Comissão da Visibilidade Negra protocola seu primeiro projeto de lei em Curitiba

por José Lázaro Jr. | Revisão: Vanusa Paiva — publicado 07/07/2022 12h20, última modificação 07/07/2022 13h15
“Enegrecendo Muros” incentiva arte urbana sobre personalidades negras da cidade, com grafites nos bairros.
Comissão da Visibilidade Negra protocola seu primeiro projeto de lei em Curitiba

Projeto Enegrecendo Muros seria levado a todas as dez regionais de Curitiba. (Foto: Arquivo/CMC)

Realizar um concurso cultural para a pintura de 20 murais nos bairros da capital do Paraná destacando personalidades negras da história brasileira. Isso é o que propõe o primeiro projeto de lei apresentado na Câmara Municipal de Curitiba (CMC) pela Comissão Especial da Visibilidade Negra, após audiências públicas e consultas aos movimentos sociais e a órgãos do Executivo. O edital público de seleção caberá à Fundação Cultural de Curitiba (FCC), da seleção dos muros em locais de grande visibilidade à análise das propostas de grafite relacionado ao tema da iniciativa (005.00137.2022).

O projeto Enegrecendo Muros é claro, em seu artigo 3º, ao afirmar que os trabalhos deverão tratar “unicamente em referência a personalidades negras da história do país e preferencialmente da cidade de Curitiba, reconhecidas pela luta na promoção da igualdade racial pelo Movimento Negro Nacional”. Ali a iniciativa diz que não se trata somente de realizar retratos, “mas também o uso de elementos que representam a personalidade indicada”. Ao todo, serão dois murais grafitados por regional da cidade, que deverão permanecer intocados por pelo menos dois anos após a sua execução.

A preferência pelo grafite é explicada pela Comissão da Visibilidade Negra já no início da proposição, que traz um dispositivo para reconhecer, em Curitiba, a técnica como “manifestações artísticas de valor cultural, composta por palavras, frases e/ou desenhos de cunho artístico, escritas, pintadas ou desenhadas, sem conteúdo publicitário”. Esse cuidado, justifica o colegiado, é para enfrentar o preconceito existente contra a prática e “reconhecer e valorizar a pluralidade de ações no âmbito das artes urbanas no município”.

Os murais deverão ser acompanhados de placa informativa, com QR Code direcionando quem busca mais informações a uma plataforma virtual com dados biográficos das personalidades negras homenageadas pelo projeto Enegrecendo Muros. A iniciativa prevê que o processo será acompanhado por uma Comissão de Habilitação e Seleção, composta por seis membros, com cadeiras para a FCC, para a Assessoria de Direitos Humanos e para membros da sociedade civil no conselho de Patrimônio Cultural e no de Promoção da Igualdade Étnico-Racial, além de um membro do Movimento Negro.

Comissão Especial
A Comissão da Visibilidade Negra, no papel, chama-se Comissão Especial para Tratar de Visibilidade da Presença Negra na Cidade de Curitiba e da Contextualização Histórica de Monumentos, Edifícios e Logradouros Públicos Visando ao Direito da Sociedade ao Conhecimento de Sua Formação Histórica, Intelectual e Cultural (051.00001.2020). Ela é presidida por Carol Dartora (PT), tendo João da 5 Irmãos (União), vice, Herivelto Oliveira (Cidadania), relator, Jornalista Márcio Barros (PSD), Maria Leticia (PV), Oscalino do Povo (PP) e Osias Moraes (Republicanos) na sua composição.

A criação da comissão foi aprovada em plenário pela CMC em agosto de 2020 (leia mais). É uma resposta do Legislativo ao entendimento do Grupo de Trabalho Nacional de Políticas Étnico Raciais da Defensoria Pública da União de que há um “apagamento e silenciamento” da população negra na história da capital do Paraná. Recentemente, o plenário da CMC prorrogou a duração da Comissão da Visibilidade Negra até outubro de 2022 (084.00006.2022).

Tramitação
Quando um projeto é protocolado na CMC, o trâmite regimental começa com a leitura da súmula dessa nova proposição durante o pequeno expediente de uma sessão plenária. A partir daí, o projeto segue para instrução da Procuradoria Jurídica (Projuris) e, na sequência, para a análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Se acatado, passa por avaliação de outros colegiados permanentes do Legislativo, indicados pela CCJ de acordo com o tema da proposta.

Durante a fase de tramitação, podem ser solicitados estudos adicionais, juntada de documentos, revisões no texto ou posicionamento de outros órgãos públicos a respeito do teor da iniciativa. Após o parecer das comissões, a proposição estará apta para votação em plenário, sendo que não há prazo regimental previsto para a tramitação completa. Caso seja aprovada, segue para a sanção do prefeito para virar lei. Se for vetada, cabe à Câmara dar a palavra final – se mantém o veto ou promulga a lei.

Restrições eleitorais
Em respeito à legislação eleitoral, a comunicação institucional da CMC será controlada editorialmente até o dia 2 de outubro. Nesse período, não serão divulgadas informações que possam caracterizar uso promocional de candidato, fotografias individuais dos parlamentares e declarações relacionadas a partidos políticos, entre outros cuidados. As referências nominais serão reduzidas ao mínimo razoável, de forma a evitar somente a descaracterização do debate legislativo.

Ainda que a Câmara de Curitiba já respeite o princípio constitucional da impessoalidade, há dez anos, na sua divulgação do Poder Legislativo, publicando somente as notícias dos fatos com vínculo institucional e com interesse público, esses cuidados são redobrados durante o período eleitoral. A cobertura jornalística dos atos do Legislativo será mantida, sem interrupção dos serviços de utilidade pública e de transparência pública, porém com condicionantes (saiba mais).