Conselho de ética ouve testemunhas em processo de assédio moral contra Galdino
O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara de Curitiba reuniu-se na tarde desta quinta-feira (15) para ouvir o presidente do Sindicato dos Servidores da Câmara Municipal (SindiCâmara), Luiz Carlos Andrade, dois jornalistas da Diretoria de Comunicação e o jornalista Fernando Tupan, funcionário do vereador Professor Galdino (PSDB). O colegiado analisa processo disciplinar contra o parlamentar aberto por conta de uma denúncia de assédio moral, feita a pedido da Diretoria de Comunicação. A reunião ocorreu logo após uma sessão especial de julgamento que suspendeu o mandato do vereador até o dia 31 de dezembro.
Em uma das ocasiões relatadas pela Diretoria de Comunicação, Galdino subiu à tribuna do plenário – no dia 29 de agosto – e chamou uma servidora de “cabaça”, acusando-a de, em um evento ocorrido na Câmara dias antes, ter dito aos presentes que ele estaria inelegível. No mesmo pronunciamento, Galdino voltou a chamar as demais servidoras do setor de “cabaço”. Em outra situação, chamou o fotojornalista do setor, de “filho da puta”, dentre outras ofensas proferidas contra o profissional.
O primeiro a prestar depoimento hoje foi o presidente do sindicato, que informou ter recebido a queixa do chefe da Comunicação, Filipi Oliveira, e verificou que a servidora em questão havia se sentido ofendida e diminuída com as afirmações de Galdino. Ele disse que tomou a decisão de formalizar a denúncia à Presidência da Câmara tendo em vista os pedidos de apuração dos fatos e que não era a primeira vez que o vereador se referia de forma ofensiva a funcionários da Casa. Lembrou-se de outro episódio, quando foi criada a Escola do Legislativo, e o parlamentar se insurgiu contra, alegando que nenhum servidor se interessava em fazer cursos. “Fizemos nesse caso até uma nota de repúdio pelo Sindicato contra ele. [Na ocasião da denúncia da Comunicação] Fizemos então o relato, por causa da reincidência”, resgatou Andrade.
A jornalista Pedritta Marihá Garcia informou que no dia 25 de agosto participou de um evento da Escola do Legislativo chamado “Condutas Vedadas nas Campanhas Eleitorais” e que na ocasião o palestrante respondia uma pergunta de alguém da plateia se seria possível um candidato utilizar o mesmo nome de um vereador, citando como exemplo o nome da Dona Lourdes. “O palestrante começou a responder e eu intervim, porque antes do meu trabalho como jornalista, eu estava ali como espectadora, e perguntei se no caso do Edu Galdino [que é irmão de Galdino] poderia usar o mesmo nome de Professor Galdino. Essa era a minha dúvida e foi só isso que eu perguntei”. Para ela, o questionamento foi pertinente. “Eu tenho direito de estar em um evento público e fazer perguntas. Com isso eu tenho know-how para responder qualquer pessoa que me questione, com base em uma pessoa que teve know-how para me explicar.”
Ela continuou o relato, dizendo sobre o dia do pronunciamento de Galdino em plenário. “Eu demorei um pouco para entender porque ele estava se referindo ao nosso trabalho. Fiquei olhando para os colegas tentando entender o que aconteceu”. “Em momento algum eu citei a matéria que dizia que ele estava inelegível”, referindo-se a um texto publicado no jornal Tribuna do Paraná. “O assunto da inelegibilidade foi comentada pela advogada de Galdino em relação a outro questionamento”.
Professora Josete (PT), relatora do processo, perguntou como os demais colegas encararam a crítica. “Posso dizer que no momento em que aconteceu eles ficaram tão ou mais ofendidos do que eu, porque não foi a primeira vez que um vereador falou contra nós na tribuna. Essa equipe trabalha de forma imparcial, para dar isonomia no tratamento a todos os vereadores. Ninguém lá age de má fé para prejudicar qualquer um. Somos muito éticos. Eu procuro equilibrar: se tem mais de um orador e eu coloquei três tweets [referindo à rede social Twitter], tento colocar três do outro também. Eu e meus colegas, antes de sermos jornalistas, somos servidores, e nosso trabalho é servir a população. Procuramos sempre fazer o melhor, acima do que a gente pode, além dos nossos horários, usando nosso próprio equipamento.” A advogada do Galdino, Miriam Carvalho, desculpou-se pelo ocorrido. “Em nome do vereador peço desculpas, obrigada pelo esclarecimento em questão”.
Xingamentos no plenário
O jornalista Francisco Camargo relatou outra situação envolvendo Professor Galdino, em um projeto organizado pela Comunicação para fazer uma caçada a pokémons na Câmara. O objetivo era atrair jovens para conhecerem o Legislativo, utilizando o jogo que havia sido recentemente lançado mundialmente. “Tinha uns alunos de colégios no plenário. Eu estava na porta de vidro do plenário, que dá para a saída. Um dos meninos disse "achei um pokémon, achei um ratão". Aí eu disse "para que eu vou fotografar esse rato". Nisso vem o Galdino e diz: "ratão é você!". E eu falei: "que é isso, vereador, estamos brincando".”
Galdino teria retrucado dizendo, conforme o relato de Camargo: “brincando com o quê, você está me ofendendo. Você é um filho da puta, vai tomar no cu, você e essa corja que te nomeou”. Camargo então afirmou que pediu desculpas, dizendo que não havia se dirigido ao vereador. “E ele repetiu: "seu filho da puta, vai para a puta que te pariu". Fiquei chocado com isso e nervoso, mas pedi calma ao vereador, ele falou novamente, e isso ficou na minha cabeça ecoando por dias, a ponto de ter que ir para o hospital, pedi desculpas várias vezes para cessar a situação, tinha muita gente em volta, inclusive estudantes. Parei de falar, coloquei a câmera num canto e respirei fundo. De repente ele me pediu desculpas sem mais nem menos. Eu estava lívido, a expressão é essa. Trêmulo. Ele disse que não queria me ofender e aceitei as desculpas dele ali para apaziguar. E assim ele saiu.” O jornalista afirmou que várias pessoas presenciaram o fato, entre estudantes e colegas de trabalho.
Discursos produzidos
O jornalista Luiz Fernando Tupan foi o próximo a ser questionado pelo Conselho. Ele disse que estava presente no dia do pronunciamento do vereador em plenário, mas não havia escrito palavras ofensivas contra jornalistas. “Eu tinha feito o discurso dele, e eu disse para ele não falar nada, porque não se briga com jornalista.” Para Tupan, Galdino se baseou em informações de outras pessoas sem ter ouvido o áudio do evento para se certificar das informações – que foi gravado na íntegra. “Várias pessoas que estavam presentes lá [no evento], inclusive efetivos, falaram que ela [Pedritta] foi maldosa com ele, e aquilo foi pilhando nele, foi um desabafo.” Tupan disse que a palavra “cabaça” não teria conotação sexual naquele contexto. “Fui até no Aurélio para ver a definição, e isso da maneira que ele expôs não tem conotação agressiva, foi de novata, e como ele não é de Curitiba, ele tem isso como cultural dele. Em nenhum momento ele usou cabaça no sentido sexual, por exemplo.”
Tupan acredita que o parlamentar estava querendo se referir a “juvenil, novato, inexperiente”. “Mas ele incorpora o personagem e fala grosso. Eu não teria feito isso. Eu acho que ele não deveria ter feito isso. Sempre falei para ele, escolha os seus adversários. Ele errou porque ele teria que ter pego o material e ouvido, não ficar em cima do que as pessoas relataram.”
Para a corregedora Noemia Rocha (PMDB), a servidora Pedritta foi em busca de informações para se esclarecer no evento. “Não era uma coisa que ela inventou, era notório [o caso do uso do nome de Galdino pelo irmão] e decidiu perguntar. Então, o fato dele [Galdino] ter levado para o lado pessoal é o que nos preocupa, ela não estava ali como Pedritta, estava como jornalista da Casa, fazendo o seu dever.” Noemia defendeu que o debate sobre o significado da palavra não vem ao caso. “O caso é que se ele tivesse se dirigido a outro parlamentar, haveria direito de reposta. Ela não teve. Ele usou de uma prerrogativa de poder, ela não teve defesa.”
Também formularam perguntas aos depoentes os vereadores Bruno Pessuti (PSD), Carla Pimentel (PSC) e Mauro Ignácio (PSB). Geovane Fernandes (PTB) e Paulo Rink (PP) participaram da reunião. Ao final, a advogada de Galdino entregou a Professora Josete um atestado médico para justificar a ausência do parlamentar.
Trâmites finais
O Código de Ética e Decoro Parlamentar na Câmara prevê que a partir de agora será aberto prazo de cinco dias úteis para alegações finais da defesa de Galdino e mais cinco dias úteis para a manifestação da corregedora. No final desse prazo, a Junta de Instrução, formada, por Professora Josete, Bruno Pessuti (PSD) e Cacá Pereira (PSDC), emitirá o parecer final no prazo de dez dias – que indicará a inocência ou culpa do parlamentar, que poderá ser punido com a censura pública ou a suspensão temporária do mandato. No caso de Galdino ser considerado culpado, o presidente do Conselho, Mauro Ignácio (PSB), comunicará o presidente da Casa para que tome as providências necessárias para a execução da penalidade.
No entanto, Galdino não foi reeleito (ele não se candidatou) e a partir do dia 31 de dezembro não será mais vereador. Ainda que a decisão corra o risco de ser arquivada pelo fim da legislatura, Professora Josete comprometeu-se a prosseguir com as ações até o dia 31. “Vamos fazer este encaminhamento para não haver questionamento nem por parte de denunciado, nem do denunciante.”
No meio disso, como o recesso ocorre a partir do próximo dia 20, o presidente da Câmara teria que convocar uma sessão extraordinária com todos os vereadores para abrir uma sessão legislativa extraordinária, e assim possibilitar prazo para a conclusão do processo.
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