Curitiba poderá combater acidentes de aves com vidros
Uma audiência pública promovida na Câmara Municipal de Curitiba debateu, nesta quinta-feira (27), medidas que podem evitar que aves colidam com vidros. Como resultado será protocolado um projeto de lei para mobilizar a população. O encontro, promovido pela vereadora Kátia Dittrich (SD), teve como base uma pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) chamada “Entre a Vida e o Vidro”, que estuda a aplicação de métodos voltados a diminuir esses acidentes.
"Os choques de aves contra vidros e vidraças de edifícios, casas, muros e mesmo veículos são comuns no mundo inteiro, mais do que imaginamos. Acredita-se que milhões de aves sejam mortas anualmente por colisões na maioria dos países ocidentais. Estima-se que somente nos Estados Unidos, entre uma a dez aves são mortas por choque em vidros de edifícios por ano", ponderou Katia.
Professor de Medicina Veterinária da UFPR, Fabiano Montiani, que conduz a pesquisa sobre o tema, complementou que nos EUA a taxa de mortalidade é de 1 bilhão de aves, anualmente. "Acredita-se que 60% das aves acidentadas em vidro morram." Segundo ele, medidas como colar nas superfícies papel contact preto em diversos formatos, no tamanho de 15 cm, espaçados a cada 40 cm, podem alertar os pássaros para desviarem. Também é possível usar adesivos transparentes que tenham capacidade de refletir luz ultravioleta ou outras alternativas mais simples, como pintar o vidro.
"Mais simples ainda é sempre fechar as cortinas, mas no caso dos muros de vidro isso não funciona. Acreditamos que com ações simples seja possível proteger as aves sem alterar a estética das construções", complementou o pesquisador. Ele informou que existe um site da universidade (www.prppg.ufpr.br/entreavidaeovidro) no qual os cidadãos podem registrar as ocorrências de acidentes para que, em um ano, já seja possível a equipe fechar uma estatística mais precisa.
"Tem que achar um meio de controlar, melhorar. Já tem vidros que impedem que uma ave colida, com superfície envidraçada ou espelhada", reforçou Pedro Scherer Neto, engenheiro agrônomo e mestre em Zoologia. Segundo ele, "pássaros estão perdendo local de reprodução”, pois principalmente os pardais faziam ninhos nos telhados das casas, mas hoje a cidade está tomada de prédios modernos que não possibilitam mais isso.
Indústria do vidro
Convidado a participar do debate, Neri Roberto de Lima, do Sindicato das Indústrias de Vidros, Cristais, Espelhos, Cerâmicas de Louça e Porcelana, Pisos e Revestimentos Cerâmicos no Estado do Paraná (Sindilouça) se dispôs a contribuir com a causa. Ele informou que o vidro que reflete a luz ultravioleta existe principalmente na Europa, mas ainda é muito oneroso no Brasil. "No que for necessário estaremos à disposição para contribuir. Se a gente conseguir criar em Curitiba e for um projeto bom, que não venha a conflitar com o trabalho das pessoas, isso pode ser interessante."
Aos estudiosos do assunto, ele sugeriu que realizem contato com a Abravidro (Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos), que regula toda a produção de vidros no Brasil e fica em São Paulo. “Podem buscar o vidro na Europa e verificar a viabilidade financeira para o Brasil.”
Para Kátia Dittrich, a sinalização do Sindilouça em apoio à causa foi um grande avanço para o projeto. “Quando não se tem o respaldo de todos os lados, a proposta acaba sofrendo muita influência externa. Vi o sindicato muito aberto à parceria”, concluiu ela, acrescentando que nos próximos dias protocolará o projeto de lei com as ideias apresentadas na reunião.
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