Em plenário, vereadores fazem desagravo às igrejas evangélicas
Pastor Marciano Alves abriu o debate, logo no começo da sessão, classificando a fala de Renato Freitas como “agressiva” em relação “ao trabalho brilhante da igreja". (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
Nesta quarta-feira (17), vereadores de Curitiba usaram diferentes espaços da sessão plenária para fazerem um desagravo às igrejas evangélicas e defenderem a liberdade de religião. Pastor Marciano Alves (Republicanos), Ezequias Barros (PMB), João da 5 Irmãos (PSL) e Denian Couto (Pode) criticaram as declarações feitas por Renato Freitas (PT), que no dia 10 de fevereiro, durante o debate sobre o acolhimento de menores em comunidades terapêuticas, teria associado o trabalho destas entidades à sustentabilidade financeira das instituições religiosas.
Ao informar à Freitas que representa mais de 100 igrejas pequenas, médias e grandes da capital que, antes da sua eleição, não tinham representação na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), Ezequias Barros afirmou que o discurso do colega “constrangeu muita gente”, foi um “ataque preconceituoso à igreja” e representa desconhecimento do trabalho das igrejas e das comunidades terapêuticas. Além disso, orientou ao parlamentar que se refira à ele como vereador e não citasse a palavra “pastores” de forma pejorativa. “Para minha igreja eu sou pastor sim. Com muita honra foi me dada essa condição”, completou o vereador do PMB.
Pastor Marciano Alves e Denian Couto lembraram que a liberdade de crença e religiosa estão garantidas pela Constituição Federal de 1988 e tratados internacionais, como o Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos - CADH), de 1969, que entrou em vigor no Brasil em 1992. “Todo e qualquer ataque, toda e qualquer forma de preconceito à liberdade de crença e religiosa é um comportamento que acaba por violar aquilo que devemos nos orgulhar, de sermos um país plural, fundado no regime das liberdades. Um ao brilhante da igreja aqui em Curitibataque como esse diminui a Casa, diminui o que a Câmara [de Vereadores] é: que representa um conjunto da sociedade, independente de qual religião for”, posicionou-se Couto.
“A instituição religiosa é uma instituição séria, constituída por Deus. Temos respaldo da nossa Constituição. A própria Constituição vê e enxerga esse direito. Exigimos respeito em relação à igreja, que faz seu papel com dignidade, com excelência”, declarou Marciano Alves, ao classificar a fala de Renato Freitas como “agressiva” em relação “ao trabalho brilhante da igreja aqui em Curitiba”. “Precisamos de respeito nesta Casa. O Estado é laico, temos que respeitar isso, mas também é preciso coerência e respeito no debate”, emendou João da 5 Irmãos, ao também repudiar as declarações de Freitas.
Declarações reforçadas
Em resposta, Renato Freitas disse que, mesmo sendo cristão – afirmação já dada por ele na semana passada –, não tem problemas em “fazer enfrentamento às pequenas igrejas, grandes negócios, como nos diz o pastor Ezequias”. Ele criticou o que chama de “teologia da prosperidade” que, segundo ele “indica que aquele que tem dinheiro é que é agraciado por Deus e que aquele que sofre em miséria, sem casa, sem condições dignas de vida, está em pecado”.
“Essa Casa não é uma Casa de discussão religiosa. O que iniciou essa discussão foram as comunidades terapêuticas. E elas receberam R$ 300 milhões pelo Ministério da Cidadania em 2020, sem especializações, dispensando estrutura necessária, com muitos relatos de violência, tortura e discriminação. Enquanto que os CAPS [Centro de Atendimento Psicossocial], equipamentos públicos de qualidade, receberam R$ 150 milhões. É disso que trata e é disso que deve se tratar uma discussão na Câmara”, completou Freitas.
Terceiro dia consecutivo
Só nesta semana, este foi o terceiro dia consecutivo em que diferentes vereadores fizeram desagravos às igrejas e criticaram as declarações do vereador do PT. Na segunda-feira (15), além de Ezequias Barros, Osias Moraes (Republicanos) disse que as palavras de Freitas incentivam o preconceito contra os cristãos; e Sargento Tânia Guerreiro (PSL) pediu que os parlamentares visitem as igrejas, para entender o trabalho social que elas realizam. Já na terça-feira (16), Moraes novamente voltou a se posicionar sobre o tema e foi seguido por Noemia Rocha (MDB), que justificou que a maioria das comunidades terapêuticas está ligada às igrejas porque o “poder público não tem dinheiro” para fazer este tipo de atendimento, “não tem competência para tratar esses jovens”.
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