Ex-presidente da Funai é o convidado na Tribuna Livre

por Assessoria Comunicação publicado 20/04/2005 19h45, última modificação 21/05/2021 11h22

"O índio precisa ser índio." A afirmação é do ex-presidente da Funai, Carlos Frederico Marés de Souza Filho, ao falar sobre a dificuldade de estabelecer políticas públicas indígenas no Brasil, durante a tribuna livre desta quarta-feira (20), em comemoração ao Dia do Índio, na Câmara Municipal de Curitiba. A iniciativa atendeu convite do vereador Valdenir Dias (PTB).
Segundo Marés, que também é advogado, "a política pública indígena é a mais complicada de se estabelecer porque precisa respeitar dois itens: resolver o problema territorial e dar atenção à cada grupo". Na opinião do advogado, é necessário respeitar a tradição indígena.
Terra
Outro ponto ressaltado foi a questão da demarcação de terra dos índios que vivem na divisa de Curitiba com São José dos Pinhais. O grupo, formado por 32 pessoas, está no local temporariamente, esperando por uma demarcação de terra. O cacique Carlos Alberto Luiz dos Santos, presente na ocasião, fez um apelo aos vereadores, solicitando que a Câmara intervenha, promovendo reuniões e levando a questão ao prefeito Beto Richa. "Curitiba acolhe tantas etnias por que não acolher os índios?", questionou o líder indígena, que também está na área. O 1º vice-presidente da Casa, Jair Cézar (PTB), assegurou que o problema será encaminhado ao presidente, vereador João Cláudio Derosso (PSDB). O vereador Tito Zeglin (PDT) anunciou que, dia 28, às 17h, o secretário estadual da Educação, Maurício Requião, irá se reunir com o cacique para definir estratégias de educação para as crianças, já que na área os índios estão sem escola.
"O maior problema indígena é terra porque, na metade do século, eles achavam que a demarcação não era importante. Com isso, acabaram sendo estrangulados", afirmou Marés de Souza.
"É necessário que os povos indígenas integrem as decisões que afetam o nosso sistema de vida, como conquistas a determinados direitos, e não apenas concessão de quem quer que seja, assegurando a identidade individual, coletiva e inclusive a cultural", opinou Valdenir Dias.
O advogado também apresentou aos vereadores dados sobre o cenário indígena no Paraná e no Brasil. Hoje, no Estado, vivem aproximadamente dez mil índios das tribos guarani, caingangue e xetá, em quatro áreas limitadas. No País, são 14 áreas demarcadas. O decreto de homologação da Terra Raposa do Sol, no Amazonas, foi visto com bom olhos por Marés. Depois de dez anos de espera, 15 mil índios foram assentados.
Xetá
A extinção da tribo Xetá também foi alvo de debate. Há 60 anos, o grupo foi exterminado, quando da colonização no Oeste paranaense. Existem, ainda, cerca de 10 remanescentes da etnia.
O vereador Angelo Batista (PP) finalizou o encontro recitando a trova "Índios do Brasil", de sua autoria.