Há 40 anos em Curitiba, trabalho voluntário do CVV previne suicídios

por Assessoria Comunicação publicado 17/04/2019 14h30, última modificação 05/11/2021 09h15

Nesta quarta-feira (17), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) recebeu a visita de Ralph Carvalho Groszewicz e de Andressa Strack, ambos do Centro de Valorização da Vida (CVV), para participação na Tribuna Livre. A entidade atua no Brasil há mais de 60 anos e está prestes a completar 40 anos de atividade na capital paranaense. O convite foi feito pelo vereador Professor Silberto (MDB), que relatou ter visitado o CVV e que ficou impressionado. “Vivemos em uma sociedade em que o valor à vida vem se perdendo. O trabalho [no CVV] é feito com pessoas que estão com seu estado emocional extremamente abalado, onde o foco é a prevenção ao suicídio. Hoje, na mídia, vemos muitos casos de suicídio. Principalmente, na minha área [educação]”.

Ralph Carvalho Groszewicz apresentou alguns números. De acordo com ele, 1 milhão de pessoas morrem por ano no mundo, vítimas de suicídio. Uma morte a cada 40 segundos. No Brasil são 12 mil casos por ano, configurando 1 suicídio a cada 7 horas. Entre familiares e amigos, são mais de 120 mil pessoas que sofrem o impacto dos suicídios. De acordo com ele, a Organização Mundial da Saúde já classificou o suicídio como um problema de saúde pública. Entre os fatores que levam uma pessoa a tirar a própria vida, Groszewicz destacou pressões da sociedade, medos, humilhações, bullying, transtornos mentais e depressões.

“O processo que leva ao suicídio pode levar anos, o que possibilita a prevenção”, disse o palestrante que também informou que 90% dos casos poderiam ser evitados se houvesse políticas de prevenção, de informação e de contenção. Groszewicz informou que o CVV promove um serviço humanitário que envolve 3.500 voluntários em 110 postos de atendimento por todo o Brasil. Em 2016, a entidade recebeu autorização do Ministério das Saúde para operar o número 188 que oferece atendimento gratuito a pessoas que precisem de ajuda. Além desse canal, o CVV também atende por e-mail e no chat do site.

Groszewicz explicou que o atendimento é alicerçado em quatro elementos: crença e respeito ao ser humano, aceitação incondicional da pessoa e compreensão empática. “Em Curitiba, a CVV atua há quase 40 anos [que serão completados em janeiro próximo]. Somos 790 voluntários atendendo 24 horas por dia, 365 dias por ano. A atual sede da entidade foi doada pela prefeitura de Curitiba em 1996, durante a primeira gestão de Rafael Greca como prefeito da cidade”. Groszewicz ainda lembrou do “Setembro Amarelo”, momento em que o trabalho da CVV é divulgado no intuito de orientar a população. A data foi escolhida pois, em 10 de setembro, se registra o dia mundial da prevenção ao suicídio.

Debate
Oscalino do Povo (Pode) disse que já esteve na entidade por duas vezes e recomendou a visita a quem não conhece. Tico Kuzma (Pros) destacou que os tabus que permeiam o suicídio dificultam que a sociedade discuta o tema. Herivelto Oliveira (PPS), que é jornalista, afirmou que há um receio na mídia de que a divulgação de um suicídio possa desencadear suicídios em cadeia, mas Groszewicz negou que isso possa acontecer e destacou a necessidade da mídia falar sobre o Setembro Amarelo. Para Professora Josete (PT), todos já tiveram conhecimento de alguém próximo que tirou a própria vida. Ela perguntou sobre o aumento do suicídio entre os jovens e obteve uma resposta afirmativa por parte de Groszewicz que listou bullying e solidão como algumas das causas que motivam esses suicídios.

Maria Manfron (PP) perguntou se há casos de reincidência mesmo após a pessoa passar pelo CVV. “Devotamos todo nosso trabalho e energia naquele momento depois não temos como acompanhar”, respondeu o representante do CVV. Maria Leticia Fagundes (PV) perguntou como se dá o atendimento aos familiares dos suicidas. De acordo com Groszewicz, o CVV Comunidade disponibiliza diversas ferramentas para a sociedade, como por exemplo, os Grupos de Apoio aos Sobrevivente de Suicídio (GASS), destinado às pessoas próximas de alguém que cometeu e àquelas que tentaram o suicídio. Marcos Vieira (PDT) perguntou se a vontade suicida não pode retornar mesmo após a pessoa passar pelo CVV. Para Groszewicz “o suicídio pode acompanhar a pessoa a vida toda. Ele carece de tratamento. A maioria apresenta algum transtorno mental”.

Professor Euler (PSD), que é professor de cursinho pré-vestibular, revelou que conversa com seus alunos sobre o tema e disponibiliza o número da CVV. “São estudantes na fase do vestibular, portanto sob forte pressão emocional. Quando me dispus a conversar sobre o assunto com eles, me surpreendi com a procura”. Professor Matsuda (PDT) perguntou que tipo de trabalho pode ser ofertado aos jovens na origem do problema e teve como resposta que palestras e rodas de conversa são oferecidas nas comunidades. Osias Moraes (PRB) entende que vivemos uma desconstrução do ser humano que leva ao “afastamento do principal que é Deus”. O vereador é autor do projeto que se tornou a lei que instituiu a “Semana Municipal de Prevenção, Conscientização e Combate a Automutilação” (lei 15.084/2017).