Conselho de Nutrição pede reforço da distribuição de alimentos na pandemia
“Urgente é ter políticas públicas para que tudo que sobre de um lado seja colocado adequadamente no outro [onde falta]”, resumiu Cilene da Silva Gomes Ribeiro, vice-presidente do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8). A convite da vereadora Maria Leticia (PV), nesta quarta-feira (31), Ribeiro e Alexsandro Wosniaki, presidente do CRN-8, expuseram aos membros da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) os impactos da pandemia na segurança alimentar da capital do Paraná.
Convidados para participarem da Tribuna Livre, quando, às quartas-feiras, a CMC abre um espaço democrático dentro da sessão plenária para a interlocução dos vereadores com a sociedade civil, a direção do Conselho Regional de Nutrição enumerou os desafios que Curitiba enfrenta e confirmou que também os nutricionistas perderam postos de trabalho em razão da pandemia. “Há nutricionistas que, mesmo sendo profissionais de saúde, ainda não foram vacinados, em razão de uma série de falhas de comunicação. Queríamos que a prefeitura se sensibilizasse com a situação desses profissionais”, alertou Wosniaki.
“Muitos nutricionistas foram retirados, por questões financeiras, das empresas, das instituições de longa permanência, das escolas, dos hospitais, dos restaurantes. E não tendo o profissional que busca incessantemente a garantia da segurança alimentar e nutricional, nesses espaços de comer e de produção, infelizmente isso gera um agravamento de todos os desafios”, contextualizou Cilene Ribeiro. Hoje, em todo o país, as entidades representativas marcaram a efeméride do Dia Nacional da Saúde e da Nutrição.
Agravamento da desnutrição
Ao fazer um balanço da situação de Curitiba, há mais de um ano enfrentando a pandemia do coronavírus, Cilene Ribeiro chamou a atenção primeiro para o aumento da população em situação de rua – estimada extraoficialmente em 8 mil indivíduos – que mais sofre com a insegurança alimentar. A esse problema, soma-se a redução da renda das famílias, que desde 2020 tem mais dificuldade de acesso à alimentação adequada, resultando em perda de produtividade. “Um trabalhador mal alimentado não é produtivo, e por consequência a economia não roda”, argumentou.
Integrante do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Curitiba, Cilene Ribeiro apresentou um desafio correlato à perda de renda, que é a redução dos contratos informais – trabalhadoras domésticas que pegam menos diárias, por exemplo. “A perda do vínculo agrava a insegurança alimentar das famílias”, ela relatou, elogiando a prefeitura por manter a distribuição dos kits de alimentação às crianças em idade escolar. “Muitas famílias estão usando esses kits, que seriam para alimentar o aluno, como única forma de sobrevivência alimentar”, ponderou.
A representante do CRN-8 apresentou que há muitas pessoas com fome de um lado, e que no outro há produtores de alimento sem meios para distribuir os itens, pela impacto da pandemia na cadeia de distribuição, havendo ainda, na outra ponta, um aumento do consumo de comida por delivery e de alimentos ultraindustrializados, resultando num aumento significativo da obesidade “que depois vai impactar o Sistema Único de Saúde”.
Respondendo a perguntas de Maria Leticia e da Professora Josete (PT), Cilene Ribeiro insistiu que há pessoas passando fome, “tendo o mínimo de uma refeição e comendo só o que chega por doações”, e outras “comendo demais, insanamente, num processo ansioso [provocado pela pandemia]”. Ela entende que seria urgente “ter políticas públicas para que tudo que sobre de um lado seja colocado adequadamente no outro [onde falta]”, além do que já é feito pela prefeitura.
Importância dos nutricionistas
O presidente do CRN-8, Alexsandro Wosniaki, chamou a atenção dos vereadores para a importância dos nutricionistas no front da saúde. “Eles estão na linha de frente, atuando para garantir a segurança alimentar e nutricional da população, dentro dos hospitais, na distribuição dos kits de alimentação, nos restaurantes populares e nas clínicas”, lembrou. Depois destacou o papel no cuidado dos intubados, que recebem alimentação especial, por sonda, e nos sequelados da covid-19, “que perdem peso e entram em estado de desnutrição”.
“Neste momento, temos que priorizar as medidas emergenciais, para deixar o alimento disponível à população”, pontuou Wosniaki, “mas precisamos melhorar as políticas estruturantes, que precisma de estabilidade, para que as pessoas não precisem se preocupar em ter o que comer todos os meses, e que não seja qualquer alimento, e, sim, um nutricionalmente adequado, alinhado aos hábitos e cultura alimentar. Temos que pensar no que deixar de legado”.
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