Campanha da Fraternidade 2023 é homenageada pela Câmara de Curitiba
Câmara homenageou pessoas envolvidas na Campanha da Fraternidade 2023, promovida pela CNBB (Fotos: Carlos Costa/CMC)
Na última quarta-feira (5), a Câmara Municipal de Curitiba realizou uma sessão solene em comemoração à Campanha da fraternidade 2023. A iniciativa do evento foi do vereador Angelo Vanhoni (PT), com apoio da vereadora Giorgia Prates (PT) e da vereadora Professora Josete (PT) e de outros vereadores. De acordo com o Vanhoni, que presidiu a sessão, a homenagem visou exaltar a Campanha da Fraternidade, promovida anualmente pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e, também, homenagear o arcebispo de Curitiba, Dom Peruzzo.
A mesa, além de Vanhoni, foi composta por: Dom José Antonio Peruzzo, arcebispo de Curitiba; Professora Josete (PT), que integra o Conselho Municipal de Segurança Alimentar; vereadora Giorgia Prates (Mandata Preta – PT); Salete Bez, coordenadora da Campanha da Fraternidade; Felipe Thiago de Jesus, vice-presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar (Consea), representando o prefeito Rafael Greca; e Adriana Oliveira, integrante do MST e coordenadora do coletivo Marmitas da Terra.
Em sua saudação aos homenageados, Angelo Vanhoni destacou que, nos últimos anos, testemunhou os esforços de algumas instituições que se envolveram de forma ativa para diminuir os dramas vividos pelas pessoas em vulnerabilidade. “Todos os problemas sociais foram agravados e a gente pôde presenciar a atitude de muitas organizações,entre elas a da igreja católica, seja através das redes de ensino, seja por meio do voluntariando ou angariando contribuições e mobilizando a sociedade para socorrer aqueles que passam fome”, disse o vereador.
O parlamentar comentou que, apesar de ser o segundo exportador do planeta de commodities agrícolas, o Brasil convive com a fome extrema. “Devemos lutar contra isso. Nós temos de lutar para diminuir a desigualdade de todas as formas que a gente puder. A busca por mais igualdade é universal. Por outro lado, também devemos criar o reino da fraternidade, um ambiente de afeto na sociedade, no qual as pessoas possam vivenciar um clima fraternal e de solidariedade”, disse Vanhoni. “Esse tipo de ambiente se constrói e o conhecimento para essa construção é passado de alguém para alguém com atitudes, mais do que com palavras e livros. É o ambiente que os cristãos almejam e a Campanha da Fraternidade é uma prova disso”, finalizou.
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Professora Josete mencionou que, todos os anos, a Campanha da Fraternidade trata de temas importantes, com o objetivo de levar reflexão à sociedade. “No momento que nós vivemos, debater a fome é muito importante. Devemos lutar por políticas públicas efetivas. É obrigação do poder público garantir esse direito básico”, disse a vereadora. Josete destacou que a fome foi agravada em função da pandemia e que iniciativas como a do MST, por meio do Coletivo Marmitas da Terra, foram fundamentais para o enfrentamento da questão. “Como diria Betinho”, lembrou Josete, “quem tem fome, tem pressa”. A vereadora concluiu afirmando que a sociedade deve se apropriar do debate sobre segurança alimentar.
A vereadora Giorgia Prates disse que, durante a pandemia, muitos a viram com uma câmera, fotografando ações sociais. “Eu tentava registrar não só os eventos, mas também os sentimentos, e posso dizer que fui muito agraciada por testemunhar as iniciativas daquelas pessoas que faziam o máximo em um período de tantas incertezas. Tudo aquilo me alimentou de uma forma muito solidária também. A gente não pode esquecer da força que a gente tem quando se une”, declarou Giorgia. Para Ana Júlia, deputada estadual e ex-vereadora, a campanha é importante porque fala de empatia, de compaixão e de amor ao próximo, além de ter um viés social muito forte e buscar uma reflexão coletiva. No entendimento da deputada, é necessário o debate da pauta religiosa sob uma perspectiva social, sob a perspectiva daqueles que mais precisam.
Agradecimento
Dom Peruzzo, arcebispo de Curitiba iniciou seu discurso de agradecimento frisando que a Câmara não é uma casa religiosa, mas para ela convergem todas as demandas de uma cidade. Para ele, a problemática da fome não será solucionada enquanto não houver um entendimento de que a fome é subproduto de um regime econômico baseado exclusivamente na competição. “Onde houver competição, só haverá vencedores e derrotados. A campanha não vai solucionar o problema da fome, mas vai ajudar irmãos católicos e não católicos a tomarem consciência do problema” afirmou Dom Peruzzo. Segundo ele, a fome é um problema que demanda não somente soluções sociológicas e econômicas, mas também espirituais.
Salete Bez, coordenadora da Campanha da Fraternidade, esclareceu que a campanha tem uma motivação da Igreja Católica, mas ela não se limita aos que professam essa fé. “O alimento é o direito primeiro de qualquer pessoa. E, em pleno século XXI, estamos lutando para que as pessoas tenham direito à alimentação. Avançamos em tantas tecnologias e ainda lutamos para que irmãos tenham aceso a alimentos”, constatou Salete. Ela lembrou que o lema desse ano foi extraído do texto bíblico: “Dai-lhes vós mesmos de comer”: “Não é um pedido, é um imperativo, uma ordem dada por Deus.”
“O que a sociedade está fazendo para atender essa ordem?”, perguntou ela, enfatizando o objetivo geral da campanha: sensibilizar a sociedade para os fatos. Segundo Baez, 58% dos brasileiros vivem em insegurança alimentar, ou seja, 125 milhões de pessoas não sabem se vão conseguir ter uma ou duas refeições por dia. “É o equivalente a dez estados do Paraná passando fome”, salientou. De acordo com a coordenadora da campanha, do total de 125 milhões, 33 milhões vivem essa insegurança em estado grave (15% da população do país).
Felipe Thiago de Jesus, vice-presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar (Consea), disse que, para a Campanha da Fraternidade, as bandeiras não importam. “O que importa é a a conjunção dos esforços”, disse ele. Felipe afirmou que o Consea de Curitiba foi um dos únicos Conseas do Brasil que não interrompeu suas atividades durante a pandemia. “A gente agradece muito a retomada do Consea Nacional da Política de Segurança Alimentar Nacional”, declarou. Ele lembrou que até 2019, Curitiba só possuía a Secretaria do Abastecimento. “Entre as funções do Conselho, destaco a de combater o desperdício e a fome e a de fomentar a produção e práticas sustentáveis como a compostagem”, ressaltou.
Marmitas da Terra
Adriana Oliveira, integrante do MST e coordenadora do coletivo Marmitas da Terra, comentou que o MST nasceu na cidade de Cascavel, cidade natal do arcebispo Peruzzo. “O MST nasceu há 40 anos. Uma entidade que surgiu da necessidade de comer. A partir dos grupos eclesiais de base, o nascimento do MST já está ligado à solidariedade, então, quando aconteceu a pandemia, foi natural que o movimento adotasse uma postura de combate à fome”, disse Adriana. Ela questionou por que em um país que anualmente bate recordes na área da agricultura o alimento não chega à mesa dos trabalhadores e daqueles quem têm necessidades.
“A proposta do MST é a produção de alimentos saudáveis, diversificados, sem veneno e com respeito à biodiversidade. A partir da agroecologia, a gente pode produzir não somente alimentos saudáveis, mas também relações saudáveis, isto é, isentas de hierarquias, preconceitos e machismo”, disse a coordenadora do Marmitas da Terra. Para ela, a reforma agrária é um projeto político de resultados concretos. “Durante a pandemia, surgiram 39 ocupações urbanas na cidade”, comentou Adriana. De acordo com ela, políticas públicas são construções de processos coletivos como os realizados pela Rede Mandala, que atua com princípios da economia solidária.
“A gente está cansado”
Integrante do Conselho Nacional de Direitos Humanos e coordenador do Movimento Nacional de Moradores de Rua, Leonildo Monteiro contou que passou muita fome e sede. Falou sobre a experiência de ser acordado embaixo de chuva e aos finais de semana pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal e sobre revirar latas de lixo em busca de restos de comida. “A realidade que o Padre Júlio Lancellotti mostrou na Rede Globo é a mesma que acontece em Curitiba. O morador de rua está com sua mochila que tem remédio, um ou outro objeto pessoal e uma foto da família que ele guarda de lembrança. Então vem a GM, a PM, e retiram a mochila. A gente está cansado disso”, afirmou.
Leonildo destacou um projeto de moradia que está em fase de experimentação. “É um projeto-piloto. No mês que vem, o Movimento dos Moradores de Rua vai ter um encontro com o presidente Lula e os resultados desse projeto serão apresentados a ele. A ideia é que a iniciativa venha a ser uma política nacional”, afirmou Leonildo. João Santiago da equipe da Campanha da Fraternidade leu uma carta elaborada pelos participantes. O evento também teve a participação do músico Cláudio, que cantou o hino da Campanha.
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