Decisão sobre multar abandono de cabos em postes de Curitiba será em setembro

por José Lázaro Jr. | Revisão: Brunno Abati* — publicado 18/04/2023 17h50, última modificação 19/04/2023 08h34
Liderança do governo sugeriu e o autor, Professor Euler, concordou com adiar a votação e construir um substitutivo geral com Mauro Ignácio, Bruno Pessuti e outros vereadores.
Decisão sobre multar abandono de cabos em postes de Curitiba será em setembro

Projeto do Professor Euler propunha um ultimato de 180 dias para empresas retirarem cabos em desuso dos postes das cidade. (Fotos: Rodrigo Fonseca/CMC)

A votação de um ultimato para a retirada de cabos em desuso dos postes da capital movimentou a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) nessa terça-feira (18), com a presença no plenário de representantes da Companhia Paranaense de Energia (Copel). Autor da proposta, Professor Euler (MDB) concordou com o pedido do líder do governo, Tico Kuzma (PSD), de adiar a votação por 50 sessões. A ideia é aguardar nova resolução das agências de Telecomunicações (Anatel) e de Energia (Aneel) sobre o uso compartilhado dos postes, programada para o segundo semestre deste ano.

A proposta de Euler pretendia alterar o Código de Posturas de Curitiba, dando 180 dias para as as empresas que utilizam os postes da cidade realizarem “o alinhamento, a correta fixação ou remoção de equipamentos, caixas, acessórios, fios ou fios drop, cabos metálicos, coaxiais e fibras ópticas inservíveis, inutilizados, em desuso, instalados de forma inadequada ou que estejam oferecendo qualquer tipo de risco à segurança de pessoas, veículos ou imóveis” (005.00173.2021, com o substitutivo 031.00070.2022). 

Caso a empresa descumprisse o prazo, poderia receber uma multa de até dois salários mínimos. Se a situação não for regularizada no prazo estipulado  de 24 horas se houver risco à segurança pública ou obstrução da via e de 72 horas nas demais situações , o valor dobraria. O projeto revoga a lei municipal 15.705/2020, que determina “a remoção de dispositivos inservíveis dos serviços de telecomunicações e de distribuição de energia elétrica dos locais públicos”, de autoria de Bruno Pessuti (Pode), por Euler entender que, nesses três anos, as empresas deixaram de cumpri-la.

Opinião da Copel
Tendo participado de uma reunião com Tico Kuzma, Bruno Pessuti e técnicos do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc) na véspera, a Copel enviou um representante para falar aos vereadores na sessão plenária. Fabrício Salmazo, gerente técnico de compartilhamento de estruturas da Companhia Paranaense de Energia, explicou que, só na capital, a Copel é encarregada da gestão de 150.966 postes, que são utilizados por 212 empresas diferentes e não só pelas "grandes" de telefonia, de internet e de tevê por assinatura. Em cada poste, cerca de 50 cm da sua extensão são destinados ao uso compartilhado.

"É um problema nacional", disse Salmazo, citando conflitos entre leis e resoluções federais, cuja ponderação de direitos fica entre as empresas de energia, encarregadas dos postes, e das de telecomunicações, que compartilham dessas estruturas. Em especial, o técnico da Copel citou a resolução conjunta 4/2014, da Aneel e Anatel, que só permite à companhia retirar dos postes fiação caída ou que ofereça risco à segurança. "A retirada dos cabos desativados cabe às operadoras e provedoras", explicou. Ele disse que há a expectativa de uma revisão dessa resolução neste ano, a qual poderia resolver o impasse.

Tico Kuzma afirmou que a Prefeitura de Curitiba tem intensificado o combate aos cabos em desuso, inclusive, com a Copel passando a notificar mais ativamente as empresas que utilizam os postes quando constatadas irregularidades. "Em 2015, a Central 156 recebeu 1.030 protocolos [referentes à fiação de postes]. Em 2022, foram 2.280. A colocação de cabos aumentou na pandemia, quando as empresas expandiram suas redes. Temos que esperar o que Aneel e Anatel farão, pois se fala até na criação de uma agência reguladora própria [para resolver esse conflito]", ponderou o líder do governo. Ele sugeriu adiar por 80 sessões, o que deixaria a votação para dezembro, mas Euler concordou com 50, trazendo o tema a plenário ainda em setembro deste ano.

Debate em plenário
Autor da lei municipal 15.705/2020, que o projeto quer revogar, Bruno Pessuti saiu em defesa da Companhia Paranaense de Energia, afirmando que, no caso dos cabos em desuso, “a Copel é parte da solução, não do problema”. Ele disse que a norma que propôs e está em vigor é mais genérica que a proposta de Euler para não engessar a sua aplicação, dando margem para que a regulamentação pelo Executivo, via decreto de lei, seja mais dinâmica e capaz de acompanhar as mudanças do mercado. Pessuti também deu o exemplo da cidade do Rio de Janeiro que, para as Olimpíadas, licitou a infraestrutura e a fiação do polígono central via parceria público-privada, encerrando o conflito entre empresas.

“É uma nojeira essa fiação”, criticou Mauro Ignácio (União), que exibiu em plenários imagens de fiação em postes da Regional Santa Felicidade em péssimas condições de conservação. O parlamentar é autor de outro projeto sobre o tema, que obriga as empresas a identificarem seus cabos (005.00096.2022), “porque ninguém sabe de quem são os fios caídos”. Ele propôs a realização de uma audiência pública sobre o tema e, após Euler sinalizar a vontade de elaborar um novo substitutivo geral, em coautoria com ele e com Pessuti, Ignácio concordou na montagem da força-tarefa. “A Casa tem o dever de buscar uma solução”, disse.

“Esse tema é discutido na CMC há pelo menos 15 anos”, começou Serginho do Posto (União), buscando contextualizar a questão. “Eu recebo pessoas semanalmente se queixando que um caminhão passou, derrubou a fiação e eles ficaram sem internet. Eu admiro o trabalho dos servidores da Copel. O problema é causado não por ela, mas pelas operadoras. Logo, temos um problema a superar que é o uso do solo”, afirmou, sugerindo que a CMC discuta a questão na próxima atualização da Lei do Zoneamento. “Essas empresas de telefonia gastam com publicidade, mas não investem na cidade e na melhoria dos serviços para o usuário”, criticou. 

“Quando ouço que o tema é discutido há 15 anos [na CMC], me gera uma tristeza, pois é sinal que o descaso perdura por muito tempo”, comentou Alexandre Leprevost (Solidariedade). Na opinião de Zezinho Sabará (União), é preciso “uma lei severa”. Para Oscalino do Povo (PP), “não pode ter energia limpa em poste sujo”, referindo-se ao impacto visual negativo da fiação. “Tenho saudades do tempo da Telepar”, chegou a afirmar o vereador. Angelo Vanhoni (PT) disse que não dá para discutir o assunto sem considerar a proposta de privatização da Copel, colocada pelo Governo do Paraná. “Os munícipes têm que ter alguma contrapartida”, pediu o petista.

“Já tem tecnologia para passar o cabeamento subterrâneo sem destruir a calçada”, cobrou Rodrigo Reis (União), que atribuiu à Copel o papel de liderar essa transição. “A Copel é um monopólio, que fatura milhões de reais por ano, e pode beneficiar Curitiba enterrando todos os cabos no Centro da cidade. Temos que cobrar a companhia para ela mostrar os investimentos na cidade de Curitiba. As empresas de telefonia só pensam no lucro e esquecem da população. A Copel tem que cobrar essas empresas”, defendeu o vereador.

Dialogando com todos os vereadores que discutiram seu projeto de lei, Professor Euler declarou que “a intenção é resolver o problema”. “Se for possível resolver integralmente, no mais breve tempo possível, melhor. Se for necessário ir resolvendo aos poucos, que seja assim. O importante é que a gente não fique parado. Curitiba é referência em tantas coisas, que, de certa forma, é inadmissível que a gente tenha chegado nessa situação”, afirmou o vereador, que propôs uma agenda de discussões e audiências públicas até setembro, quando o projeto volta à pauta.

“Não pode culpabilizar a Copel e o projeto não faz isso”, comentou Euler, “pois quem recebe a notificação é ela, mas se o problema não for cabo elétrico, a Copel repassa aos ocupantes do poste e se isenta da multa. A multa só se torna impagável se a empresa não cumprir [regularizando a situação identificada na sua fiação]. Ela se torna impagável só aos irresponsáveis”. O comentário foi uma resposta à Amália Tortato (Novo), para quem o mecanismo de dobrar o valor da multa a cada reincidência cria “uma multa inexequível”. “Em 90 dias, a empresa [que não resolver a notificação] vai estar devendo o PIB do Brasil”, alertou.


*Notícia revisada pelo estudante de Letras Brunno Abati
Supervisão do estágio: Alex Gruba