Comissão discute a cidadania em seminário

por Assessoria Comunicação publicado 26/05/2006 16h45, última modificação 09/06/2021 15h52
“Como presidente da Comissão Permanente de Segurança pública e Direitos da Cidadania da Câmara de Curitiba entendo que a evolução social só pode ocorrer por meio da troca de informações e debates. Transmitindo idéias que possam ser levadas para o maior número de pessoas possíveis”, disse o vereador Valdenir Dias (PMDB) justificando sua iniciativa em promover seminário sobre cidadania, na manhã desta sexta-feira (26), no auditório do Anexo II do Legislativo.
Para o parlamentar, cidadania é a qualidade inerente a cada cidadão que lhe permite exercer seus direitos sociais e civis dentro da sociedade. “Os atos de violências são cometidos por cidadãos desassociados de seus direitos. Só podemos dar ênfase à democracia conhecendo nossas dificuldades, na busca de soluções. Isso é mudança de cultura e desmistificação de conceitos”.
Violência
Para o doutor em Sociologia da Universidade Federal do Paraná, professor Pedro Rodolfo Bodê de Morais, ser cidadão é participar ativamente dos destinos das cidades em que moramos e do país, começando por eleger nossos representantes. “Isso é um ato de poder que temos, em que transferimos uma parte aos outros. Mas, precisamos acompanhar de perto o que nossos representantes estão fazendo. É a nossa responsabilidade. Nunca devemos abrir mão do poder de decisão sobre as coisas”, disse. Morais acrescentou, ainda, que, o poder tem aspecto virtuoso quando traduz condições para o bem-estar coletivo. “Mas, também, pode se transformar numa droga, como a cocaína, servindo apenas para sanar seus próprios vícios”.
Em relação à violência contra a mulher, o especialista afirmou que é “uma patologia do poder. Machista considera a mulher como ser inferior, que pode ser maltratada. Mas, cabe às mulheres a cobrança de atitudes, usando seu poder em casa e junto aos seus representantes para mostrar que essa não é uma situação natural”, afirmou. Morais acredita que na medida que não se criam formas quando da denúncia de violências contra a mulher, as autoridades dão apoio informal ao fato. “Uma sociedade que não cria mecanismos de defesa eficazes contra a violência às mulheres, velhos e crianças não pode ser chamada de civilizada. Não adianta exigir mais deles. Por exemplo, mais presídios do jeito que estão. O Estado precisa dar condições de direito e defesa para o cidadão. É um problema de todos. Só assim podemos dizer que vivemos numa sociedade civilizada. Precisamos utilizar o poder que está conosco, acompanhando nossos representantes e cobrando atitudes”, afirmou Morais.
Oportunidade
Lembrando da onda de terrorismo promovida por organizações criminosas em São Paulo, o secretário de Assuntos Estratégicos, Nizan Pereira, disse que o que aconteceu foi aquilo que muitas pessoas já estão vendo há algum tempo. “O que existe há muito tempo no Brasil é uma situação de absoluta falta de oportunidades. E isso é muito sério. O que falta para muitos sobra muito para alguns”.
Para Pereira, com exceção de alguns poucos como os dois jogadores Ronaldo, Silvio Santos, Emerson Fitipaldi, que moram no exterior, ninguém mais está salvo neste País. “Hoje, fazer carreira no crime é muito mais vantajoso e rápido do que usar oportunidades legais”, disse, citando o caso do traficante Marcola, líder do PCC, e uma pessoa de 35 anos que decidiu caminhar dentro da lei. “Precisamos de instituições que funcionem, cumprindo seu papel institucional, conversando com o cidadão. E, por razão muito simples. Sem esperança as pessoas se desesperam e, muitas vezes, ingressam na marginalidade. Precisamos rediscutir nossa dívida externa e a avidez com que os bancos cobram juros do cidadão, mesmo não tendo inflação. É fundamental rediscutir essas questões e olharmos para nós mesmos e perceber que vivemos num país com absoluta desigualdade social”, afirmou o secretário.
Para a presidente da Comissão de Vítimas de Crimes da OAB-PR, advogada Rosi de Oliveira Dequech, “a sociedade que se diz justa, não pode mais tolerar a violência contra a mulher. E a pior violência é a doméstica, porque é invisível”. Dequech disse que no Brasil, a cada 4 minutos uma mulher é violentada numa estatística que atinge 56% das mulheres.
Por sua vez, a psicóloga Vera Lúcia Santos, presidente do Patronato Penitenciário da Secretaria da Justiça, “quanto mais a sociedade excluir as pessoas que cometeram delitos e cumpriram suas penas, pior será para todos. Esquecemos que estas pessoas retornam para sociedade e se não permitimos que resgatem sua cidadania, estamos promovendo o aumento da violência. E, Curitiba não dá oportunidade, porque não temos políticas que garantam esse resgate”, afirmou Santos.
Participaram do seminário lideranças comunitárias de diversos segmentos da sociedade organizada, no qual as pessoas que concluíram o curso sobre cidadania, através do convênio entre a com OAB-Pr, UFPR e a Comissão de Segurança Pública e Direitos da Cidadania da Câmara, receberam seus certificados. No evento hoouve homenagem aos taxistas.