Concluídas oitivas de acusação, Processante ouve defesa da vereadora

por Assessoria Comunicação publicado 08/11/2017 18h50, última modificação 21/10/2021 11h17

Nesta quarta-feira (8) a Comissão Processante que investiga a denúncia contra a vereadora Katia Dittrich (SD) por supostamente exigir parte do salário dos funcionários de seu gabinete ouviu quatro depoimentos. Com as oitivas de Ronaldo Filho e Samira Tomé, os depoimentos presenciais dos denunciantes foram concluídos – outros dois foram colhidos no fim do mês passado (leia mais) com todos reiterando a acusação contra a parlamentar. A defesa indicou nove testemunhas, das quais Salomão Sarraff e Thais Ramos depuseram hoje.

A tomada dos depoimentos está programada para terminar nesta quinta (9), com oitivas das outras sete testemunhas indicadas pela defesa e da própria Katia Dittrich. A Comissão Processante retoma o trabalho às 10 horas, no auditório do Anexo II, interrompendo os interrogatórios por volta do meio-dia e retomando os depoimentos às 14 horas. A parlamentar será a última a ser ouvida pelos vereadores Cristiano Santos (PV), presidente; Osias Moraes (PRB), relator; e Toninho da Farmácia (PDT). Igual à primeira sessão de depoimentos, o advogado da defesa, Paulo Henrique Golambiuk acompanhou todas as oitivas e fez perguntas aos interrogados.

“Temos 7 pessoas a serem ouvidas, além da vereadora Katia Dittrich. Não queremos atropelar etapas nem criar nenhum ato injusto. A ampla defesa será garantida. Imagino que até o final deste ano tenhamos a conclusão de tudo, inclusive a votação em plenário”, disse à imprensa Cristiano Santos.

Denunciantes
Dizendo não ter passado pela exigência da devolução de parte do salário, o servidor cedido pela prefeitura ao mandato da vereadora, que não ocupa cargo comissionado, Ronaldo da Silveira Filho foi o primeiro a depor hoje na Comissão Processante. Ele disse que assinou a denúncia junto com os demais ex-comissionados por “não compactuar com aquilo que vivi dentro do gabinete”, pois isso “não é sustentável num sistema que a gente imagina democrático, [não dá para] aceitar e não fazer nada disso”.

Ronaldo confirmou ser o autor da gravação apresentada à Comissão Processante, cujo áudio mostra uma conversa dele com Salomão Sarraff. Feito em maio, o áudio mostraria os dois funcionários de Katia Dittrich conversando sobre a exoneração, do gabinete, do jornalista Diego Oliveira Xavier, com referência a ele “não fazer o acerto”. Ele também se queixou de assédio moral e disse que o marido da parlamentar, Marcos Whiters, “agia como se fosse o vereador, chamando pessoas para reunião, dizendo o que devia ser feito inclusive em reuniões fora da Câmara”.

Ronaldo, denunciante, e Salomão, testemunha de defesa, são servidores que trabalharam juntos, por vários anos, para o ex-vereador Zé Maria – situação que fez os dois se tornarem amigos. Primeiro suplente do Partido Solidariedade, Zé Maria foi acusado por Katia de armar um “complô” para tomar dela o mandato, que o ex-vereador nega. O depoente disse ter sido indicado para o cargo não por influência do antigo chefe, com quem falou “raramente”, mas pela relação com o partido (Ronaldo secretariou a chapa proporcional na eleição de 2016), com a Educação (ele é pedagogo concursado da Secretaria de Educação) e com as causas das pessoas com deficiência (decorrente da experiência nos mandatos de Zé Maria).

“O Salomão ainda trabalha lá [com a vereadora]”, disse Ronaldo sobre eles terem armado um complô a mando do suplente. Ao advogado Paulo Henrique Golambiuk, o depoente disse que era exigido, dos cargos comissionados com remuneração mais alta, devolução de 5% do salário, e que o marido da parlamentar “era o contato” nestes momentos. Questionado por Osias Moraes, admitiu que nunca presenciou o repasse do dinheiro, exceto quando ouvia comentários dos colegas de trabalho, inclusive do próprio Salomão. Ele questionou a defesa arrolar testemunhas nomeadas depois das situações denunciadas.

A advogada Samira Tomé disse que ouviu da vereadora “você vai ter que me dar R$ 2 mil”, dentro da sala de Kátia, que estava acompanhada pelo marido. Ela assina a denúncia e disse que, ao se negar a realizar o pagamento, perguntou se seria exonerada, ao que a resposta teria sido afirmativa. Samira relatou ter tirado o crachá na hora e deixado a Câmara Municipal. “Aquilo me deixou com ojeriza da Câmara, da política”, disse a advogada, que afirmou não ter denunciado o caso antes por não ter provas do ocorrido.

“Em março, a Virgínia [Costa] me ligou chorando, aos prantos, dizendo ter sido exonerada [por não fazer a devolução]”, lembrou Samira, acrescentando que então tinha aconselhado ela “a meter o rabo entre as pernas”, pois também não teria provas. Ela mudou de ideia depois de receber ligação da ex-chefe de gabinete, Luciana Chuchene, em maio, na qual pedia para conversar e que tinha recibo de transferência eletrônica para a vereadora Katia Dittrich, assim como o jornalista Diego também teria. “Vocês têm materialidade do delito”, afirmou ter dito a eles depois. “Por mim, tinha levado o caso só ao Ministério Público”, completou.

Samira também citou o servidor Salomão Sarraff, com quem teria conversado em janeiro sobre a situação após ouvir boatos no gabinete sobre a devolução dos 5% à vereadora. Ele teria dito à advogada que era algo “normal” na Câmara. Naquele mês, único que a advogada trabalhou na Câmara, ela contou que depois do dia do pagamento, “a vereadora começou a fazer umas brincadeiras, sobre "começar a fazer o confessionário"” e que a “expressão foi bastante usada dentro do gabinete”. Questionada pelo advogado da defesa se teria instruído os demais a fazer a denúncia, disse que “todos denunciantes têm grau superior, todos têm condição suficiente [de redigir]”.

A advogada se queixou à Comissão Processante de Katia Dittrich ter atribuído sua saída do gabinete não à recusa em fazer as devoluções, mas à interferência de uma deputada federal do PDT, “com quem tive diferenças políticas”, via Fernando Francischini (SD). Ela relatou que, antes de começar o mandato, cuidava de questões legais para a vereadora e chegou a emprestar dinheiro para Katia lidar com animais resgatados e para ir a Brasília. Samira respondeu positivamente às perguntas sobre a presença frequente do marido da parlamentar, Marcos Whiters, no gabinete.

Paulo Golambiuk, advogado da defesa, ao comentar esses depoimentos com a imprensa que acompanhou os depoimentos, disse que “a palavra [deles] não vem robustecida de provas materiais”, que “não houve tantas contradições quanto na primeira tomada de depoimentos, mas que elas existiram”. Questionado sobre a tese de que os recibos são comprovantes de empréstimos pessoais entre Katia Dittrich e os servidores, respondeu que cabe a quem acusa apresentar provas.

Defesa
Mostrando-se irritado com a gravação escondida feita pelo ex-colega de trabalho, Salomão Sarraff argumentou que, na opinião dele, o áudio não diz nada demais, pois o “acerto” citado ali era a necessidade de o jornalista Diego devolver à Katia R$ 1 mil que teria tomado emprestado para despesas com a doença da mãe. Para ele, Ronaldo – que depôs no início da tarde – “que é psicólogo, induziu a Samira, induziu a Virgínia, ele induziu as pessoas”. Servidor da prefeitura, que trabalhou cedido à Câmara por 23 anos para diversos vereadores e se aposentou em março de 2017, Salomão disse que ele é que é vítima de um complô. “Querem achar um ponto fraco”, opinou, “mas eu ando de cabeça erguida, porque sou honesto no que faço”.

Sob juramento, Salomão disse nunca ter devolvido dinheiro do seu salário para a vereadora Katia Dittrich, nem ter presenciado ou sabido sobre isso ocorrer no gabinete parlamentar. Sobre ter passado do mandato do vereador Zé Maria para o da acusada, relatou que Ronaldo encontrou com ela, casualmente, na rua, após a eleição, oferecendo seu trabalho e obtendo a simpatia de Katia. “E que ia falar de mim para ela [para continuar o trabalho na Câmara]”, disse. Por várias vezes, declarou rompida a amizade com Ronaldo, que antes de gravá-lo frequentava a sua casa. Também negou ter falado com Samira sobre a devolução de 5% do salário.

Questionado sobre a postura de Katia Dittrich no mandato, afirmou que “ela é muito tranquila e procura fazer o trabalho dela honestamente”, que “faz [o trabalho parlamentar] com sabedoria”. Disse não saber se o marido da vereadora tem alguma ocupação profissional no momento e que Marcos frequentava bastante o gabinete por dirigir para a vereadora, almoçar com ela e, “por ser mais experiente, mostrar a ela o que ela tem que fazer”. Negou ver nessa atitude uma usurpação da função da vereadora.

Thais Ramos foi taxativa ao dizer que os denunciantes foram exonerados do mandato de Katia Dittrich por “não desempenharem bem suas atividades”. Sobre Virgínia, disse que era “ríspida”, “muito rude” e que eles não tinham, em termos de comunicação social, “o que os outros gabinetes tinham”. Comentário do mesmo tipo foi direcionado ao outro jornalista denunciante, Diego, que “não estava fazendo o trabalho para o qual tinha sido designado” e ficava “indo nos outros gabinetes, palpitando em outros assuntos [dos projetos de lei, a cargo da advogada contratada pelo mandato]”. Sobre a advogada Samira, disse que “não correspondia às expectativas”, pois eles teriam recebido “devoluções dos pareceres [do mandato] por terem erros e informações incompletas”.

Ela, Thais, relatou à Comissão Processante que achava que a ex-chefe de gabinete, Luciana Chuchene, desenvolveu ciúmes dela pela atuação próxima à vereadora, assessorando a parlamentar em todas as agendas externas do mandato. “Passados alguns meses, ela criou uma rixa comigo”, comentou, antes de dizer que ninguém foi obrigado a levar seu lixo pessoal para casa, mas que esse era um acordo do gabinete – cada um se livrar dos próprios resíduos – depois que uma lista de compras foi parar numa postagem depreciativa no Blog do Tupan. “Tínhamos certeza que alguém estava pegando papel [do lixo], [então] ficou designado que cada um levaria seu lixo pessoal embora, ninguém impôs”.

Ao depor, igual fez Salomão ao ser questionado se devolvia dinheiro do salário à vereadora, Thais Ramos disse nunca ter passado por isto, nem ter conhecimento disso ocorrer dentro do gabinete. Relatou sua relação de dez anos com a vereadora na defesa da causa animal, atribuindo a esse ativismo a presença do marido, Marcos Whiters, no gabinete. “Ele atende junto com ela, também é ativista”, afirmou. Segundo a parlamentar, hoje a vereadora é responsável por 70 animais, mantidos numa chácara.

Depois do depoimento à comissão, Thais disse à imprensa que já ajudou a vereadora no trabalho pela causa animal: “antes da coisa sempre ajudei porque sou ativista da causa, como também sempre dependi de doação de outras pessoas idôneas”. “Não participo com doações, participo referente à causa, participo de feiras, eu colaboro, ajudo as pessoas a adotarem animais. Não é referente a valores”, concluiu.