Descendentes de Ernesto Guaita visitam o Palácio Rio Branco

por Assessoria Comunicação publicado 30/08/2018 08h40, última modificação 28/10/2021 08h42

A Câmara Municipal de Curitiba (CMC) recebeu, no mês de agosto, a visita de Alcina e Nancy Guaita, respectivamente bisneta e tataraneta do engenheiro italiano Ernesto Guaita, que foi o construtor do Palácio Rio Branco, sede do Legislativo, no final do século XIX. Recepcionadas pelo vereador Serginho do Posto (PSDB), presidente da Casa, elas conheceram o interior do prédio. "É uma honra para a Câmara desenvolver suas atividades numa construção que tanto representou para a história do Paraná. Nossas portas sempre estarão abertas para os descendentes de Ernesto Guaita", disse Serginho.

Os descendentes de Ernesto Guaita entendem que a importância dele para a história da cidade deve ser reavaliada. "Gostaríamos que houvesse mais consideração pela memória de Ernesto Guaita em Curitiba. Seu nome aparece somente em alguns estudos acadêmicos e numa rua no bairro Tingui. Ele merece mais", diz Nancy, tataraneta do construtor do Palácio Rio Branco. Alcina e Nancy Guaita trouxeram documentos comprobatórios de que são, efetivamente, descendentes de Ernesto Guaita. Na certidão de nascimento de Alcina, consta que ela é neta de Aristides Guaita, filho único do engenheiro italiano. Ela também é detentora de uma foto que mostra Aristides em companhia da família. "Esses são minha mãe e meus tios", disse a bisneta do construtor do Palácio Rio Branco sobre as outras pessoas da imagem. Também esteve presente durante a visita o vereador Mauro Bobato (Pode).

O detalhe é importante, considerando que a história de Ernesto Guaita possui inúmeras lacunas. É o que aponta Nancy Guaita, tataraneta do engenheiro. Ela tem feito uma verdadeira procissão por bibliotecas, institutos e órgãos públicos com o intuito de conseguir informações sobre o tataravô, mas na maior parte dos casos o resultado de suas pesquisas é mínimo e esparso.

"Difícil entender", afirmou Nancy, "como um homem com tanta expressão em sua época possa ter praticamente desaparecido da memória coletiva". Ela revelou que resolveu vir ao Legislativo em companhia da mãe após assistir a um vídeo produzido pela Escola do Legislativo da CMC em 2016, durante o evento Memória Política de Curitiba, uma parceria com o Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP) da UFPR/CNPq e o Núcleo de Pesquisa e Prática em Ciência Política (NuPP-Cipol) da Uninter. O material contém uma palestra de 20 minutos sobre a vida de Ernesto Guaita, com base em informações levantadas pelo projeto Nossa Memória, da Diretoria de Comunicação da Câmara.

Malha xadrez
Guaita não foi autor somente do Palácio Rio Branco (conheça mais sobre a história do Palácio Rio Branco). Ele também construiu outras obras marcantes na paisagem da cidade, como o Palácio Garibaldi; o Museu da Imagem e do Som (antigo Palácio da Liberdade, sede do governo estadual na Rua Barão do Rio Branco); a Casa Gótica da rua XV (esquina com a Monsenhor Celso); e o prédio na praça Carlos Gomes que durante alguns anos foi a sede da Escola de Artífices (embrião do CEFET/UTFPR).

Para a pesquisadora Analu Cadore, que se dedica à produção arquitetônica do engenheiro italiano, ele foi o maior nome do ecletismo em Curitiba. Em termos gerais, o ecletismo arquitetônico buscava mesclar tendências de épocas diversas numa mesma construção. O estilo vigorou da metade do seculo XIX até os anos 1930.

Além disso, Guaita foi responsável pelo primeiro plano urbanístico de Curitiba efetivamente posto em prática. Tratava-se do plano Nova Corityba, cuja implantação teve início em 1885. Da fundação da cidade até aquela data, o núcleo da capital nunca havia se expandido além dos limites da praça Carlos Gomes. Foi resolvido, então, que a estação ferroviária seria construída longe dali. Escolhido o local, criou-se uma rua para ligar os dois pontos. A partir dessa rua, Guaita traçou linhas perpendiculares e paralelas, estabelecendo uma “malha xadrez” de ruas e quadras. Com a inauguração da estrada de ferro, em 1885, a região foi gradativamente ocupada.

“Os curitibanos entenderiam depois que em uma área vazia entre o que a cidade era e o que se propunha a ser, tornava-se possível esculpir no vazio e com material de construção, um cenário, uma mentalidade e um sonho de ‘modernidade’ que teriam seu ponto focante e focal na estação ferroviária. Na vastidão de oitocentos metros era possível a Curitiba moldar seu orgulho em uma rua longa, larga, bem iluminada e pavimentada”, explica o professor Irã Dudeque ,no livro “Cidade sem véus: doença, poder e desenhos urbanos”.

O plano também previa cinco avenidas largas (30m) ligando a região industrial do Rebouças ao sul da cidade (que à época se constituía no Água Verde e no Portão). A ideia foi vista com temeridade, mas hoje essas avenidas se mostram bastante funcionais. São elas: Visconde de Guarapuava, Sete de Setembro, Iguaçu, Silva Jardim e Getúlio Vargas.

Revolta e polêmicas
Guaita nunca ocupou cargos eletivos, mas sempre esteve próximo ao poder e talvez isso explique sua nomeação em 1908 ao cargo de secretário de Obras de Curitiba. Em relatório datado desse período, ele aponta que um dos maiores problemas da cidade era o escoamento das águas pluviais. Também faz considerações sobre o Passeio Público e o Cemitério Municipal. Sua morte se deu alguns anos depois, no dia 25 de dezembro de 1916. De acordo com o engenheiro e historiador Joao de Mio - uma espécie de discípulo de Guaita -, o italiano teria morrido pobre e doente, num casebre no bairro Barreirinha. Suas descendentes afirmam nunca terem recebido nenhuma informação nesse sentido.

A vida de Guaita teve momentos de tensão, como a participação no levante armado dos imigrantes italianos em 1877, que haviam sido instalados pelo governo do estado na Colônia Nova Itália, em Morretes. Ele ficou ao lado dos colonos que sofriam com o descaso do governo estadual e com as irregularidades promovidas pelo secretário de Imigração, Lamenha Lins.

Anos depois, o engenheiro participaria de algumas polêmicas, sendo que uma das mais célebres foi o conflito com o padre Colbacchini, contrário à criação de uma escola pela Sociedade Garibaldi por considerá-la uma entidade anarquista e maçônica. Guaita chamou o clérigo de “ave noctívaga”, iniciando uma série de desagravos - ora em prol do padre, ora em prol de Guaita. No fim, o engenheiro foi obrigado a se afastar do cargo de agente consular da Itália em Curitiba em virtude das influências de Colbacchini em Roma.

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Saiba mais sobre Ernesto Guaita aqui.

Referências Bibliográficas:

- CORÇÃO, Izabel; CARNEIRO, Newton e LYRA, Cyro Corrêa de Oliveira. O Palácio do Congresso – Câmara Municipal de Curitiba – Histórico e Restauração. Boletim da Casa Romário Martins, n. 23, ano 4. Fundação Cultural de Curitiba:Curitiba, 1978. (impresso)

- COSTA, Paulo José da.
Mapa de Curitiba (1894). Disponível em: http://paulodafigaro.blogspot.com/2014/03/uma-planta-da-curityba-de-1894.html

- DUDEQUE, Irã Taborda.
Cidades sem Véus: doença, poder e desenhos urbanos. Editora Champagnat: Curitiba, 1995.