Com 20% a mais de óbitos, Huçulak apela à CMC ajuda para sensibilizar a cidade
“Adquirir covid é uma roleta russa: ninguém sabe se terá sintomas leves, moderados ou graves. Das pessoas que têm sintomas moderados e graves, 25% vai morrer, ou seja, 1 a cada 4 pessoas vai morrer”, disse Huçulak. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
“Mais de 50% do contágio acontece dentro das famílias, é dentro de casa. E aí eu apelo uma campanha para os grupos que vocês representam, para que as pessoas usem máscara, a máscara é efetiva, a máscara protege”, declarou a secretária municipal de Saúde, Márcia Huçulak, aos vereadores de Curitiba nesta quarta-feira (10). A gestora do SUS (Sistema Único de Saúde) na capital participou da sessão plenária, a pedido próprio feito ao presidente da Casa, Tico Kuzma (Pros), e ao líder do governo, Pier Petruzziello (PTB), para fazer um apelo ao Legislativo, na sensibilização da população sobre o agravamento da pandemia da covid-19.
“A despeito de todas as bobagens que falam, nós somos a prova viva. Profissionais de saúde tiveram covid, mas pelo nível de exposição dos profissionais de saúde, que estão de frente com o vírus atendendo o dia inteiro, nós temos – comparado à população – um número de infecções muito baixo, porque o profissional de saúde usa os EPIs, usa a máscara”, continuou a secretária de Saúde. Segundo ela, o aumento de casos em 2021 ocorreu a partir do dia 15 de fevereiro, em um momento em que a cidade registrava a redução do uso de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) pelo SUS.
Na última semana, houve um aumento de 18% de novos casos, 27% de internamentos e 20% de óbitos. Esses percentuais fizeram que com a Secretária Municipal de Saúde (SMS), entre os dias 1º e 10 de março, ampliasse mais 67 leitos de UTI, chegando a 439 hoje. A expectativa, de acordo com Márcia Huçulak, é que o Hospital Universitário Evangélico disponibilize mais 10 leitos em breve. No entanto, a gestora disse que a oferta de UTIs acaba retirando do sistema de saúde leitos clínicos, que também são necessários para o atendimento da covid-19 – hoje, apenas na rede pública hospitalar, Curitiba conta com 556 leitos clínicos.
Para evitar o colapso, a SMS decidiu reorganizar toda sua a rede de atendimento: as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) vão funcionar como centros de internamento para casos de covid-19 e pronto atendimento para casos graves; e as unidades de saúde vão atender casos leves e moderados, passando a funcionar como pronto atendimento. “Estamos reorganizando as 42 unidades de saúde, que vão fazer as vezes das urgências pouco urgentes ou não urgentes. É aquele indivíduo que às vezes está com uma dor, deveria procurar uma unidade de saúde, mas procura a UPA”, explicou Huçulak.
“As UPAs serão usadas para fazer o atendimento de pacientes moderados [da covid-19]. A estrutura que optamos é muito superior do que fazer uma estrutura [hospital de campanha]. Fizemos esse movimento no sentido de que as pessoas sejam acolhidas numa estrutura melhor. O paciente de covid chega num comprometimento pulmonar muito grave e necessita de oxigênio de alta frequência. Nossas UPAs têm estrutura porque nós temos rede de gases, temos respiradores, monitores, bombas de fusão, todas as drogas, antibióticos. Temos todos os protocolos para atender o paciente”, continuou a secretária de Saúde de Curitiba.
Rede privada e cirurgias eletivas
Márcia Huçulak também pediu aos parlamentares que orientem a população a não procurar os serviços de saúde se o problema não for urgente. “É um apelo que a gente faz. A pessoa que faz um procedimento eletivo [como uma cirurgia plástica ou bariátrica, por exemplo] corre o risco de pegar covid e deixa de abrir leito para atender covid”, frisou, ao também fazer a recomendação aos hospitais que atendem convênios particulares: “quem puder adiar, adie as cirurgias eletivas. Precisamos que toda a força da rede pública, privada e contratada do SUS esteja devotada para a oferta do sistema de saúde como um todo”.
O recado à rede privada tem, conforme a secretária, forte embasamento. Ela relatou que 40% das pessoas que buscam atendimento médico tem convênio, mas os hospitais particulares “estavam fechando seus PAs [pronto atendimentos] e esses pacientes de convênio não têm opção e vêm para o sistema público”. “Eu estou, inclusive, baixando hoje um decreto exigindo que a rede privada nos apresente, em 24 horas, o seu plano de contingência, como nós fizemos na rede municipal e na contratada”, anunciou.
Perfil da nova onda
Alcides Oliveira, diretor do Centro de Epidemiologia da SMS, expôs ao plenário que a nova onda da covid-19 em Curitiba e no Paraná é um reflexo de toda a movimentação da doença e da transmissão que iniciou em janeiro deste ano no Amazonas, com a variante brasileira chamada P1, que torna o vírus mais contagioso e mais resistente a anticorpos, “e que vem circulando por todos os estados brasileiros, inclusive da região Sul”.
“Hoje estamos no alerto máximo da transmissão da covid na cidade e no estado. O pico é um reflexo claro de todo o comportamento da cidade e a nova variante veio acrescentar esse aumento da transmissão. Nós já sabemos que as cepas, tanto da África do Sul quanto da Inglaterra, são até 70% mais transmissíveis. Precisamos olhar para esta situação e entender que existe um público vulnerável, que são os idosos com mais de 60 anos e que mais apresentam complicações da covid”, informou Oliveira.
Outro detalhe que requereu a atenção dos vereadores é a mudança do perfil da faixa de idade das pessoas que são internadas com sintomas moderados e graves da doença. O diretor da SMS alertou que, tanto na Europa quanto no Brasil, a idade regrediu e pessoas entre 20 e 59 anos, principalmente a partir dos 30 anos, têm necessitado de atendimento precoce, em alguns casos com até três dias do início dos sintomas. “Muitos jovens adultos estão necessitando de terapia intensiva. É uma mudança no perfil de transmissão e no impacto do serviço de saúde. É claro e notório.”
“Adquirir covid é uma roleta russa: ninguém sabe se terá sintomas leves, moderados ou graves. Das pessoas que têm sintomas moderados e graves, 25% vai morrer, ou seja, 1 a cada 4 pessoas vai morrer. Reforço, 25% das pessoas que internam, morre. Se for para UTI entubado, 50% das pessoas vai à óbito. Nós precisamos ter UTI, mas não vai salvar [todos]. Alguns casos, [mesmo] com a melhor UTI do mundo, com os melhores recursos, com o melhor respirador, ainda assim com tudo que a gente possa fazer, alguns irão falecer. E são mortes evitáveis se não houver o contágio”, finalizou Márcia Huçulak.
Números mais recentes
Conforme boletim epidemiológico da Prefeitura de Curitiba, a cidade registrou, nesta terça-feira (9), 1.105 novos casos e 20 óbitos de moradores da cidade pela covid-19, dos quais 15 foram contabilizados nas últimas 48 horas. Até agora, a cidade já soma 3.094 vítimas da doença. No total, 150.564 pessoas testaram positivo e são 11.035 os casos ativos na cidade. A taxa de ocupação dos 439 leitos de UTI do SUS que são exclusivos para o tratamento da doença está em 93%, restando apenas 16 leitos livres.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba