Homenagem a Olavo de Carvalho ganha por um voto; 2º turno é nesta quarta
A Cidadania Honorária de Curitiba é a maior homenagem que uma pessoa não nascida na cidade pode receber da Câmara. (Fotos: Rodrigo Fonseca/CMC)
*Atualizada às 18h42 de quarta-feira, dia 5 de abril, para corrigir o número de votantes, que erroneamente antes não tinha considerado as abstenções. Corrigindo, 15 declararam voto e 7 se abstiveram, totalizando 22.
Por 8 a 7 votos, os vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) apoiaram a concessão da Cidadania Honorária de Curitiba ao filósofo Olavo de Carvalho. Para a homenagem póstuma se tornar lei, é preciso um novo resultado positivo em plenário no segundo turno, que está agendado para acontecer amanhã (5). Nesta terça (4), 15 vereadores declararam voto, 7 parlamentares se abstiveram e outros 11, que tinham respondido a chamada, não estavam em plenário na hora da deliberação (005.00308.2021).
“Viram como Olavo de Carvalho incomoda? Isso mostra a sua relevância, isso mostra a sua grandeza, isso mostra a sua contribuição para o Brasil e é uma honra para Curitiba [homenageá-lo]. Curitiba, que recebeu esse professor durante quatro anos, ele que sempre exaltou a nossa cidade, um filósofo que é reconhecido no mundo inteiro. Curitiba é uma cidade conservadora e terá a honra de ter Olavo de Carvalho como cidadão honorário. Que honra!”, disse o autor do projeto, Eder Borges (PP), durante o debate.
“Esse projeto foi feito quando ele ainda era vivo, mas ele veio a falecer durante o processo de tramitação. Fiz questão que fosse votado em abril, que é o mês de aniversário do professor. Neste mês também, a CMC, no dia 25, às 19 horas, fará um evento homenageando-o com palestras”, continuou Borges. Com ele, votaram Beto Moraes (PSD), Indiara Barbosa (Novo), Osias Moraes (Republicanos), Pastor Marciano Alves (Solidariedade), Rodrigo Braga Reis (União), Sargento Tânia Guerreiro (União) e Zezinho Sabará (União).
Professora Josete (PT) e Dalton Borba (PDT) foram os mais incisivos nas críticas à proposição, com ela afirmando que Olavo de Carvalho não deveria sequer utilizar o título “filósofo”, “porque não tem formação acadêmica”. “Curitiba é uma cidade conservadora e liberal, sim, mas ela sabe distinguir bem um conservador de um fascista. O mundo produziu muitas figuras públicas que foram uma mancha, uma excrescência na história do mundo, como Hitler. Olavo de Carvalho proferiu as maiores excrescências que uma boca humana pôde manifestar na história do mundo”, afirmou Borba.
Votaram contra a homenagem a Olavo de Carvalho, além de Josete e Dalton Borba, Giorgia Prates - Mandata Preta (PT), Herivelto Oliveira (Cidadania), Leonidas Dias (Solidariedade), Marcos Vieira (PDT) e Maria Leticia (PV). As abstenções foram de Amália Tortato (Novo), Bruno Pessuti (Pode), Hernani (PSB), Jornalista Márcio Barros (PSD), Mauro Bobato (Pode), Mauro Ignácio (União) e Sidnei Toaldo (Patriota).
Responderam a chamada, mas não estavam em plenário na hora da votação, Alexandre Leprevost (Solidariedade), Ezequias Barros (PMB), João da 5 Irmãos (União), Noemia Rocha (MDB), Nori Seto (PP), Oscalino do Povo (PP), Pier Petruzziello (PP), Professor Euler (MDB), Serginho do Posto (União), Tico Kuzma (PSD), Tito Zeglin (PDT) e Toninho da Farmácia (União). No momento da votação, Angelo Vanhoni (PT), Sabino Picolo (União) e Salles do Fazendinha (DC) não tinham presença registrada em plenário.
Diferente do comum, quando o segundo turno é a confirmação burocrática de uma opinião consolidada em plenário no primeiro turno, neste caso a configuração deixa o resultado em aberto até a conclusão da nova votação. O segundo turno acontece nesta quarta-feira (5), com transmissão ao vivo pelas redes sociais da Câmara de Curitiba no YouTube. Igual a essa sessão, é permitido acompanhar a votação das galerias internas do Palácio Rio Branco, desde que respeitada a lotação máxima.
Opiniões favoráveis
Quem mais defendeu em plenário a concessão da homenagem foi o vereador Eder Borges, que atribuiu sua carreira política a Olavo de Carvalho. “Olavo de Carvalho mudou a vida de muita gente. Quem tem contato com a sua obra passa por um processo de expansão da cabeça. Foi o que aconteceu comigo. Eu devo principalmente ao professor Olavo de Carvalho o fato de eu estar aqui hoje, porque foi isso que despertou a política em mim”, relatou o parlamentar.
“Isso aconteceu com muitas pessoas e politizou o brasileiro, o que é positivo, pois mostra o amadurecimento da democracia. Tem o preço da polarização, mas quem disse que isso é ruim? Ela faz parte do processo de amadurecimento de uma nação”, defendeu Borges. No mesmo tom, Rodrigo Reis apoiou a homenagem, afirmando que “Olavo de Carvalho sempre tentou mobilizar a direita para que trabalhassem todos juntos e teve muito sucesso em relação a isso”.
“Eu sempre participei [dessas manifestações], junto com vossa excelência [Borges], desses grandes movimentos aqui na nossa cidade, que culminou com o dia 8 de janeiro [de 2023], que foi a grande manifestação em Brasília, que nós devemos enaltecer. Hoje temos ainda 600 pessoas presas injustamente, sem terem cometido crime”, continuou o parlamentar. Depois, Reis reclamaria que, nas falas contra o projeto, os pedidos de aparte dele e de Borges foram rejeitados. “Não é só um lado que pode falar, e o vereador Eder Borges tem todo direito de expor as opiniões dele”.
Indiara Barbosa não apoiou a homenagem “in memoriam”, que constava no substitutivo geral, mas registrou voto favorável na aprovação do projeto original, sendo fundamental para a aprovação da matéria em primeiro turno. “O Olavo de Carvalho teve um papel importante em questionar a hegemonia da esquerda nas escolas e nas universidades. Eu tive oportunidade de ler livros, ver aulas dele, e ele exagerou, ficou meio doido em algumas situações. Se pegar frases isoladas do Lula, que é o nosso presidente, vai ter frases homofóbicas, machistas, inclusive falando em exterminar pessoas”, contemporizou a vereadora.
“Olavo viveu aqui de 2001 a 2005, tendo ministrado aulas de pós-graduação na PUC-PR, cursos na Associação Comercial do Paraná e teve importantes participações regulares em um programa de tevê vespertino no Canal 21, com o saudoso José Monir Nasser. Curitiba chegou a ter um Instituto Olavo de Carvalho. Ele sempre disse que encontrou aqui os seus melhores alunos, inclusive há um artigo sobre os paranaenses no começo do livro ‘O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota’”, disse Borges, justificando a homenagem.
Concluindo, o autor do projeto disse que “deve-se a Olavo de Carvalho o surgimento da direita no Brasil, logo o surgimento da democracia no Brasil, pois antes era um país de pensamento único, só tinha esquerda, e um país civilizado precisa ter os dois lados”. “Por causa do Olavo de Carvalho, foram feitas as maiores manifestações populares da história, que eu tive a honra de estar à frente desde o início, lá em 2014, e culminaram no impeachment da presidente Dilma e na eleição de Jair Bolsonaro”, rememorou.
Opiniões contrárias
Lendo o capítulo da lei complementar 109/2018, que trata da concessão da Cidadania Honorária de Curitiba, Professora Josete disse que a homenagem a Olavo de Carvalho, se fosse aprovada, não estaria abrangida pelas regras. “Eu entendo que não cumpre os requisitos legais, pois qual fato concreto ele fez em benefício da cidade? Era um escritor, cujas publicações não eram pautadas pelo conhecimento científico. Que legitimou valores antidemocráticos, levando à potencialização do ódio e das fake news”, criticou a parlamentar.
Na mesma linha, Giorgia Prates classificou Olavo de Carvalho como “um produto da pós-verdade, das fake news”, que surfou uma “onda de ódio” e se comprazia em “ser um fiscalizador da liberdade alheia, julgando e ofendendo quem pensa diferente dele”. A parlamentar atribuiu às posturas do homenageado comportamentos de hostilização que resultaram em violência. “Ele também era contra políticas sociais, que chamava de caridade oficial”, alertou a vereadora.
“Estamos perdendo um preciosíssimo tempo, quando a nossa cidade precisa discutir transporte, conflitos fundiários, fome, desemprego e desigualdade para falarmos de um sujeito fake. Um professor fake, um filósofo fake, um comentarista político fake, um mentor político fake de outro fake que foi o Bolsonaro”, disse Dalton Borba, quem, a exemplo de Josete, leu frases de Carvalho e atribuiu a elas negação da ciência, apologia ao terraplanismo e “absurdos”.
“O olavismo foi tão radical que os frutos a gente viu no 8 de janeiro [com a invasão e depredação dos prédios públicos da Praça dos Três Poderes]. Não podemos ceder a menor possibilidade a um regime autoritário, antidemocrático e discriminatório igual vimos acontecer na era Bolsonaro, instigado pelo pensamento olavista”, atacou Borba. Defendendo Olavo, Indiara Barbosa disse que muitas dessas declarações lidas em plenário foram tiradas de contexto e Borges afirmou que os ataques ao homenageado significam “não entender a dialética que ele [Olavo] usou”.
“Bancada do meme e do like”
Antes de se abster na votação do projeto de lei, Professor Euler elaborou uma crítica àquilo que ele chamou de “bancada do meme e do like”. “ A política está mudando e para muito pior. Se não houver uma reação inteligente, responsável e urgente da sociedade, em menos de uma década vai ocorrer uma completa e irrestrita pauperização cognitiva, uma idiotização em todos os parlamentos do país. Idiota, no seu significado original, do grego, era a pessoa que se ocupava simplesmente da sua vida particular e se negava a participar de temas da ordem pública”, disse.
“Esse tipo de político ignora os problemas reais da sociedade, como a fome e os baixos índices de aprendizado. Essas novas figuras políticas focam em pautas ideológicas e discussões sobre costumes. O que é mais fácil: desviar os olhares para pautas polêmicas ou trabalhar efetivamente por avanços na saúde, na educação, na segurança? Os influencers que conquistaram espaço na política, eles produzem muita informação agradável para redes sociais, mas não produzem quase nada de útil para a vida real. A título de protesto, eu me recuso a votar em pautas de costumes. Me desculpem, mas eu quero trabalhar”, posicionou-se Euler.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba