Câmara recebe esclarecimentos sobre exposição polêmica do Santander
Executivos do Banco Santander prestaram esclarecimentos à Comissão Executiva da Câmara Municipal de Curitiba sobre a exposição "Cartografias da Diferença na Arte Brasileira", realizada no Santander Cultural, em Porto Alegre (RS), e encerrada antecipadamente depois de uma série de protestos principalmente pelas redes sociais. O vice-presidente executivo do Santander, Conrado Engel, e a superintendente executiva de Relações Institucionais, Renata Zacarelli, foram recebidos, nesta terça-feira (14), na sala de reuniões da Presidência, pelo presidente Serginho do Posto (PSDB) e pelos primeiro e segundo secretários, Bruno Pessuti (PSD) e Mauro Ignácio (PSB).
Na Câmara de Curitiba, a mostra gerou debates nas sessões (leia aqui e aqui) e foi alvo de uma moção de repúdio (060.00014.2017) aprovada em plenário no dia 11 de outubro (leia mais). No requerimento, a justificativa foi que a “exposição viabiliza, na verdade, o escárnio ao cristianismo e apologia a pornografia, a zoofilia e a pedofilia”. “Tolerar e respeitar não se confunde com agredir e vilipendiar crenças, símbolos e pessoas. Preconceito é desrespeitar este limite, intolerância é buscar descaracterizar determinadas tradições e convicções de um segmento da sociedade para elevar outro”, diz o texto.
Os executivos do Santander explicaram que o banco "não defende nem propaga uma ou outra ideologia, valor ou crença" e que "ao inaugurar a exposição jamais houve a pretensão de transformá-la em palco ou motivo de discórdia, desavença ou de conflito hostil de ideias entre as pessoas". Engel criticou a falta de informação e a divulgação de obras incompletas e até mesmo de imagens falsas atribuídas à exposição. "No início, começaram a tirar fotos de parte das obras, infelizmente, imagens muito limitadas, que não davam a visão do todo. Muitas das fotos que circularam pelo Facebook nem da exposição eram. E deu esse bafafá todo", lamentou.
Ele ainda justificou a decisão de encerrar a exposição, de forma definitiva, um mês antes do previsto: "O processo de aculturamento da sociedade estava sendo levado a um processo de discussões ruins. Então, paramos imediatamente". "Outro motivo que nos levou a fechar [a exposição] foi a falta de segurança. A gente teve ameaça de bombas no prédio, tivemos gerentes e colegas nossos agredidos", revelou Renata Zacarelli. "Fechamos, mas no fim é a sociedade que perde com isso", concluiu o vice-presidente do banco.
O presidente da Câmara de Curitiba, Serginho do Posto, explicou que "são raras as votações de moção de repúdio" e que "apesar de aprovada em plenário, não necessariamente representa a opinião de 100% do parlamento, que é representação de diversos segmentos". Na opinião dele, o debate sobre a exposição "não precisava chegar nesse ponto" [de repúdio]. "Eu [como presidente] não posso limitar as iniciativas e ações políticas, que são respostas para esse segmento ou para sua comunidade, porque ele [o vereador] vai fazer algo que seja impactante", ponderou.
Serginho do Posto disse que "não podemos deixar que a intolerância prevaleça na sociedade, porque vai acabar gerando os embates". Ele explicou ainda que "no segundo semestre do ano, essa Casa debateu muitas vezes as questões de gênero e de violência, que são questões latentes da sociedade que acabam sendo trazidas para o parlamento", concluiu.
Bruno Pessuti afirmou que "o momento é importante para debatermos com serenidade um tema tão importante que alguns movimentos que se dizem de libertação no país na verdade são de libertação de monstros que talvez estejam enrustidos numa sociedade perversa e preconceituosa que temos. Não é no momento de tanto acesso à liberdade que nós temos que nos tornar tão ignóbeis do ponto de vista de combater e censurar a cultura".
Já Mauro Ignácio lamentou a falta de informação na divulgação da mostra. "O que acontece [de errado] é quando eles tiram uma frase do contexto. Nós estamos bem acostumados com isso. Eles ficam massificando naqueles argumentos e acabam fazendo uma lavagem cerebral", comparou.
Esclarecimentos
Os Executivos do Santander, acompanhados dos superintendentes de governos e instituições, Ericke Sandro Perim Duarte, e do regional Curitiba, Gustavo Eduardo Chichorro, entregaram aos vereadores uma carta de esclarecimentos e um livro que contextualizam a mostra dentro de um projeto cultural "que há 16 anos proporciona acesso às diversas formas de arte, como pinturas, esculturas, cinema e música, em atividades e exposições frequentes e sempre com um olhar global e contemporâneo", tendo "recebido 5 milhões de visitantes".
Segundo o documento, um dia após o fechamento da exposição, promotores da Vara da Infância e Juventude do Ministério Público do Rio Grande do Sul "constataram que a exposição não contém qualquer sugestão ou incitação à pedofilia".
A carta informa ainda que o Santander, "na qualidade de patrocinador, tomou todas as providências necessárias e cabíveis para retificar a sua Declaração de Imposto de Renda Pessoa Jurídica 2017 (ano base 2016), a fim de reverter todo e qualquer benefício tributário obtido pela utilização da Lei Rouanet no tocante à realização deste evento". Segue dizendo que "o evento foi integralmente custeado com recursos exclusivamente privados, sem qualquer custo ou ônus ao erário e ao Ministério da Cultura".
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