Conferência resgata 100 anos da morte de Ernesto Guaita
Em 2016 completam-se 100 anos da morte de um engenheiro cujas obras muitos curitibanos conhecem, mas não sabem de quem é a autoria. Ernesto Guaita foi responsável pelo projeto do Palácio Rio Branco, onde hoje ocorrem as sessões plenárias; participou do planejamento de construções como a Catedral Basílica de Curitiba e do Passeio Público; e elaborou o primeiro plano urbano da capital. Em sua memória, o jornalista João Cândido Martins, servidor da Câmara Municipal, realizou uma pesquisa que apresentou na tarde desta sexta-feira (7) na conferência Memória Política de Curitiba, promovida pela Escola do Legislativo da Casa. O evento começou nessa quinta-feira (6), com palestras durante todo o dia, e terminou no final da tarde de hoje.
“Ernesto Guaita morreu pobre e doente [em 25 de dezembro de 1916]. Não se sabe em que circunstâncias isso aconteceu. Apesar de todo o poder que ele exercia com seu trabalho como engenheiro”, afirmou Martins. O jornalista acredita que o engenheiro foi esquecido pelo fato de que, logo após a sua morte, surgiram as obras do prefeito Cândido de Abreu – que construiu palacetes como o dos Leões, na João Gualberto e o Miró, na Comendador Araújo. “[Cândido de Abreu] ficou famoso e fez muitas mudanças na cidade e as obras do Guaita ficaram apagadas. Não que isso explique o silêncio em torno do Guaita, mas ajuda a entender o cenário.”
Como engenheiro da Câmara Municipal, Guaita foi responsável pelo primeiro plano urbano de Curitiba, realizado em 1885, conhecido como Nova Curitiba. Segundo Martins, o arruamento de toda a área entre o Palácio Rio Branco até o Paço Municipal foi planejado para o crescimento ordenado da região. “Até então não havia quase nenhuma construção entre esses dois prédios”, relatou. “Nessa época, a rua Barão do Rio Branco era de terra e conhecida como travessa Leitner, e antes de se chamar Barão, também foi batizada de Rua da Liberdade”, complementou.
Outra marca do trabalho de Guaita são o Palácio Garibaldi, no Largo da Ordem, e o Sobrado Labsch, na Praça Generoso Marques, em frente ao Paço Municipal. “Tem o Palácio da Liberdade que foi reformado e é onde funciona o Museu da Imagem e do Som. Tem a Casa Gótica, da rua XV, mas foi atípica. Em todas as outras o Guaita foi neoclássico, e na Casa Gótica ele foi gótico: uma casa que não tem janelas, mas 64 portas, todas com arco ogival, tem os ladrilhos portugueses, os trabalhos de cantaria”, lembrou o jornalista.
Saneamento básico no século 19
A história do saneamento básico de Curitiba passa pela Câmara Municipal – que, até a Proclamação da República, em 1889, era quem administrava a cidade. O professor e pesquisador Marcus Roberto de Oliveira, do Núcleo de Estudos Paranaenses da Universidade Federal do Paraná (UFPR), apresentou seu trabalho “A regulamentação dos serviços de água e esgoto no século XIX: uma abordagem sobre o desempenho institucional da Câmara de Curitiba (1871-1900)”.
Segundo ele, o estilo de vida urbano que começou a se formar na capital gerou a demanda pelo saneamento básico. Com as aglomerações urbanas, passou a ser uma necessidade o abastecimento de água e principalmente a coleta de esgoto, por uma questão de saúde pública. “A ausência de esgoto chegou a causar um impasse internacional. Ameaçou-se tirar o Brasil da rota de atracação, já que os navios poderiam levar doenças para a Europa. Isso fez com que Dom Pedro II contratasse um sistema de esgoto principalmente nos portos.”
Em 1871, Curitiba, conforme o exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro, construiu seu primeiro chafariz público, onde os moradores vinham buscar água, que antes era coletada em fontes e bicas. “Era no Largo da Fonte, onde hoje é a praça Zacarias, uma obra feita pelo engenheiro Antonio Rebouças, que atualmente dá nome à rua da Sanepar”, lembrou. A partir daí, começou a se pensar em um primeiro sistema de água encanada, com um projeto encomendado pela Câmara a um engenheiro alemão, mas que não foi concretizado.
Um novo projeto foi elaborado em 1880 pelos engenheiros Joaquim Rodrigues Antunes e Edson Mendes Gonçalves, mas nesta proposta pensou-se na concessão do privilégio de exploração. Mas segundo o pesquisador, quando a Câmara apresentou a proposta ao presidente da província, Carlos de Carvalho, este rejeitou-a. “Dizendo que o abastecimento é um serviço do município e não da província”, acrescentou Oliveira.
“A Câmara só vai formalizar esta administração em 6 de abril de 1855, quando celebrou um contrato com o engenheiro Fernando de Matos para implantar o sistema de uso das águas do rio Barigui, mas fracassou”, complementou. Em 1899, o prefeito lançou o primeiro edital de concorrência para o fornecimento de água em Curitiba. “Nenhuma proposta foi apresentada. Falava-se que era um serviço muito difícil e aqui não se tinha know-how para fazê-lo.”
A partir de 1903, o projeto ficou sob a responsabilidade do governo do estado e as obras começaram em 1908. “De 1871 a 1900 foi um período em que o saneamento básico ficou praticamente fora da agenda. Predominavam as "casinhas" nos quintais e poucas casas tinham banheiros internos. Era um luxo. E os banheiros internos, com fossas rasas, davam muito problema. Os surtos epidêmicos no início do século 20 foram decisivos para a implantação dos serviços de água e esgoto”, concluiu o professor.
Demais conferências e trabalhos
Pela manhã, a primeira conferência abordou os efeitos das ações diretas de inconstitucionalidade (ADI) estaduais no processo legislativo municipal e estadual. A atividade foi ministrada pelo professor Fabrício Ricardo de Limas Tomio, do Programa de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Em seguida, falou o professor André Ziegman, do curso de Ciência Política do Centro Universitário Uninter, que fez um balanço da literatura sobre as instituições legislativas brasileiras.
Na parte da tarde, Romer Santos discutiu a trajetória dos partidos políticos em Curitiba por meio das coligações proporcionais e Rafael Perich classificou os projetos de lei apresentados de 2013 a 2015. “O lobby enquanto técnica para a ação estratégica de defesa de interesses” foi o trabalho de Lucas Vicente Cardoso de Souza.
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