Dia da Mulher Negra Latino-Americana é comemorado na Câmara
A Câmara Municipal de Curitiba homenageou o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela. (Foto: Carlos Costa/CMC)
Nesta quinta-feira (3), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) promoveu uma sessão solene em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e ao Dia Nacional de Tereza de Benguela. A iniciativa foi da vereadora Giorgia Prates - Mandata Preta (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos, Defesa da Cidadania, Segurança Pública e Minorias e procuradora-adjunta da instituição.
Além da vereadora proponente da homenagem, compuseram a mesa: Iyagunã Dalzira Maria Aparecida, yalorixá do candomblé e graduada em Relações Internacionais, mestra em Tecnologia e doutora em Educação; Clemilda Santiago Neto, diretora da Política de Igualdade Racial do Governo do Estado; Marli Teixeira Leite, assessora da Promoção da Igualdade Étnico-Racial da Prefeitura de Curitiba; e Megg Rayara Gomes de Oliveira, primeira travesti negra a obter o título de doutora no Brasil e coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Saudação
A vereadora Giorgia Prates disse ser uma honra encontrar e homenagear pessoas com quem teve contato em sua trajetória de luta e resistência. “Uma coisa que me espantou quando cheguei a Curitiba foi ver o números de grande de pessoas pretas aqui existentes e de quantas mulheres fazem a resistência dessa cidade todo dia. Eu poderia citar números referentes a essas mulheres, mas esses dados não são nada perto da história que é construída nesse lugar”, destacou.
A vereadora ressaltou também a invisibilidade dos negros na maneira como a história da cidade é contada. “Aqui é um lugar onde testemunho isso todo dia. Quando venho para as sessões, percebo que a importância que se dá a essas vidas é pequena nesse espaço, um espaço em que se produzem leis e são pensadas as formas como a sociedade deve andar. Por isso, essa história não deve ser contada só por quem está aqui”, disse a vereadora. Para ela, as mulheres são heroínas de suas histórias e devem ter reconhecidas suas narrativas. “A gente deve se ver e se orgulhar, sentir orgulho por estar aqui”, comentou.
Agradecimentos
“Dizer que estamos contempladas em tudo o que está acontecendo não é bem uma verdade, mas estamos felizes por termos trilhado os caminhos de tantas outras heroínas, tantas mulheres que vieram antes de nós e que nos deixaram um legado”, disse a sacerdotisa Iyagunã Dalzira Maria Alzira, que está em Curitiba há 52 anos. Ao longo do tempo, segundo ela, foi possível perceber algumas mudanças conquistadas por estas mulheres, que têm como exemplos figuras como Tereza de Benguela, Angela Davis e a brasileira Benedita dos Santos da Silva. Alzira disse ainda que segue sua luta na sociedade, no terreiro, na negritude e, agora, no etarismo.
“Devemos ter essa representatividade e acredito que muitos nessa Casa sabem e entendem como são nossas rotinas e lutas”, continuou Alzira. Ela disse que continuará levando a bandeira do movimento negro, do feminismo para que essas causas sejam notadas, tenham amparo e sejam reconhecidas. “Estar na direção da Igualdade Racial é um compromisso muito grande e um desafio enorme. Aquele espaço é nosso, enquanto mulheres negras que lutamos pelas nossas famílias, por essa população alijada de todo direito, excluída. Não é ‘mimimi’. É real”, afirmou Clemilda. De acordo com ela, os dados do IBGE apontam que as mulheres negras estão, em sua maioria, na base da pirâmide, mas essa situação estaria se alterando. “Estamos nos mexendo, lutando para que isso mude, então eu quero convidar todas as mulheres negras para que conheçam a Diretoria de Igualdade Racial. As portas estão abertas”, pontuou.
Política interssetorial
Marli Teixeira Leite contou que, ao ver Iyagunã, lembrou dos seus primeiros dias de militância na causa negra, ainda nos anos 1980, quando integrava o grupo União e Consciência Negra e percorria escolas e outras entidades para divulgar o movimento. “Curitiba tem feito uma gestão que pretende fundamentar os pilares de uma política pública integrada e atuante, com reuniões mensais e a formulação do Plano da Igualdade Étnico-Racial. Agradeço aos vereadores que apoiaram essa iniciativa, em especial [a ex-vereadora e atual deputada] Carol Dartora.”
Marli ainda ressaltou outras ações, como a lei de cotas no serviço público, e o apoio fornecido aos artistas negros durante a pandemia, por meio de editais da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), a oficialização da Feira Zumbi dos Palmares e a edição do livro Narrativas Afro-Curitibanas. Ela esclareceu que o papel da Assessoria da Promoção da Igualdade Étnico-Racial é provocar outros órgãos: “É uma política interssetorial. Quem cuida da saúde da mulher negra curitibana, por exemplo, é a Secretaria de Saúde do município. A nós cabe viabilizar os caminhos das políticas públicas”.
Transfeminismo
Megg Rayara Gomes de Oliveira defendeu que o sistema de cotas não compromete a qualidade do ensino. Ela entende que é no movimento negro que as travestis conseguem um acolhimento. “É aqui que a gente vai conseguir construir o conceito de ‘transfeminismo’, que além de ser um ativismo é uma epistemologia. Lembrando que o Brasil é o país que mais mata travestis no mundo”, pontuou. Megg Rayara disse que a expectativa de vida de uma travesti branca no Brasil é de 35 anos e a de uma negra é 27.
Para ela, também é necessário que haja atenção para as crianças trans que sofrem a imposição da cisgeneridade heteronormativa. “O Estatuto da Criança e do Adolescente [ECA] não traz uma linha sobre as crianças trans”, afirmou a pesquisadora. No entendimento de Megg Rayara, é necessário também que o Sistema Único de Saúde (SUS) acolha os travestis de forma integral.
Homenageadas
Andreia Soares de Lima
Tem 47 anos e é residente do Parolin há 32 anos. Desde a mais tenra idade, foi influenciada pela dedicação de sua mãe, dona Antônia Xavier de Lima, a ajudar a comunidade e herdou dela o espírito que a tornou uma importante e ativa líder comunitária. É promotora legal popular, defensora legal popular e foi criadora da ONG Usina de Ideias. Fez parte da Mandata Preta com Giorgia Prates. É uma ativista engajada na luta pelos direitos humanos.
Angela Elizabeth Sarneski
Professora da rede estadual de educação. Ativista do movimento social negro, integrou o Baluarte Negro e hoje faz parte da Rede Mulheres Negras-PR. Já foi diretora sindical na Secretaria de Combate ao Racismo do Núcleo Sul da APP-Sindicato e é ativista do movimento de mulheres negras.
Ângela Maria martins da Silva
Começou a atuação como ativista de direitos humanos em 1980, no município da Lapa, onde teve um grande trabalho como educadora de crianças vulneráveis. Chegou em Curitiba em 1983, e passou a militar pelo Movimento “Diretas Já” a na luta antirracista, através do Grupo de União e Consciência Negra/GRUCON. É sócia-fundadora da Rede de Mulheres Negras do Paraná, da Associação Paranaense de Lésbicas (Artemis) e da Aroeira - Instituto de Defesa de Lésbica/Bissexuais/Trans Negras.
Branca Caroline Nogueira e Silva
É promotora de Igualdade Étnico Racial e a primeira mulher trans negra a fazer parte do grupo de autoras da 2ª edição das narrativas Afro-Curitibanas. Atuou na função de Educadora Social com projetos sobre saúde sexual e acesso das pessoas trans à rede pública de saúde. É coordenadora do Dig-trans, onde milita ativamente na defesa, conquista e garantia dos direitos de pessoas trans e travestis.
Durvalina Felicidade Pinto
Nasceu em Minas Gerais, onde criou seus 4 filhos. Em busca de uma vida melhor, mudou-se para Curitiba há mais de 40 anos. Mulher preta da periferia, nunca permitiu que as dificuldades a fizesse desistir de suas lutas. Amorosa e muita dedicada, trabalhou por longos anos na escola Dorecy Cezarino, na favela do Parolin, onde garantiu merenda para centenas de crianças.
Fernanda Maria de Castro Paula
É formada em Comunicação Social na UFPR e pós-graduada em Fotografia na Universidade Cândido Mendes e em Artes Plásticas na FAP. Trabalhou como fotojornalista no Governo do Paraná e nos jornais O Estado do Paraná, Correio de Notícias e Gazeta Mercantil. É reconhecida pela documentação fotográfica que fez das comunidades quilombolas do Paraná, tema sobre o qual publicou dois livros. Participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior. Tem obras no acervo do Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, no Centro Cultural Brasil Espanha, no Museu Paranaense e no Museu Oscar Niemeyer.
Gabriela Grigolom Silva (Negabi)
Oficineira, atriz, poeta, produtora cultural, diretora surda e estudante de Artes Cênicas na UNESPAR. Promotora Legal Popular, é ativista do feminismo negro surdo, slammer e participante ativa do estúdio de criação e Tradução Fluindo Libras. Organizou, de 20016 a 2019, o Slam Resistência Surda/PR. Dirigiu a peça de teatro “Surdo, Logo Existo”. Em 2019, recebeu o prêmio Movimenta Preta do Governo do Paraná.
Helen Anacleto
Doutora, mestre e jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Helen Anacleto trabalha como apresentadora e repórter do telejornal Boa Noite Paraná, da RPC. É professora na Universidade Positivo. Já teve passagens pelas rádios Banda B, TransAmérica e Bandnews, pela emissora RIC TV e pelo jornal Gazeta do Povo.
Joana Martins
Mãe do Luan, Gabriela e Caio. Estudante de Gestão Pública é dirigente Municipal do PT Curitiba. É secretária de Combate ao Racismo e Igualdade Racial do partido. É militante incansável de direitos humanos, atuando em defesa da negritude, das mulheres, da educação, da cultura, da moradia, da segurança publica, dos direitos LGBTQI+.
Leci Brandão
Deputada Estadual pelo PC do B de São Paulo. É cantora, compositora e umas das mais importantes intérpretes da música popular brasileira, com 25 álbuns gravados. Começou a carreira musical nos anos 1970, sendo a primeira mulher da ala de compositores da Estação Primeira da Mangueira. Foi conselheira da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Em 2010, lançou-se na carreira política, sendo a primeira negra a conquistar 4 mandatos consecutivos como deputada estadual em SP. Na Assembleia, tem uma atuação voltada às mulheres, povo negro, LGBTI+ e outros vulneráveis. Já propôs mais de 200 Projetos de Lei, tendo cerca de 50 Leis aprovadas.
Lucimar Rosa Dias
É pedagoga e mestra pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e doutora pela USP. Atua com os temas: educação infantil e diversidade étnico-racial, criança e infância negra, relações raciais e formação de professores/professoras, mulheres negras e educação. É autora de livros infantis. Coordena o ErêYá - Grupo de Estudos em Educação para as Relações Étnico-raciais e é membro da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN). Atualmente, é professora da UFPR, cedida para o Ministério da Educação, onde é diretora de Políticas de Educação Étnico-Racial e Educação Escolar Quilombola.
Marcilene Garcia de Souza
É bacharel e licenciada em Ciências Sociais pela UFPR, especialista em Culturas Africanas e Relações Interétnicas, e doutora em Sociologia. É pesquisadora sobre relações raciais no Brasil, na área de ações afirmativas na educação e cotas em concursos públicos, destacadamente sobre heteroidentificação racial. Tem publicações sobre a história do povo negro em Curitiba. Colaborou com a Mandata Giorgia Prates na elaboração do projeto do Centro de Referência Afro Enedina Alves. Atualmente, é secretária de Educação Profissional Tecnológica, do Ministério da Educação (MEC).
Maria das Graças Silva de Oliveira
Cursou Gestão Pública, foi coordenadora nacional da União Nacional por Moradia Popular. Baiana, chegou a Curitiba em 1989. Sempre atuou na luta em prol dos menos favorecidos. Tem como bandeira de vida a moradia, por entender ser essa a porta de entrada para todos os outros direitos. É uma das grandes lideranças da luta por moradia na cidade. Se tornou líder do movimento por moradia e diz não conseguir viver sem essa luta.
Maria do Rocio Madureira
Nascida em Curitiba, tem 83 anos. Prestou 32 anos de serviços ao Hospital das Clínicas. É irmã do ex-jogador de futebol Quarentinha. Sempre ajudou outras mulheres com a criação dos seus filhos. Sempre se destacou pela sua generosidade.
Nará Souza Oliveira
Nascida no Rio de Janeiro, mora no Paraná desde os doze anos de idade. Aos 73 anos, é professora aposentada e tem uma longa história no movimento negro. Pós-graduada em Língua Portuguesa, foi a primeira pessoa da família a ter direito à escola. É tataraneta de uma mulher roubada da África, bisneta de uma mulher que fugiu de uma fazenda, neta de mulher que nasceu livre na mata durante a lei do "ventre livre", e filha de uma mulher que foi proibida de frequentar a escola. É escritora e já recebeu vários prêmios pela sua obra.
Neide Alves dos Santos
Graduada em Direito pela Universidade de Mogi das Cruzes, São Paulo, em 1983, Neide Alves tem uma longa trajetória no Judiciário. Começou como auxiliar judiciária e oficiala de justiça avaliadora, no Tribunal Regional do Trabalho e SP; foi procuradora no mesmo estado e, em 1990 ingressou na magistratura no Tribunal Regional do Trabalho da 9ª. Região, no Paraná, onde já atuou nas Juntas de Conciliação e Julgamento e nas Varas do Trabalho de nove municípios paranaenses. Em 2008, tornou-se desembargadora do TRT. Preside a Comissão para Inclusão Racial e de Gênero no mesmo Tribunal, desde a sua constituição. Atualmente, é coordenadora Regional do “Observatório Excelências Femininas”, Ouvidora do TRT e Ouvidora da Mulher.
Patrícia Jerônimo da Silva
É formada em fotografia digital e analógica pelo núcleo de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especializou-se em Ferrotipia e Ambrotipia pela Penumbra Foundation em Nova Iorque, e estudou no Lab Club no Rio de Janeiro, onde pesquisou sobre as técnicas de revelação e ampliação no Studio Fotico em Belo Horizonte. Dedica-se aos estudos, desenvolvimentos e práticas de processos fotográficos-históricos. É idealizadora do Lab Secreto (laboratório e ateliê fotográfico de uso coletivo em Curitiba com a intenção de fomentar a fotografia lenta). Desde 2018, é coordenadora do curso de fotografia alternativa do Museu da Fotografia de Curitiba.
“Preta Macário” Jocilene Macário da Silva
É militante nas pautas contra o racismo e o machismo. É organizadora do coletivo Pretas com Poesia, e faz parte da Frente Antirracista, da Rede de Mulheres Negras, do Instituto Aroeiras, e da Frente Feminista de Curitiba e Região Metropolitana. É percussionista, cantora, compositora e escritora. Integra o Bloco Afro Pretinhosidade, o Baque Mulher Curitiba e a Roda de Samba Maria Navalha. Possui um livro de poesias escrito, ainda não publicado, que está concorrendo no edital Carolina Maria de Jesus, do Ministério da Cultura.
Priscila Silva Pontes
Priscilla Pontes é natural de São Paulo e vive em Curitiba desde 1996. Atua como artista da dança, professora e pesquisadora do movimento negro com ênfase em danças afrodiaspóricas. É idealizadora dos projetos "Pontes Móveis em Travessias Afro-Contemporâneas", "Arvorando", e "Arvorô", ligados ao cultivo de saberes e memórias das danças negras na cidade de Curitiba. É especialista em Estudos Contemporâneos em Dança e Mestra em Dança pelo PPGDança da UFBA e já atuou preparadora corporal da Companhia de Teatro da UFPR.
Rockmillys Basante Palomo
Venezuelana, é professora com mais de 30 anos de trabalho na área de serviços sociais em seu país natal. Refugiada no Brasil há 5 anos, é fundadora e presidenta da ONG Ação Social Irmandade Sem Fronteiras, organização da sociedade civil, fundada, em Curitiba, por migrantes e para migrantes de todas as nacionalidades. Atualmente, integra também o Conselho Permanente de Direitos Humanos do Paraná (COPED).
Rosinel de Oliveira
Estudante de Direito, é articuladora da Frente pelo Desencarceramento do Estado do Paraná e membro do Grupo Solidariedade Prisional e do Conselho da Comunidade de Curitiba.Tem um intenso trabalho na garantia de direitos de pessoas privadas de liberdade e na assistência a seus familiares.
Sophia Virgínia Santos Madeira
Aos 10 anos, é estudante e modelo. Foi vencedora do Miss Barbie Brasil Infantil 2023 e do Aclamada Beleza Negra Top 2023. Recentemente, ganhou também o concurso Nuestra Beleza Brasil e agora se prepara o internacional.
Telma Mello
Mulher Preta com nome e sobrenome. Psicóloga, feminista negra interseccional, ativista antirracista, defensora dos direitos humanos. Pode ser considerada uma verdadeira entidade da luta antirracista em Curitiba.
Vera Lúcia de Paula Paixão
Técnica em enfermagem, educadora popular e militante do movimento negro há 33 anos. Foi fundadora e coordenadora do Grupo Afro Cultural Ka-Naombo, que através da arte combate o racismo e o preconceito. É criadora do concurso beleza Palmares e do Troféu Mulheres Negras Guerreiras. Como atriz, participou do filme "Cafundó" e do Documentário “Mirian quer Brigar”. Participa do Fórum de Educadores Sociais e Populares do Paraná. Foi coordenadora do cursinho pré-vestibular da ACNAP. Como poetisa, é autora do Livro AYO.
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