câmara Municipal de Curitiba, por iniciativa de Professora Josete (PT).
A homofobia é o preconceito contra a diversidade sexual – contra aqueles que pertencem a diferentes grupos de orientação sexual (lésbicas, gays e bissexuais) ou de identidade de gênero (travestis, transexuais, intersexuais, transgêneros). “Não gostaria de discutir esta questão, mas enquanto isto existir, vamos discutir, buscar a superação, a democracia de direitos, de fato”, disse a vereadora, que está em licença médica e apenas participou da abertura do seminário.
A justificativa para o preconceito, segundo Marcio Marins, é a predominância de uma cultura fortemente conservadora. “A "LGBTfobia" caminha junto com o machismo e o racismo. Por isto, o debate de hoje e de outras audiências públicas são justificados. A sociedade extremamente conservadora não deixa que a nossa comunidade conquiste a igualdade de direitos”, complementou.
“Na CID 10 [Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde], a pessoa transexual é classificada como doente mental. Eu sou reconhecida mundialmente como doente mental. Mas até que ponto a patologia cabe? É dada? Se eu sou doente mental, eu tenho direito a diversos benefícios e isto não me é dado. Até que ponto eu sou homem e até que ponto sou mulher? Se mostro meus seios na rua sou presa e quando sou fichada, é como homem. Agora homem que tira a camisa na rua é preso?”, refletiu a transexual Rafaelly Wiest.
Presidente do Transgrupo Marcela Prado (Associação de Travestis e Transexuais de Curitiba), Rafaelly explicou que o exemplo mostra que, além da homofobia, há outros tipos de preconceito que precisam ser banidos da sociedade: a transfobia, a lesbofobia e a bifobia. “Somos condicionados a sermos seres noturnos. Dentro da balada, podemos beijar, abraçar. Mas durante o dia, somos achincalhados, sofremos agressões nas ruas, nas escolas”, reforçou Leonardo Lima, diretor nacional da Frente LGBT da União da Juventude Socialista (UJS).
Discussão de gênero
Segundo a secretária de Direitos Humanos da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), Heliana Hemetério, o combate à homofobia, transfobia, lesbofobia e bifobia, também deve ser feito dentro do próprio movimento LGBT. “Temos que fomentar a discussão permanente de gênero. Não se discute a "LGBTfobia" sem discutir gênero”, defendeu.
Para a convidada, que também preside o Grupo Dignidade, a sociedade precisa discutir o desejo e a prática sexual: “os gays são inferiorizados porque fazem sexo com homens, são chamados de mariquinhas, mariconas. As lésbicas são mais oprimidas do que as mulheres heterossexuais, porque deixam de amar os homens para amar outras mulheres. Tudo isto é criticado em um mundo machista”.
O seminário marcou a semana em que estão instituídos os dias Internacional, Nacional e Municipal de Combate à Homofobia, 17 de maio, fazendo referência à Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde, em 17 de maio de 1990. Nesta data, o homossexualismo foi retirado da Classificação Internacional de Doenças, declarando-se que "as relações entre pessoas do mesmo sexo não constituem doença, nem distúrbio e nem perversão". O Dia Municipal Contra a Homofobia foi criado pela lei municipal 12.217/2007.
“Cumprimento o mandato da vereadora, que cumpre seu coletivo e sempre fomenta discussões voltadas aos direitos humanos. A mudança de cultura é um processo permanente. O que queremos é que tudo ande para a frente e não retroceda. Somos todos iguais, em todos os aspectos e sentidos”, destacou Paulo Salamuni (PV), que presidiu o debate, a convite de Professora Josete.
“Assumir a sexualidade é um ato político, é mostrar à sociedade que eu sou ser humano, tenho meus direitos, pago meus impostos e preciso ser respeitado”, finalizou Edvar Robson Padilha, do Coletivo Estadual de Combate à Homofobia da APP-Sindicato.
Mais presenças
Participaram do seminário Igor Martini, assessor especial de Direitos Humanos do gabinete do prefeito Gustavo Fruet; Tom Cris, presidente da Appad (Associação Paranaense da Parada da Diversidade); Maurício Pereira, coordenador municipal de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral do Paraná do Movimento Nacional da População de Rua; Douglas Alberto da Silva, da Aliança Jovem LGBT.
Também compareceram Vera Armstrong, conselheira do CRESS/PR (Conselho Regional de Serviço Social – 11ª região); Vanessa Ferreira Lang, coordenadora da Casa de Passagem Feminina e LBT (para pessoas que se identificam com o gênero feminino), da FAS (Fundação de Ação Social); Anaterra Viana, representante do Fórum Popular de Mulheres; Irene Rodrigues, da Fesmuc (Federação dos Sindicatos dos Servidores Municipais Cutistas do Paraná); e Vanderlei Martins, da Acadq (Associação Cristã de Apoio aos Dependentes Químicos).
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