Exame de creatinina é barato e previne doenças renais, alerta Tribuna Livre

por Fernanda Foggiato | Revisão: Ricardo Marques — publicado 13/03/2024 15h50, última modificação 13/03/2024 15h55
Dia Mundial do Rim: acesso de toda a população ao exame de creatinina pautou debate na Tribuna Livre da Câmara de Curitiba.
Exame de creatinina é barato e previne doenças renais, alerta Tribuna Livre

Com camisetas do Dia Mundial do Rim, Paulo Henrique Fraxino e René Santos Neto posaram com vereadores de Curitiba. (Foto: Carlos Costa/CMC)

“Talvez a melhor ferramenta que nós temos hoje de prevenção [às doenças renais] seja a creatinina”, salientou o médico Paulo Henrique Fraxino, presidente da Sociedade Paranaense de Nefrologia. Nesta quarta-feira (12), véspera do Dia Mundial do Rim, ele foi o convidado da Tribuna Livre da Câmara Municipal de Curitiba (CMC). Por proposição da vereadora Maria Leticia (PV), o espaço democrático de debates da instituição teve como tema “Saúde dos rins e exame de creatinina para todos: porque todos têm o direito ao diagnóstico e acesso ao tratamento”.

“O Dia Mundial do Rim foi instituído em 2006, a partir de uma iniciativa da Sociedade Internacional de Nefrologia e da Federação Mundial das Fundações do Rim. A preocupação dessas duas instituições era um número crescente de pacientes portadores de doença renal que precisavam de diálise e, mais ainda, que havia uma grande parte da população com doença renal sem diagnóstico”, explicou Fraxina. A data é comemorada na segunda quinta-feira do mês de março e a campanha, hoje, reúne mais de 160 países.

“Todos os anos, um tema é proposto. E o tema desse ano é a saúde dos rins com o exame de creatinina para todos, porque todos têm o direito ao diagnóstico e acesso ao tratamento”, continuou o convidado da Tribuna Livre. “Cerca de 850 milhões de pessoas no mundo têm algum nível de disfunção do rim e não sabem. Cerca de 20 milhões de brasileiros têm doença renal e desconhecem. No Paraná, [o número é de] 1,2 milhão de pessoas e em Curitiba, em torno de 170 mil pessoas podem ter alguma alteração da função do rim sem saber.”

Ou seja, a estimativa é que de 80% a 85% das pessoas com alguma doença renal desconheçam o diagnóstico, por se tratar de uma doença silenciosa. “É uma doença fantasma, é uma doença que, quando traz sintomas, muitas vezes, ela já evoluiu de forma bastante grave, sem a possibilidade de reversão”, alertou.

“O que nos chama a atenção é que as doenças mais incidentes e prevalentes, que levam à disfunção renal, são a hipertensão arterial e a diabetes”, observou o médico nefrologista. Sem o diagnóstico precoce, o paciente pode precisar de tratamento de diálise de emergência, de transplante renal, ocupar leitos de UTI e sobrecarregar os sistemas de saúde de todo o mundo. Até 2030, de acordo com Fraxino, as doenças renais devem corresponder à quinta causa mundial de óbitos.

Exame de creatinina é barato e pode derrubar números da doença renal

O presidente da Sociedade Paranaense de Nefrologia argumentou que o exame de creatinina, “uma dosagem sanguínea desse metabólico, na tabela do SUS [Sistema Único de Saúde], custa R $1,85”. “Ou seja, esse exame, se feito de forma rotineira, pode mudar a situação e os números da doença renal no país e no mundo”, defendeu. 

O ideal é que a coleta seja feita anualmente. “Enfatizando que nas populações de risco, nos hipertensos e diabéticos, essa medição pode ser reduzida para semestralmente ou trimestralmente, de acordo com a evolução da doença renal”, indicou o orador da Tribuna Livre da Câmara de Curitiba. 

No entanto, segundo pesquisa publicada no Jornal Brasileiro de Nefrologia, 40% das pessoas entrevistadas nunca haviam dosado a creatinina. “Nos países desenvolvidos, [...] o gasto com o tratamento da doença renal dos pacientes transplantados em diálise pode atingir até 3% do orçamento dedicado à saúde”, acrescentou Fraxino. “Nós temos em torno de 1,6 mil pacientes em diálise em Curitiba cuja fonte pagadora é o SUS.” 

Na saudação ao orador da Tribuna Livre, Maria Leticia também destacou a importância do exame de creatinina para todos. A vereadora, que é médica, apresentou o currículo de Paulo Henrique Fraxino. Graduado em Medicina pela Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (Fempar), em 1992, ele se especializou em Nefrologia, entre 1993 e 1996. É fundador da Clínica Renal Iraty, “um centro de referência para o tratamento de hemodiálise, diálise peritonial e litotripsia no centro-sul do nosso estado”.

Como secretário da Sociedade Paranaense de Nefrologia, coordenou no Paraná, entre 2021 e 2022, o registro brasileiro para a eliminação da hepatite C nas unidades de hemodiálise. Foi eleito para presidir a entidade no biênio 2023/2024 e compõe a Câmara Técnica de Nefrologia do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR).

Durante o debate com o convidado, os vereadores Alexandre Leprevost (Solidariedade), Bruno Pessuti (Pode), Marcelo Fachinello (Pode), Marcos Vieira (PDT), Professora Josete (PT), Rodrigo Reis (União), Sargento Tânia Guerreiro (sem partido), Serginho do Posto (sem partido), Sidnei Toaldo (PRD) e Tico Kuzma (PSD) questionaram Fraxino sobre questões como a prevenção e o tratamento das doenças renais. Vice-presidente da Sociedade Paranaense de Nefrologia, René Santos Neto também acompanhou a Tribuna Livre desta manhã.

O que é a Tribuna Livre da Câmara de Curitiba?

A Tribuna Livre é o canal de interlocução entre a sociedade e os vereadores de Curitiba. Os temas são de livre escolha, sugeridos pelos próprios parlamentares. As falas servem, por exemplo, para a prestação de contas e a apresentação de uma campanha de conscientização.  

Conforme o Regimento Interno (RI) do Legislativo, as Tribunas Livres ocorrem nas quartas-feiras, durante a sessão plenária, após o espaço do pequeno expediente. Em 2023, foram realizados mais de 30 debates, recorde dos últimos 10 anos.