Educação inclusiva não é um destino; é um processo, dizem especialistas
"Educação Inclusiva no Chão da Escola" foi o tema da audiência pública promovida pela Câmara de Curitiba nesta quinta-feira (21), Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência. A iniciativa do encontro foi do vereador Professor Silberto (PMDB) e contou com a presença de especialistas na área que falaram sobre suas experiências e expectativas para uma constante evolução do atendimento a pessoas com deficiência. O evento foi realizado à noite, no auditório do anexo 2.
Silberto pontuou que na sua experiência pôde constatar alguns desafios como o de aproximar a família da escola. Ele comentou sobre um período de 20 anos em que atuou como diretor do colégio Teobaldo Leonardo Kletemberg. "Lá pudemos realizar algumas obras de acessibilidade. A escola obteve prêmios como o de quarta melhor gestão de escolas do estado e o Prêmio Professor Brasil".
O parlamentar lembrou que o Poder Público tem o dever de promover a educação inclusiva, previsto no Estatuto da Pessoa com Deficiência (incisos XV e XVI do artigo 28 da lei 13.146/2015): "acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar; e acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da educação e demais integrantes da comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às atividades concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de ensino".
“Contínua evolução”
“Educação inclusiva não é um destino final, mas sim um processo em contínua evolução”, acredita a professora Leomar Marchesine, coordenadora do Serviço de Inclusão e Atendimento aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (SIANEE) no grupo UNINTER. "Comecei na educação inclusiva em 1992, na companhia do professor Elias Abraão, que foi secretário estadual de educação. Fui chefe do Departamento de Educação Especial (DEE) e posso dizer que se alguém apoiou a educação especial, esse alguém foi Elias Abraão". Ela expôs que foi incumbida, à época, por ele, do atendimento dos alunos com distúrbios emocionais. “O Paraná foi pioneiro."
"Posteriormente fui para a UNINTER, para o programa de inclusão. Naquela época era muito raro uma pessoa com deficiência chegar ao nível superior. Foi criado o SIANEE e hoje temos aproximadamente 500 alunos em todo o Brasil". O serviço atende, segundo a professora, alunos com diversas deficiências, como motora, visual, auditiva, intelectual, transtornos globais do desenvolvimento e a superdotação. "Nós trabalhamos com a promoção das condições adequadas para que pessoas com deficiência e outras diversidades possam realizar seus cursos no nível superior de educação com pleno proveito dos conteúdos do programa", esclareceu.
“Fenômeno da pseudoinclusão”
A professora Orliney Maciel Guimarães, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), apresentou um trabalho sobre as Necessidades Formativas para Inclusão de Alunos com Deficiência Visual nas Aulas de Química". "Trata-se de um trabalho de mestrado de uma aluna, a Tatiane Estácio de Paula, que se refere à química, mas poderia ser estendido para ciências em geral".
Orliney esclareceu que, segundo o estudo do mestrado, há um despreparo das instituições de ensino, um despreparo para o trabalho com a diversidade, há insuficiências na formação docente e falta de materiais e recursos adequados. A somatória desses fatores resulta no "fenômeno da pseudoinclusão", em que estar matriculado e frequentando a classe regular não significa estar envolvido no processo de aprendizagem.
De acordo com Orliney o trabalho apontou 11 necessidades formativas no ensino de química para deficientes visuais: conhecer os propósitos da educação inclusiva; conhecer as políticas públicas e o contexto histórico da educação especial inclusiva; conhecer os recursos que auxiliam no aprendizado dos alunos com deficiência; conhecer as deficiências; saber realizar a adaptação/flexibilização curricular; saber avaliar; saber trabalhar em equipe; conhecer sobre a deficiência visual do aluno; saber vincular os conceitos químicos através de representações que não dependam estritamente da visão; saber trabalhar com a linguagem matemática; e saber realizar atividades comuns aos alunos com e sem deficiência.
Escolas estaduais
Eliana Terra, que faz parte do Núcleo Regional de Educação de Curitiba - Setor de Educação Especial, explicou as ações inclusivas do ensino estadual. "Professor Silberto comentou que os professores não estão preparados para lidar com a educação inclusiva, mas eu digo que os pais também não estão", disse a professora, que é mãe de uma menina com deficiência. "Isso me motivou a ingressar no ensino inclusivo."
De acordo com a educadora, no Estado a inclusão é relativa às deficiências de natureza intelectual, física neuromotora, auditiva, visual, altas habilidades - superdotação, transtornos globais do desenvolvimento e SAREH Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar. Para tanto, o Estado conta com alguns profissionais como o Professor de Apoio Educacional Especializado (PAEE), que lida com os alunos autistas ou que têm a síndrome de Asperger; o Professor de Apoio à Comunicação Alternativa (PAC), que lida com os estudantes que têm dificuldades de se comunicar; o Auxiliar Operacional, um agente que ajuda fora de sala de aula, caso o aluno precise usar o banheiro, por exemplo; e o Tradutor e Intérprete de Libras/Língua Portuguesa (TILS).
Também é oferecida a chamada Sala de Recursos Multifuncionais (SRM). Segundo Eliana, as áreas atendidas na SRM são a deficiência intelectual; a deficiência física neuromotora; os transtornos globais do desenvolvimento; o autismo clássico, a síndrome de Asperger; a síndrome de Rett; e o transtorno desintegrativo da infância (psicose e transtornos invasivos sem outra especificação). De acordo com a definição do Ministério da Educação e Cultura (MEC), a sala de recursos multifuncionais (SRM) "é uma oferta de natureza pedagógica que complementa e/ou suplementa a escolarização no ensino comum na rede pública estadual de ensino para formação de estudantes com vistas à autonomia e independência dentro e fora da escola". Das 167 escolas estaduais situadas em Curitiba, 94 são dotadas de SRM. São ao todo 170 professores especializados para um total de 2.020 alunos atendidos.
Professor Silberto informou que a secretária municipal de Educação, Maria Silvia Bacila, foi convidada a participar, mas nenhum representante da prefeitura esteve presente. Ao término do evento, as componentes da mesa foram presenteadas com exemplares do livro "Artur, uma criança excepcional", de autoria da professora Eliane Vieira dos Santos.
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