Governo justificou a vereadores vacinação desigual entre cidades
Com a pandemia, as sessões da CMC são feitas por videoconferência. Na foto, Alexandre Leprevost. (Foto: CMC)
Municípios estarem mais adiantados que Curitiba na campanha de vacinação contra a covid-19, segundo o governo do Paraná, se deve à distribuição respeitar a proporcionalidade dos grupos prioritários em cada cidade. Foi essa a explicação que a comitiva da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), no último dia 16 de junho, ouviu do diretor-geral da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Nestor Werner Júnior. A Sesa foi oficiada pela CMC em maio, com questionamentos sobre a distribuição das vacinas (leia mais).
À frente da comitiva, Alexandre Leprevost (SD), vice-presidente da CMC, informou ao plenário o teor da reunião, na qual Werner explicou que, em algumas dessas cidades, “houve baixa procura nos grupos prioritários, daí as sobras foram remanejadas e eles avançaram [na imunização da população]”. A disparidade aumentou com alguns desses municípios utilizando a reserva da segunda dose para a primeira aplicação, conforme orientação do Ministério da Saúde que não foi adotada uniformemente no Paraná. “A tendência é que os números se equiparem”, disse Leprevost.
Noemia Rocha (MDB), que é a presidente da Comissão de Saúde, Amália Tortato (Novo) e Pastor Marciano Alves (Republicanos) acompanharam Leprevost na reunião. “A falta de diálogo entre as secretarias [estadual e municipal] reflete na população e isso me preocupa muito, pois na guerra de Poderes quem sofre é a população”, avaliou Noemia Rocha, após tecer elogios ao diretor-geral da Sesa, em quem viu um quadro técnico.
Mostrando-se convencida pela argumentação da Sesa, Amália Tortato sugeriu que a SMS, ao negociar doses com o governo estadual, pondere que a capital está imunizando moradores da região metropolitana. Também pediu que haja mais campanhas informativas sobre a vacinação, “pois há pessoas com comorbidades que não sabem que a sua doença se enquadra no rol das prioridades”. Elogiando a movimentação da CMC, Pier Petruzziello (PTB), que é líder do governo no Legislativo, repetiu que “quando tem vacina, Curitiba vacina”.
Na semana passada, enquanto os vereadores mostravam-se preocupados com o avanço da vacinação na cidade, a Prefeitura de Curitiba e o Governo do Paraná trocaram acusações, pelos telejornais, sobre a distribuição das vacinas. Hoje, em plenário, Marcelo Fachinello (PSC) saiu em defesa da gestão Rafael Greca, pedindo que o secretário da Saúde, Beto Preto, não diga “bravatas” contra a capital. Ele questionou se o gestor será candidato ano que vem, sugerindo que isso macularia justificativas de uma distribuição técnica das vacinas.
Fachinello registrou pedido de informação oficial questionando a Sesa sobre o “porquê de 191 municípios paranaenses receberem mais doses de vacinas que o município de Curitiba, em números proporcionais às populações de cada cidade aptas à imunização?” (074.00018.2021). Outro questionamento, de Carol Dartora (PT), pergunta à Sesa dados sobre os imunizantes e quantas doses da Pfizer foram destinadas à capital (074.00019.2021).
Meio milhão de mortos
Solenemente,ao final da sessão, o presidente da CMC, Tico Kuzma (Pros), dedicou um minuto de silêncio aos 500 mil pessoas que faleceram em decorrência da covid-19 no Brasil desde o início da pandemia. Durante a sessão, Amália Tortato (Novo), Carol Dartora (PT), Noemia Rocha (MDB), Alexandre Leprevost (SD), Serginho do Posto (DEM), Pier Petruzziello (PTB), Herivelto Oliveira (Cidadania), Dalton Borba (PDT) e Sidnei Toaldo (Patriota).
“Foram 500 mil sonhos interrompidos. Tenho certeza que todos perderam alguém [para a covid-19]”, comentou Amália Tortato, queixando do papel do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento da pandemia no Brasil. “[Ele] tem uma comunicação desalinhada da ciência, que desinforma, que promoveu tratamento que não funciona, desincentivou o uso de máscaras e incentivou aglomeração. Conheço pessoas deixando de se vacinarem por conta da postura do presidente”, desabafou.
Herivelto Oliveira lembrou que, nas 500 mil famílias atingidas pela pandemia, há 30 mil paranaenses e 6 mil curitibanos que perderam a vida. Após se mostrar sensibilizado e se solidarizar com as vítimas, o vereador fez um pedido para as pessoas redobrarem os cuidados. “Ainda não temos uma redução significativa no número de casos [com a vacinação]. Quero fazer um apelo aos jovens. Até setembro, ninguém está seguro”, disse, referindo-se ao prazo dado pelo governador Ratinho Júnior para a aplicação da primeira dose em toda a população adulta.
“Eu lamento muito esse novo recorde que a gente bateu no Brasil. Cada morte é sentida pelos familiares, pelos amigos. Com isso, esse número sobre para 5 milhões, 50 milhões de pessoas atingidas [pela pandemia]”, calculou Dalton Borba, alertando para o dano que a notícia de um conhecido contaminado causa no seu entorno. Referindo-se ao governo federal, disse que “o Brasil está à deriva, estamos jogados à sorte”. “Precisamos nos preservar e evitar as exposições desnecessárias”, pediu Sidnei Toaldo, visivelmente abalado pela morte recente do cunhado, em decorrência da covid-19.
Crítica às inaugurações
“Todo mundo está revoltado, triste e cansado. Eu perdi o meu melhor amigo, até hoje choro a morte dele. Mas desqualificar o trabalho do prefeito neste momento não é razoável. Não podemos privar as pessoas das boas notícias”, disse Pier Petruzziello, em resposta às críticas de Carol Dartora ao comportamento do prefeito Rafael Greca durante inaugurações recentes da Prefeitura de Curitiba.
“No Memorial Paranista, promoveu aglomeração. Na trincheira da Mário Tourinho, disse que seu coração estava exultando de alegria. Enquanto Curitiba está em luto, o coração do prefeito exulta de alegria. A sensibilidade dele é zero”, afirmou Dartora, criticando, por exemplo, aparecerem operários na inauguração da trincheira sem os equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados, que a vereadora defendeu serem máscaras PFF2.
Petruzziello disse que o Partido dos Trabalhadores faz um “ataque sistemático ao prefeito de Curitiba”. “Não temos mais o direito de sorrir. Vai inaugurar uma trincheira e tem que chorar. Vou ligar para o prefeito Rafael Greca e dizer ‘não sorria mais’, pois o senhor precisa chorar mais em público”, ironizou, chamando o discurso da vereadora de “demagógico”. Depois Carol Dartora, sobre a defesa do prefeito, argumentou que “ninguém é inquestionável” e que os operários estavam sem EPIs numa obra pública.
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