Dona Lourdes: "fiquei viúva e meti a cara na política"

por Assessoria Comunicação publicado 10/03/2015 16h55, última modificação 29/09/2021 10h20
“O meu marido nunca gostou muito. Depois que eu fiquei viúva, eu meti a cara na política”. A frase é de Dona Lourdes (PSB), em entrevista sobre sua visão da participação feminina na política. Com 88 anos, ela é a vereadora mais idosa da Câmara de Curitiba. A idade, entretanto, não significava que a parlamentar é uma decana. Quando foi eleita pela primeira vez ao cargo, ela tinha 77 anos.

Segundo Dona Lourdes, ela só entrou para a vida pública após o falecimento do marido. O motivo fica explicado na frase que abre este texto: ele nunca a apoiou quando se tratava do assunto. Para a vereadora, esta é uma das dificuldades enfrentadas pelas mulheres que querem se filiar a um partido ou até mesmo encarar a disputa por uma vaga nas eleições municipais ou gerais.

Câmara Municipal de Curitiba: Mais da metade do eleitorado brasileiro é feminino, mas nas eleições gerais de 2014, apenas 28,9% dos 22,3 mil candidatos eram mulheres. No pleito de 2012, apenas cinco vereadoras foram eleitas (de um total de 198 mulheres que concorreram ao cargo). Como a vereadora avalia a situação? Por que a mulher não participa tanto da política quanto se espera?

Dona Lourdes: As mulheres têm dificuldade em entrar para a política, com o cuidado com a família, por exemplo. Tenho 88 anos e sempre foi assim. Sempre houve poucas mulheres na política, porque esta sempre foi comandada por homens. Agora é que as mulheres estão se conscientizando de que podem participar da política.

CMC: A vereadora acredita que a baixa participação feminina na política leva as eleitoras a votarem mais em candidatos e não em candidatas?  

DL: Não acredito nesta afirmação. As mulheres votam em candidatas também. De alguns anos para cá, as mulheres também atuam na política. Fui eleita vereadora pela primeira vez com 77 anos.

CMC: Por que demorou tanto tempo para entrar na vida pública?

DL: Eu trabalhei 43 anos em uma empresa, mas sempre gostei de política porque a empresa pertencia a um deputado federal. Ele esteve no cargo durante quase 20 anos e como funcionária sempre trabalhava na campanha política. Só que o meu marido nunca gostou muito [da política]. Depois que eu fiquei viúva, eu meti a cara.

CMC: A vereadora consegue apontar fatores que impedem a mulher de se filiar a um partido ou até mesmo se candidatar a um cargo eletivo?

DL: Muitas vezes a mulher tem filhos pequenos para cuidar e não tem apoio da família. Entretanto, acredito que a situação é bem melhor hoje do que décadas atrás. Elas participam mais e ainda são reconhecidas politicamente.

CMC: A vereadora citou a falta de apoio em casa. E dentro do partido? A mulher recebe menos apoio que o homem?

DL: É difícil responder a esta pergunta. Mas acho que sim, porque as mulheres não têm condições de participar de muitas reuniões, por causa da família.

CMC: Há quem defenda que a cota feminina nas cadeiras das casas legislativas poderá garantir a presença de mulheres na política. A vereadora concorda?

DL: Com a cota, haveria melhor equilíbrio entre as cadeiras ocupadas. Porém, as mulheres não devem se candidatar somente porque há a cota, elas devem ser espontâneas. Se filiar ao partido e se candidatar porque têm a vontade de fazer a diferença.

CMC: Qual o conselho a vereadora daria às mulheres que têm vontade de participar da política mas não conseguem?

DL: Com relação àquelas que são casadas, depende muito da aprovação das famílias. Quando eu me candidatei, meu marido já tinha falecido. Quando vivo, ele nunca gostou que eu falasse que gostaria de ser vereadora, ou deputada. Com esse apoio, basta que as mulheres tenham vontade e coragem. Hoje em dia, a vida delas é bem diferente. Elas comandam empresas. Só falta termos mais candidatas a vereadoras, a deputadas.

*Dona Lourdes está em seu terceiro mandato como vereadora. Ela foi reconduzida ao cargo em 2012, com 9.924 votos. Natural de Santa Catarina, a parlamentar reside em Curitiba desde 1959. É conhecida como Dona Lourdes do Santa Quitéria, bairro onde atende mais de 80 pessoas por dia. Sua atuação no Legislativo busca soluções para melhor atender as necessidades básicas da população e garantir os seus direitos sociais (informações da assessoria parlamentar).

Por Pedritta Marihá Garcia – Jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba.