Cicloativistas reivindicam que Plano Diretor contemple uso da bicicleta

por Assessoria Comunicação publicado 05/06/2014 19h35, última modificação 24/09/2021 08h30

Ampliar o uso da bicicleta como meio de transporte, garantir melhores estruturas de deslocamento, bem como a segurança dos ciclistas. Estas foram algumas das propostas debatidas na terceira audiência pública de revisão do Plano Diretor de Curitiba, realizada na Câmara Municipal nesta quarta-feira (5). O evento contou com a presença de vereadores, técnicos da prefeitura, especialistas da área, ciclistas, entidades da sociedade civil, profissionais e comunidade em geral.

Jonny Stica (PT), presidente da Comissão de Urbanismo e Obras Públicas, colegiado que promove as audiências, comentou sobre a necessidade de existir uma rede integrada de ciclovias e ciclofaixas. “Não adianta disponibilizar aluguel de bikes, por exemplo, se não houver uma rede. É necessária a integração com outros modais, bem como vestiários nas empresas. Enfim, são várias ações, e a soma delas é que vai garantir a ciclomobilidade”, afirmou.

Ainda segundo Stica, em deslocamentos de até cinco quilômetros a bicicleta é o meio de transporte ideal. “A ideia de que é um mecanismo exclusivo para  lazer já foi superada. Adotar esse novo modal não é uma utopia, afinal já há cidades no mundo com 50% dos deslocamentos sendo feitos por bicicleta”, completou o vereador.

Propostas

Representando o cicloativismo, Jorge Brand e Rodolfo Jaruga falaram sobre as ações desenvolvidas pela Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (CicloIguaçu) e apresentaram propostas para contemplar a ciclomobilidade no Plano Diretor de Curitiba. Brand, um dos idealizadores do movimento Bicicletada, defendeu a integração de Curitiba com a Região Metropolitana por meio de ciclovias e ciclofaixas. “Quanto mais pessoas deixarem os carros em casa, mais o trânsito vai ficar melhor”, completou.

Rodolfo Jaruga, coordenador jurídico da CicloIguaçu, sistematizou três ideias para a revisão do PD: criação de espaços para as bicicletas nos chamados eixos estruturais, como está sendo feito na Avenida Sete de Setembro; centro acalmado, com limite de velocidade de 30 km/h para os veículos; e criação de sistema público e gratuito que disponibilize bicicletas à população.  

Representando o Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc), o arquiteto e urbanista Antonio Carlos Miranda afirmou que várias das demandas apresentadas na audiência pública estão sendo contempladas no pré-projeto do PD elaborado pelo município. “Já iniciamos as ciclofaixas na Sete de Setembro e começamos as discussões sobre a criação da área 30 km/h. Esta via está sendo um laboratório e já nos dá algumas informações”, disse.

Miranda admitiu que, “por um tempo”, a implantação das vias calmas deve gerar polêmica, mas acredita que, com maior uso pelos ciclistas, a situação deve ser normalizada. Ele reforçou a necessidade da cicolofaixa para retirar os ciclistas da canaleta dos ônibus. “Em breve teremos o ligeirão azul aqui na Sete, então haverá dois biarticulados vermelhos parados e o azul passando no meio, o que impossibilita o uso seguro da canaleta por bicicletas”.

Violência no trânsito

Outro tema discutido foi a necessidade de garantir a segurança dos ciclistas frente ao uso do automóvel. Jorge Brand propôs o estabelecimento de um pacto pela “morte zero” no trânsito. “Em 2013, segundo o Detran, o Paraná registrou 2.618 mortes no trânsito. Podemos resolver isso, não é uma utopia, mas o primeiro passo é acalmar a cidade”.

Cassiano Ferreira Novo, diretor da Escola Pública de Trânsito da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) assegurou que Curitiba registrou redução de 14% no número de mortes, de 263 em 2012 para 226, em 2013. No entanto, Cassiano alertou que o único segmento em que não houve redução no número de vítimas foi o de usuários de bicicletas. “Em 2012, 13 morreram e no ano passado 14”, lamentou.

Para conter a violência, o ciclista Mauro Ribeiro, campeão em vários torneios internacionais, ressaltou a necessidade de educar as pessoas. Ribeiro comentou sobre sua vivência na Europa, onde morou por 26 anos, e discorreu sobre vários procedimentos adotados em países europeus e que promovem segurança aos ciclistas e pedestres. Ele propôs restrições aos novos motoristas, como limite de velocidade e trafegar em rodovias e sugeriu que donos de bicicletas paguem tributos similares aos dos carros, como IPVA e DPVAT, para pagamento de despesas médicas com eventuais acidentes.

Participação

Entre as principais reivindicações apresentadas na audiência pública estão a construção de mais ciclovias e ciclofaixas, bicicletários e paraciclos espalhados pela cidade, sistemas de aluguel e compartilhamento de bicicletas (bikesharing), vestiários nas empresas, conexão entre as ciclovias existentes, iluminação nas ciclovias e espaço para as bicicleta nos ônibus e no futuro metrô.

Participaram do debate os vereadores Bruno Pessuti (PSC), Toninho da Farmácia (PP), Professora Josete (PT) e Felipe Braga Côrtes (PSDB). Acompanharam a audiência o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc), Sérgio Póvoa Pires, o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU-PR), Jeferson Dantas Navolar, além de aproximadamente 50 pessoas da sociedade civil.

Segundo Jonny Stica, as questões levantadas nas audiências serão sistematizadas em grupos de estudo realizados pelo CAU-PR (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná) e, posteriormente, enviadas à prefeitura – responsável por enviar ao Poder Legislativo, em forma de projeto de lei, a revisão urbanística. O próximo debate sobre a revisão do Plano Diretor será no dia 7 de agosto, com o tema Mobilidade urbana e Transporte.