Em sua 10ª edição, Inspirações Curitibanas homenageou 19 mulheres
Prêmio Inspirações Curitibanas, de iniciativa da vereadora Maria Letícia, chega à 10ª edição homenageando 19 mulheres. (Fotos: Carlos Costa/CMC)
Nesta sexta-feira (21), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) realizou a 10ª edição do prêmio Inspirações Curitibanas, honraria criada pela vereadora Maria Leticia (PV), que presidiu a solenidade. A ideia, segundo ela, é homenagear mulheres que, por meio de suas ações em áreas diversas, como a empresarial, a educacional e a artística, geram inspiração para toda a sociedade, em especial, para outras mulheres.
Compuseram a mesa Vitória Catto, acadêmica de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR), integrante da juventude do Partido Verde e ativista em políticas de inclusão, acessibilidade e direitos da mulher no PV Mulher; Fernanda Moura, vice-coordenadora do curso de bacharelado e licenciatura em Enfermagem da UFPR e professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPR; Will Amaral, professora, pedagoga, promotora legal popular, presidente do Instituto Afro-Brasileiro do Paraná e idealizadora da Feira Afro da Zumbi e do Festival Afro de Curitiba; e Claudia Juliane Pacheco de Oliveira Ramos, relações públicas, mestre em Comunicação pela UFPR e proprietária, desde 2016, da casa A Tenda, destinada a trocas femininas.
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Lutar por direitos novos e os já conquistados
Maria Leticia iniciou sua fala dizendo que a realização da 10ª edição do prêmio Mulheres Inspiradoras é um momento de felicidade. “Criei essa homenagem com o objetivo de exaltar mulheres poderosas e empoderadas. É á décima edição em quatro anos, mas a cada vez o evento se torna mais lindo e melhor”, disse a vereadora. Ela destacou que já homenageou mais de 200 mulheres e que quer continuar com essa iniciativa.
Maria Leticia lembrou que esta edição tem por tema “Mulheres de Luta”, o que no entendimento da vereadora é quase um pleonasmo, se forem levadas em consideração as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no Brasil. “A cada 40 minutos, em nosso país, uma mulher é estuprada. Aqui em Curitiba, no último ano, tivemos 6 mil casos de mulheres abusadas”, mencionou a parlamentar. “Muitas vezes precisamos lutar por novos direitos, mas há situações em que devemos lutar pela manutenção de direitos que já são nossos, como vimos em relação ao projeto 1904/2024, cuja discussão em Brasília e no resto do país todos puderam acompanhar”, mencionou Maria Leticia.
Para a parlamentar, é necessário que mulheres ocupem espaços, principalmente espaços de poder e decisão. “Porque hoje”, enfatizou a vereadora, “a violência contra a mulher não está restrita à importunação sexual, ao estupro e outras ações dessa natureza. A violência avançou para a política e nós a chamamos de ‘violência política de gênero’, que se caracteriza como todo e qualquer ato para excluir a mulher do espaço político ou impedir seu acesso ou, até mesmo, para forçar a mulher a tomar decisões que contrariem sua vontade”. Maria Letícia disse que as mulheres sofrem violências quando se candidatam, quando se elegem e quando estão no exercício de seu mandato.
Na violência política de gênero, quem perde é a democracia
“Eu digo isso porque são as mulheres que propõem ideias com o objetivo de proteger outras mulheres. Vou dar exemplos entre de propostas que eu mesmo fiz, como a do projeto que protege as mulheres em relação à violências cometidas em bares, restaurantes e no transporte coletivo (lei municipal 15.590/2020), que ficou conhecida como ‘Lei Drink Maria da Penha’, e o projeto que combate a importunação contra mulheres dentro dos ônibus (lei municipal 15.883/2021). Será que os homens pensariam em propostas como essas, ligadas à segurança e à saúde das mulheres?” questionou a vereadora
De acordo com ela, mulheres eleitas são pouco indicadas para a presidência de comissões. Ela também apontou o fato de que mulheres parlamentares são vítimas de interrupções que, em alguns casos, chegam, a questionar sua própria aparência física ou seu vestuário. “Somos questionadas sobre questões pessoais, sobre nossas escolhas, sobre a sexualidade e a maternidade e até sobre o que fazemos nos finais de semana”, declarou a vereadora, que concluiu dizendo que na violência política de gênero, quem de fato sai perdendo é a democracia.
Defender o aborto legal é defender a saúde pública
“Acredito que mudamos a sociedade por meio de exemplos. Somos nós que educamos nossos filhos e eles deveriam compreender a importância do papel feminino na sociedade”, disse Fernanda Moura. No entendimento da vice-coordenadora do curso de bacharelado e licenciatura em Enfermagem da UFPR, a valorização das mulheres é uma forma de se atingir uma sociedade mais justa e cidadã. “Nos últimos dias, fomos atacadas no congresso por aqueles que querem nos imputar penas superiores às penas previstas para autores de estupros. Defender o aborto legal é defender a saúde pública”, afirmou.
Fernanda exerceu a enfermagem por 14 anos no Sistema Único de Saúde (SUS), em uma unidade de saúde do trabalhador, onde disse ter testemunhado trabalhadores e trabalhadoras adoecidos pela exploração do trabalho em suas diversas formas. “Eram, em sua maioria, os menos favorecidos que não podiam se afastar de suas atividades laborais para tratar da saúde”, observou Fernanda, que acrescentou o fato de que as mulheres ocupam 88% das vagas de trabalho na área de enfermagem.
“Empresários da saúde, em sua maioria médicos, donos de hospitais e planos de saúde, separaram a lei do piso salarial da carga horária de 30 horas em uma manobra no Congresso, e, depois, com apoio do próprio Supremo Tribunal Federal (STF), reduziram o salário, atrelando-o a uma jornada inexistente para a enfermagem, de 44 horas semanais, o que contraria uma luta de mais de 30 anos da categoria”, disse a professora de Enfermagem. Fernanda Moura concluiu esclarecendo que a atual greve do setor, que já dura dois meses, busca recursos orçamentários e melhores condições salariais para a docência em seus três pilares: ensino, pesquisa e extensão.
Mulheres são a maioria do eleitorado, mas são minoria em cargos de poder
Will Amaral agradeceu à vereadora Maria Letícia. “É uma emoção saber que você consegue ter esse olhar de reconhecimento”, disse. A professora, pedagoga, promotora legal popular, presidente do Instituto Afro-Brasileiro do Paraná e idealizadora da Feira Afro da Zumbi e do Festival Afro de Curitiba parabenizou a vereadora pelo trabalho de fortalecimento da causa feminina, “que faz com que nos sintamos mulheres de fato, aguerridas e poderosas”.
Acadêmica de Nutrição da UFPR, integrante da juventude do Partido Verde, Vitória Catto disse que as mulheres representam a maioria do eleitorado, mas são minoria nos cargos de poder. “Mas nem por isso ficamos quietas, fazemos barulho e lutaremos até onde for preciso para ter nosso direitos garantidos”, afirmou. A relações públicas Claudia Juliane Pacheco de Oliveira Ramos lembrou que já foi homenageada no ano passado e disse ser gratificante estar presente apoiando a 10ª edição do Prêmio Inspirações Curitibanas. “Todas nós, cada uma em sua área, também fazemos política”, concluiu a mestre em Comunicação pela UFPR e proprietária da casa A Tenda.
Mulheres que poderiam estar aqui, mas tiveram suas vidas interrompidas
Todas as homenageadas se manifestaram após o recebimento de seus diplomas, entre elas, Allana Marques Schrappe, da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da OAB-PR. “Vim do Maranhão e consegui ter espaço numa área normalmente dominada pelos homens, que é a do Direito Penal. Devo isso a outras mulheres, como minha mãe, que criou três meninas na cidade de São Luis, durante anos 1980, uma sociedade extremamente machista. Mesmo com a presença do meu pai, foi difícil para ela. Dedico à minha mãe este prêmio e também às mulheres, em sua maioria, pretas e pardas, que foram encarceradas em razão da política de drogas”, disse Allana.
Caroline Filla Rosaneli, coordenadora do Mestrado de Bioética da PUC-PR, agradeceu à vereadora Maria Leticia por dar voz às mulheres e à Pontifícia Universidade Católica do Paraná, onde atua profissionalmente há 20 anos. “A bioética faz parte da minha história. São, até agora, mais de dez anos de luta em prol das populações vulneráveis”, disse ela. “Tenho muito orgulho de estar hoje nesta homenagem e lamento por todas as mulheres que também poderiam estar aqui, mas tiveram suas vidas interrompidas”, afirmou Caroline.
Representadas nos livros como a esposa, a dona de casa
Giovana Madalosso, escritora e autora dos livros A teta racional, Tudo que pode ser roubado, Altos e Baixos e Suíte Tóquio, agradeceu a vereadora e a parabenizou pela coragem por trabalhar na política. “Sou uma feminista há muitos anos e o nascimento da minha filha me tornou ainda mais, pois me questionei em que mundo eu a estava colocando”, disse. Ela contou que, há dez anos, quando publicou seu primeiro livro, 80% das publicações eram assinadas por autores homens. “As mulheres eram representadas nos livros como a esposa, a dona de casa, a amante, a empregada e outras figuras de natureza doméstica. Como a gente vai encampar essa luta se não nos reconhecemos na literatura e nas artes em geral?” perguntou Giovana.
“Falo em nome das de todas as trabalhadoras que lutam por dignidade, por condições de trabalho e para que o lucro não esteja acima de suas próprias vidas”, Patrícia Carbonal, secretária de Saúde do Sindicato dos Bancários de Curitiba, conselheira da Economia Solidária em São José dos Pinhais e voluntária da ONG Reviver, que atende pessoas em situação de rua. “Também sou a voz da comunidade LGBTQIA+ e quero prestar homenagem ao Oziel Branques dos Santos, que foi brutalmente assassinado defendendo pessoas de ataques homofóbicos no dia 16 de junho”. Ela encerrou sua fala frisando a importância de mais mulheres em espaços de poder.
Veja fotos da sessão solene no Flickr da CMC
Homenageadas
Alice Magrit Mariano Pereira Barbosa, liderança comunitária
Allana Schrappe, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR
Caroline Filla Rosaneli, coordenadora do Mestrado de Bioética da PUC-PR
Daiane Da Luz, advogada
Gabriella Gaspar Pellegrini, dentista do projeto Mulheres A Fio
Giovana Madalosso, escritora
Isabella Lanave, fotógrafa
Marianna Ferraz Moreira, área da cultura
Mariana Zanette, área da cultura
Marta Luciane Fischer, pesquisadora
Melina Mulazani, área da cultura
Patricia Carbonal, sindicalista
Priscila Facina Monnerat, área da agroecologia
Sandra Dolores de Paula Lima, do Instituto Fenix
Stella Titotto Castanharo, historiadora
Stéphanie Santana, enfermeira canábica
Tailaine Cristina Costa, do Instituto De/Por/Para Mulheres
Uyara Torrente, área da cultura
Valquiria Elita Renk, bioética da PUC-PR
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