Campanha de prevenção ao câncer colorretal é divulgada na Tribuna Livre
Nessa quarta-feira (15), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) recebeu o médico endoscopista Rafael William Noda, presidente da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva – Regional Paraná (Sobed-PR). A convite do vereador Nori Seto (PP), o médico ocupou a Tribuna Livre para falar sobre o “Março Azul-Marinho”, campanha pela prevenção do câncer colorretal. Nori Seto agradeceu a presença de Rafael e destacou que a CMC apoia a campanha. “Desde ontem, até o dia 27, o prédio da Câmara terá sua fachada iluminada com a cor azul-marinho”, disse o vereador. A Tribuna Livre é o espaço semanal concedido durante as sessões ordinárias das quartas-feiras para que especialistas, por iniciativa dos vereadores, pronunciem-se sobre temas de interesse coletivo.
Nori Seto lembrou que o câncer colorretal, também conhecido popularmente como câncer de intestino, atinge mais de 40 mil pessoas anualmente no Brasil, sendo o terceiro câncer que mais mata no país. “Infelizmente, 85% dos casos são diagnosticados em um estágio avançado da doença, fato que dificulta e encarece o tratamento. Em razão disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs a criação da campanha Março Azul-Marinho, visando à conscientização sobre o tema e ao estímulo ao exame precoce”, finalizou o parlamentar.
A campanha Março Azul-Marinho
O médico Rafael William Noda, presidente da Sobed-PR, iniciou sua fala agradecendo a oportunidade de divulgar seu trabalho na área da endoscopia. De acordo com ele, a campanha Março Azul-Marinho foi proposta pela OMS e abraçada pela Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, em parceria com a Federação Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e com a Sociedade Brasileira de Gastroenterologia. O objetivo da campanha é chamar a atenção da população e da classe médica para a necessidade de prevenção desse tipo de câncer. “Enfermidade que foi diagnosticada em celebridades como Pelé, Roberto Dinamite, a cantora Preta Gil e o cartunista Paulo Caruso”, lembrou o médico.
O médico explicou que o câncer colorretal só perde para o melanoma no que diz respeito ao número de incidências tanto em homens quanto em mulheres. O Instituto Nacional do Câncer (INC) prevê 45 mil casos em 2023, sendo que a maioria desses casos só será descoberta em estágios mais avançados. “A boa notícia”, informou o médico, “é que esse câncer é curável quando diagnosticado precocemente”. Para ele, seria necessário que a verificação do câncer colorretal fosse praticada como uma política pública.
Prevenção primária e secundária
O médico endoscopista lembrou que grande parte dos pacientes será submetida a cirurgias, a sessões de radioterapia, à quimioterapia e alguns até à colostomia. Ele esclareceu que há dois tipos de prevenção: a primária e a secundária. A primária consiste em praticar exercícios, ter uma dieta rica em fibras, não fumar, beber com moderação e diminuir o consumo de carnes vermelhas e embutidos. “A prevenção secundária, por sua vez, também conhecida como ‘busca ativa’, faz a procura pela doença mesmo sem o aparecimento dos sintomas. O procedimento é conhecido como ‘rastreamento’, e deve se iniciar preferencialmente aos 45 anos”, explicou Rafael.
Segundo ele, atualmente, o exame de resultados mais efetivos e de custo mais acessível é o teste de fezes, também conhecido como Teste Imunofecal, que verifica a presença de sangue humano nas fezes. “Ficamos felizes em saber, por meio da secretária Beatriz Batistela, que esse exame já é fornecido pela Secretaria de Saúde”, declarou Rafael Noda. Se o teste resulta negativo, o paciente é instruído a refazê-lo a cada um ou dois anos, no máximo. Caso o exame seja positivo, imediatamente, é informado ao paciente que ele terá de passar pelo exame de colonoscopia para diagnosticar o tumor. “Se encontramos o câncer ainda não desenvolvido, o paciente tem 70% de chance de cura”, declarou.
Mutirões de colonoscopia
Ele destacou a importância da colonoscopia, exame que permite a retirada de pólipos, evitando em 50 a 70% a incidência do tumor. Para ele, o desafio é apresentar a colonoscopia à população de Curitiba como método de rastreamento. “Estaremos realizando, por iniciativa das entidades envolvidas no Março Azul, mutirões de colonoscopia de rastreio no Hospital de Clínicas, no Hospital Cajuru, no Hospital Universitário Mackenzie e na Santa Casa de Curitiba. “São ações benéficas, mas que estão longe de diminuir a longa fila que existe para a realização do exame”, disse o médico.
Rafael salientou o projeto de prevenção colorretal realizado no município de Cairú (BA), organizado pelas três sociedades médicas envolvidas na campanha Março Azul-Marinho. Ele explicou que o projeto na cidade baiana teve três fases. Na primeira, houve palestras para a população e treinamento dos agentes de saúde. Na segunda, realização do teste imunofecal em toda a população de 50 a 75 anos assintomática e, na terceira fase, mutirão de colonoscopia em todos os pacientes que apresentaram teste positivo.
O médico disse que o projeto em Cairu foi um grande desafio logístico, que demandou muito esforço por parte dos profissionais envolvidos, pois foi necessário criar uma estrutura para a realização de um exame de alta complexidade partindo do zero. “Ao todo, foram realizadas 170 colonoscopias e estamos falando de um município que dispõe de uma cota de 5 colonoscopias por ano pelo SUS”, informou. Para Rafael, apesar das limitações, em especial as financeiras, essas ações demonstram que a cooperação entre as entidades médicas, a indústria e o poder público torna possível uma mudança positiva para a população.
Perguntas dos vereadores
A vereadora Amália Tortato (Novo) relatou que seu pai foi diagnosticado com o câncer de intestino em agosto de 2020 e isso gerou um temor, por parte da família, de que ele pudesse ser contaminado pelo vírus covid-19 durante o tratamento. “Ele agora está bem, mas isso me fez pensar se a pandemia não provocou um represamento de consultas e exames”, questionou a vereadora. Respondendo à parlamentar, o médico informou que houve, de fato, um represamento dos exames. “Não só da área colorretal, mas também de todas as áreas da Medicina. Isso veio a se somar a uma fila já longa de exames especialmente do SUS e foi uma verdadeira tragédia que vai demorar muitos anos pra se atingir patamares que já eram ruins antes da pandemia”.
Em resposta ao vereador Alexandre Leprevost (Solidariedade), o médico esclareceu que a retocolite seletiva faz parte de um espectro de doenças inflamatórias intestinais no qual se inclui a Doença de Crohn. Conforme explicou Rafael, são doenças autoimunes que levam a uma inflamação crônica, gerando, consequentemente, uma condição pré-cancerígena. Nesse sentido, ainda segundo ele, o rastreio do câncer deve ser feito com mais cuidado nos pacientes que têm a retrocolite.
Ezequias Barros (PMB) indagou se o único sintoma do câncer de intestino seria a presença de sangue nas fezes. O médico disse que, quando a doença apresenta sintomas, ela já está numa fase avançada, daí a importância do rastreamento com a utilização deste dois métodos: exame imunofecal e exame de colonoscopia. “Nenhum país do mundo, por mais desenvolvido que seja, consegue oferecer por meio de seus sistemas públicos de saúde o exame de colonoscopia a toda a população. Eles também precisam realizar triagens entre assintomáticos por meio do teste imunofecal, que é específico para o sangue humano. Então, ele tem alta sensibilidade para lesões cancerígenas em fase precoce”, esclareceu.
Rodrigo Reis (União) mencionou o caso de sua sogra, que teve um sangramento e não se preparou para fazer a colonoscopia. “A questão da metástase, no caso da minha sogra, foi de onze meses”, disse ele. O médico comentou que os tumores vão evoluir de acordo com o tempo e a agressividade da lesão. “A maior parte dos tumores colorretais são de crescimento lento. No caso da sua sogra, por ser um uma paciente de mais idade, a evolução foi lenta e menos agressiva. Demorou pra se espalhar por todas as camadas do intestino, criar o linfonodo e iniciar a metástase. Mas, há casos em que a evolução é mais rápida e, quando há o diagnóstico, a situação demanda tratamentos invasivos ou sequer tem solução”, explicou.
Histórico e genética
Respondendo à vereadora Maria Letícia (PV), Rafael informou que o custo do exame imunofecal é mais elevado, mas não chega a ser impeditivo. Por outro lado, a demanda pelo exame de colonoscopia é maior, o que cria, segundo ele, um gargalo que deve ser resolvido. Ainda em resposta à Maria Leticia, ele informou que a detecção no exame imunofecal é possível por ele ser sensível à hemoglobina humana. O histórico familiar e a composição genética são fatores que influenciam no aparecimento do câncer colorretal, disse o médico em resposta à vereadora Sargento Tânia Guerreiro (União). Ela revelou que foi diagnosticada com a enfermidade há 20 anos e que, embora curada, ainda receia um novo desenvolvimento da doença. O médico Rafael a tranquilizou esclarecendo que, após um período de 5 anos, o consenso é o de que, se não houve novas manifestações, a doença foi eliminada. “O que não tira a importância da realização de exames regulares”, enfatizou.
Em resposta ao vereador Rodrigo Marcial (Novo), o especialista afirmou que os planos de saúde têm investido bastante na prevenção, porque, em termos de custos, é mais barato fazer um diagnóstico precoce do que investir recursos em casos avançados e o mesmo se aplica ao SUS. “A saúde suplementar sabe que se não investir em prevenção vai quebrar. Os planos que investem na prevenção primária e secundária saem na frente e vão economizar dinheiro”, assegurou o médico. Professora Josete (PT) reforçou a importância dos hábitos saudáveis e de uma alimentação rica em fibras para a prevenção do câncer colorretal. Mauro Bobato (Podemos) parabenizou Nori Seto pela iniciativa do convite e congratulou o médico pelo seu esforço no combate ao câncer colorretal.
Tribuna Livre
A Tribuna Livre é o espaço democrático de debates mantido pela CMC, para ser o canal de interlocução entre a sociedade e os parlamentares. Os temas em pauta são sugeridos pelos vereadores, que, por meio de um requerimento, indicam uma pessoa ou uma entidade para discursar e para dialogar no plenário. As falas, neste espaço, podem servir de prestação de contas de uma entidade que recebe recursos públicos, de apresentação de uma campanha de conscientização, de discussão sobre projeto de lei em trâmite na Casa, etc.
Conforme o Regimento Interno (RI) do Legislativo, as Tribunas Livres ocorrem nas quartas-feiras, durante a sessão plenária – por acordo de líderes após o espaço do pequeno expediente. Se você participa de uma entidade, representa uma causa ou uma atividade coletiva, entre em contato com um dos vereadores para sugerir a realização da Tribuna Livre. O RI veda a participação de representantes de partidos políticos, de candidatos a cargos eletivos e de integrantes de chapas aprovadas em convenção partidária.
As sessões plenárias começam às 9 horas e têm transmissão ao vivo pelos canais da Câmara de Curitiba no YouTube, no Facebook e no Twitter. Clique aqui para consultar os temas abordados na Tribuna Livre em 2023.
*Notícia revisada pelo estudante de Letras Brunno Abati
Supervisão do estágio: Alex Gruba
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba