Cursos podem melhorar atendimento a epilépticos

por Assessoria Comunicação publicado 27/01/2006 17h00, última modificação 07/06/2021 17h12
Os guardas municipais e funcionários de escolas e secretarias municipais devem passar por treinamentos e cursos sobre epilepsia. A proposta do vereador Zé Maria (PPS), em apreciação na Câmara de Curitiba, é que pelo menos 10% do quadro funcional de cada órgão público da administração direta receba as instruções. A medida deve valer aos servidores que têm contato com maior número de pessoas, por exemplo, professores, inspetores de alunos, agentes de trânsito, vigilantes e chefias imediatas.
"A epilepsia é uma condição neurológica crônica grave, que acomete entre 1% e 2% da população, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, seriam aproximadamente 3 milhões de pessoas com a doença, confirmando problema de saúde pública. Embora menos letal, o preconceito que isola seus portadores já justificaria programa tão sério quanto o dirigido à aids. Quem já testemunhou uma crise, se não ficou assustado, ficou desconcertado: os músculos da pessoa em crise enrijecem, ela cai, saliva em excesso, se debate. Por causa desta reação, que para muitos parece "demoníaca", negam-lhe emprego, vaga na escola, a família sofre e ela se esconde. A maioria dos portadores não recebe tratamento", explica.
Segundo o vereador, "a crise epiléptica é desencadeada quando grupamento de neurônios deixa de funcionar adequadamente por certo tempo. O cérebro envia impulsos elétricos de forma errática, levando a manifestações clínicas em partes do corpo que comanda. Figurativamente, o que acontece é um "curto-circuito". A crise "tônico-crônica" (a convulsão), aquela que testemunhamos nas ruas, corresponde à cerca de metade dos casos. Os outros 50% são outros tipos de crises que podem passar despercebidas. Uma delas afeta principalmente a criança, que está conversando normalmente e, de repente, desliga por segundos; se tais crises são múltiplas, a mãe vai achar que o filho vive no mundo da lua. Na crise "parcial complexa", o paciente desliga, mas mantém certos movimentos complexos – pode, por exemplo, tirar a roupa sem se dar conta de que está em público. Quando confundida com drogadição ou doenças psiquiátricas, esta crise pode levar o paciente à delegacia ou mesmo ao hospital psiquiátrico".
Diagnóstico
Nos variados graus de severidade de epilepsia, não havendo resposta à medicação, existe o tratamento cirúrgico, removendo-se parte do cérebro. Uma avaliação pré-cirúrgica indica se a intervenção será mesmo eficaz para acabar com a crise e se a pessoa poderá conviver sem aquele tecido.
Atente-se que a epilepsia não é uma doença em si, é um leque grande de doenças que pode desencadeá-la. Um tumor cerebral pode causar epilepsia, assim como má-formação do cérebro, traumatismo crânio-encefálico em acidente, defeito genético, problemas no parto. Diagnosticar a epilepsia, portanto, nem sempre é fácil, a não ser naqueles 50% dos casos em que a crise é do tipo convulsão e de fácil reconhecimento. Daí, a importância dos cursos de qualificação, que devem ser ministrados não só aos profissionais de saúde, mas a todos aqueles que estão em contato constante com grande número de pessoas.
O diagnóstico surge essencialmente da história do paciente e da pessoa que presenciou a crise. Não há aparelhos ou exames que acusem a epilepsia. É a história que o portador conta, o testemunho de quem o vê em crise. Confirmada a síndrome, investiga-se por que o paciente sofre essas crises.  O risco de morte aumenta quando a crise não é controlada. A taxa de morte súbita, que é de 1% na população em geral, duplica ou triplica entre as pessoas com epilepsia. Os psicólogos ainda destacam a propensão ao suicídio. O paciente, quando suas crises não são controladas, começa a se fechar e a se esconder. Não só pelo constrangimento de sofrer uma crise em público, mas pelo preconceito da sociedade. É o que se chama de “estigma percebido”, que diminui a auto-estima.