Conferência resgata história política de Curitiba

por Assessoria Comunicação publicado 06/10/2016 18h30, última modificação 08/10/2021 10h52

Durante a manhã e a tarde desta quinta-feira (6), foi realizado no auditório da Câmara de Vereadores um resgate histórico da política da capital. A conferência “Memória política de Curitiba”, promovida pela Escola do Legislativo, trouxe professores universitários para falar a estudantes, funcionários, pesquisadores e interessados sobre os modelos de gestão adotados desde a fundação da cidade.

Quem iniciou o ciclo de palestras foi o professor Ricardo Costa de Oliveira, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPR. Ele defendeu a necessidade de uma pesquisa que unifique os diversos estudos sobre o desenvolvimento de Curitiba. “Temos grande necessidade de uma obra sobre Curitiba. Sobre os prefeitos de Curitiba, a evolução urbana, demográfica, a questão desde a transmissão das propriedades e heranças, das grandes sesmarias até a ocupação dos espaços e a criação dos bairros. Temos muitas pesquisas, mas estão espalhadas.”

O professor falou sobre diversos livros publicados por ele e outros estudiosos a respeito da história da política de Curitiba. Dentre eles está o “Análise dos parlamentares paranaenses na entrada do século 21”, um livro de 1999 feito com professores da Universidade Federal do Paraná. “Uma época em que ainda não havia internet e toda esta cultura que evoluiu ao longo destes últimos 20 anos, que é a cultura da transparência, que hoje se viabilizou através dos portais institucionais da transparência.”

Ele lembrou que havia um movimento pioneiro, que era o “Movimento pela ética na política”. “Pela primeira vez fiscalizava-se o poder legislativo, na Câmara e na Assembleia, que eram instituições que vinham ainda da ditadura militar com grande opacidade nas décadas de 80, 90. Ainda muito fechadas, atrasadas. Com uma estrutura baseada na patronagem e com formas de controle pelas lideranças com uma visão de mundo muito arcaicas. Tanto que membros do movimento pela ética na política chegaram a ser agredidos pelos vereadores. Porque não era da cultura política a fiscalização pela sociedade civil. [Eram cobrados] dados básicos sobre assiduidade, que tipo de agenda política era discutida e votada.” Segundo ele, foi este movimento pela ética que abriu todo um leque de agendas de pesquisa em graduação, mestrado e doutorado. A partir daí é que foi sendo formado um acervo acerca do assunto.

Outro livro apontado pelo pesquisador foi o “Silêncio dos Vencedores, genealogia classe dominante, e estado no Paraná”. “O objetivo era entender a política, a sociedade e os grupos superiores aqui do Paraná. É uma obra que investiga essa classe histórica, dominante, que vem desde as origens da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais e da origem da Câmara.”

No livro “Construção do Paraná Moderno”, disse que foram estudados governadores, secretarias estaduais e as influências e impactos sobre os municípios. “Estudamos o século 20. Moisés Lupion, que representa a ascensão do moderno imigrante. Ele foi o primeiro imigrante empresário que alcançou a maior fortuna do estado do Paraná, uma trajetória extremamente interessante”.

Relacionou as conexões com grupos tradicionais da classe dominante histórica, pelo casamento, pelas conexões empresariais. “A dupla Ney Braga e Bento Munhoz da Rocha Neto – um dos nossos maiores intelectuais, professor universitário – filho dessa classe dominante, casado com a filha da família Camargo, Flora Camargo, filho do Caetano Munhoz da Rocha Neto, que foi presidente do Paraná entre 1920 e 1928”. Também relacionou suas gestões com grandes realizações. “Bento cria a Copel, Ney Braga vai criar a Sanepar, Celepar, uma série de instituições que até hoje são fundamentais para a administração pública e um conceito de desenvolvimento.”


O vereador Felipe Braga Côrtes (PSD), que acompanhou a palestra, complementou as informações, lembrando que a história política de sua família começou com Ney Braga e depois com seu pai. “Existe sim esse vínculo [entre as famílias que se sucedem no poder], facilita por conta desse espólio. Mas o eleitor está extremamente crítico, o que tem mudado as eleições. Quem não trabalhar direito e não fizer seu dever de casa vai ficar de fora desse processo”, admitiu.

Paulo Roberto Miranda, secretário municipal de Informação e Tecnologia, compareceu ao evento e elogiou a iniciativa. “É uma oportunidade de conhecer um pouco melhor todos os fatos, os atos e os personagens que compuseram a história da formação da nossa cidade.” O diretor da Escola do Legislativo, Antonio Carlos Torrens, defendeu que é necessário aprofundar as pesquisas sobre a história política de Curitiba. “A escola iniciou uma parceria com a Ufpr, Utfpr e Uninter no sentido de abrir nossas portas para pesquisas e para a academia conhecer o que nós temos de acervo na biblioteca para escrever a história política sob um novo ponto de vista”. A atividade contou ainda com a presença do 2º secretário da Casa, Paulo Rink (PR), que disse que a população hoje carece de informações políticas.

Eleições no século 19
O segundo conferencista, Alessandro Cavassim Alves, explicou como eram as eleições no século 19. Segundo ele, em 1822, após a Independência do Brasil, quem participava do processo para eleger vereadores eram os votantes, que eram homens da classe trabalhadora. Também existiam os “eleitores”, membros da elite política, que escolhiam deputados provinciais, gerais e senadores. Quem coordenava as eleições eram os juízes de paz. “Mas o Brasil vivia uma cultura oral e analfabeta, onde quem dominava a escrita tinha vantagem”, lembrou. Já os presidentes das províncias eram escolhidos pelo Gabinete Imperial, no Rio de Janeiro.

“O regime democrático de 1822 trouxe o "povo-massa" para as urnas, mas sem nenhuma consciência política, e eram conduzidos pelos líderes locais”, concluiu Alves. Por conta disso, para ele, no século 19 a democracia participativa acabou mais reforçando um ideal de estratificação social do que possibilitando uma consciência de igualdade social.” Conforme o palestrante, este regime foi até 1881, quando a Lei Saraiva excluiu os votantes do processo eleitoral e passaram a existir somente os eleitores, “o que restringiu muito a participação popular na política”. Na sua opinião, ainda hoje existe a herança desse modelo e a melhoria dessa estrutura “passa necessariamente pela educação”.

A tarde seguiu com apresentações de trabalhos de resgate histórico. Natália Granato falou sobre um estudo que fez sobre quem foram os presidentes do Legislativo entre 1947 e 1964. Gloria Estevinho tratou da participação feminina na política de Pinhais e região metropolitana de Curitiba. Também foi abordada a tentativa de transformar o dia 20 de novembro em feriado da Consciência Negra, por Marco Aurélio Barbosa. A apresentação de outros trabalhos continua ao longo de toda esta sexta-feira (7), no auditório do Anexo II da Câmara (confira a programação).