Câmara homenageia jornalistas e historiadores

por Assessoria Comunicação publicado 27/05/2013 10h40, última modificação 16/09/2021 08h38

Jornalistas e historiadores com reconhecida atuação em Curitiba foram homenageados pela Câmara Municipal, com a entrega dos prêmios Jornalista Dino Almeida e Amigo da História. A cerimônia, que aconteceu na noite de sexta-feira (24), foi presidida pelo vereador Paulo Salamuni (PV) e também contou com as presenças dos vereadores Pedro Paulo (PT), Noemia Rocha (PMDB) e Felipe Braga Côrtes (PSDB).

O vereador Pedro Paulo ocupou a tribuna para proferir a saudação oficial aos homenageados. Para ele, a entrega dos prêmios demonstra reconhecimento a esses profissionais que são exemplos e referências em suas respectivas áreas. “Apesar de serem profissões com objetivos diferentes, tanto jornalistas quanto historiadores lidam com dados que podem nos ajudar a compreender a realidade, portanto, devemos prestigiá-los e lutar para que eles atuem num ambiente democrático, transparente e de livre acesso às informações públicas”.

O jornalista Roger Pereira agradeceu em nome de todos os homenageados e lembrou que história é uma palavra de origem grega que significa, simploriamente, “investigação”. Pereira esclareceu que “o jornalista investiga hoje, os fatos que constituirão a história no futuro e os historiadores, libertos das injunções e das influências negativas, retratam com fidelidade o que aconteceu no passado”. Ainda segundo ele, “só o fato desta Casa estar premiando hoje dois repórteres que cobrem o dia-a-dia do Legislativo Municipal, depois de toda a conturbada relação entre Câmara e imprensa nos últimos anos, já mostra que estamos vivendo uma nova fase. E que seja uma fase muito produtiva, com todas as transformações prometidas. Vamos fiscalizar e cobrar”, afirmou.

Antes de encerrar a sessão, o presidente Paulo Salamuni observou que a Câmara tem se ajustado no sentido de resgatar a credibilidade e a confiança junto à população de Curitiba. Uma das condições fundamentais para que isso aconteça é a preservação da garantia do livre jornalismo em prol do interesse público. Ele também destacou a jornalista Teresa Urban, figura atuante na reinstalação do Estado de Direito no Brasil e, atualmente, voltada às lides ambientalistas. “Teresa prestou significativas contribuições para a elaboração da Lei Orgânica do Município. Se as características gerais de um jornalista íntegro são curiosidade intelectual, poder de análise, texto bem construído e, sobretudo, absoluto respeito aos princípios éticos, Teresa é esse profissional”, elogiou o parlamentar.

Homenageados

Neste ano, os homenageados com o prêmio Colunista Dino Almeida – Ano 2013 foram os seguintes profissionais: Adélia Lopes, primeira repórter de televisão no Paraná e também a primeira redatora contratada em uma emissora de rádio. Trabalhou nas TVs Bandeirantes e Iguaçu, assim como nos jornais O Estado do Paraná, O Estado de São Paulo e na revista Veja, entre outros veículos. Foi indicada pela vereadora Julieta Reis (DEM); Filipi Oliveira, sócio da empresa F13 Comunicação e Marketing, também trabalha como repórter na rádio CBN Curitiba. Seu nome foi uma proposição do vereador Felipe Braga Côrtes (PSDB); Roger Azevedo Costa iniciou sua carreira em 2004, no jornal O Estado do Paraná. Correspondente do Portal Terra em Curitiba desde 2008, atualmente também desenvolve atividades no Portal Vanguarda Política. Foi indicado pelo vereador Pedro Paulo (PT); e Rodrigo Antônio Bellé, jornalista fotográfico, e professor. Atuou como fotógrafo na 3ª Virada Cultural no Paço da Liberdade. Desenvolveu os ensaios fotográficos independentes O Centro de Portugal em 50 mm e Cemitério de Elefantes. Seu nome foi sugerido pela vereadora Noemia Rocha (PMDB).

Os troféus e diplomas referentes ao prêmio Amigo da História foram entregues aos seguintes homenageados: Geraldo Becker, professor nos colégios Cecília Meireles, Estadual do Paraná e no Colégio e Faculdade Modelo. Foi indicado pelo ex-vereador João Luiz Cordeiro (João do Suco); Renato Augusto Carneiro Júnior, professor da UniCuritiba, também exerce o cargo de diretor do Museu Paranaense. Coordenou a publicação de seis edições dos cadernos “Paraná da Gente” sobre aspectos gerais da cultura e da vida paranaense. Seu nome foi proposto pela vereadora Julieta Reis; Vladimir Luís de Oliveira é analista Geo-Criminal da Secretaria de Segurança do Estado do Paraná e professor da Escola Superior da Polícia Civil. Seu nome foi indicado ao prêmio pelo vereador Felipe Braga Côrtes.

A mesa foi composta por Deise Cristina de Lima Picanço, pró-reitora de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Paraná, neste ato representando o reitor Zaki Akel Sobrinho; major Sidnei Costa, representando o comandante da Polícia Militar do Paraná, Roberson Luiz Bondaruk; e o presidente da Associação dos Jornalistas de Economia e Finanças, Luiz Augusto Juk.
 

Discurso proferido pelo jornalista Roger Pereira, na Câmara Municipal, por ocasião da entrega dos Prêmios Colunista Dino Almeida e Amigo da História, em 24 de maio de 2013.

Boa noite senhor presidente, vereador Paulo Salamuni, boa noite vereadores Noemia Rocha, Felipe Braga Côrtes e Pedro Paulo. Boa noite senhoras e senhores. É com muita honra que estamos aqui hoje para receber esse prêmio, principalmente por estarmos ao lado de profissionais tão respeitados como os professores e historiadores Geraldo Becker, Vladimir Luis de Oliveira e Renato Augusto Carneiro Júnior, diretor do nosso Museu Paranaense. E dos colegas professor Rodrigo Bellé, Adélia Lopes, ícone do jornalismo cultural paranaense e meu amigo, parceiro, colega de rua nas coberturas políticas, Filipi Oliveira. E aqui um destaque: só o fato desta Casa estar premiando hoje dois repórteres que cobrem o dia-a-dia do Legislativo Municipal, depois de toda a conturbada relação entre Câmara e imprensa nos últimos anos, já mostra que estamos vivendo uma nova fase. E que seja uma fase muito produtiva, com todas as transformações prometidas. Vamos fiscalizar e cobrar.

Como estão sendo entregues hoje dois prêmios distintos, procurei palavras para fazer a r elação entre história e jornalismo e foi bem mais fácil que imaginei, pois história é uma palavra de origem grega, que significa, simploriamente, investigação. O jornalista investiga hoje, os fatos que constituirão história no futuro e os historiadores, libertos das injunções e das influências negativas, retratam com fidelidade o que aconteceu no passado. A arte nos ensina a enxergar o belo, amoral e a ética. A enxergar o bem. E a História nos ensina a viver.
Mas hoje vou pedir licença a vocês para falar um pouquinho sobre a nossa profissão. Prometo que serei breve, ninguém sabe mais do que jornalista o quanto um discurso longo é desinteressante. Mas preciso aproveitar esse momento para falar de nossa profissão.

Jornalista tem o dever ético – e aprende isso já no primeiro dia de aula na faculdade – de ouvir todos os lados envolvidos numa história, de ouvir acusador e acusado, de dar espaço em sua matéria para as explicações do criminoso, do corrupto, do transgressor mesmo sabendo que ele não está falando a verdade. Tem de dar a oportunidade de contar sua versão até para o réu confesso de um crime hediondo. Mas quem ouve a versão do jornalista? Hoje, senhoras e senhores, vocês ouvirão.

Enquanto diversas classes profissionais vem conquistando no últimos anos a regulamentação de suas profissões, o jornalismo vai à contramão, como a primeira profissão a ser desregulamentada no Brasil. O Supremo Tribunal Federal, nossa instância máxima da justiça, derrubou em 2009,a exigência de formação superior para o exercício do jornalismo, abrindo uma perigosa brecha para que pessoas despreparadas, sem compromisso com aética e a verdade dos fatos e sem responsabilidade com a informação que está sendo transmitida, ocupem lugares nas redações, para agir sabe-se lá e acordo com que interesses. O mesmo STF que censura o jornal O Estado de São Paulo, proibindo-o desde 2009 de citar a família Sarney em suas páginas, derrubou a exigência de formação específica para o jornalismo com o argumento de liberdade de expressão.

No entendimento dos ministros do Supremo, a exigência do diploma de curso de graduação para o exercício da profissão de jornalista confronta o principio constitucional da liberdade de expressão. Então vivemos de 1988 até 2009 sem liberdade de expressão no Brasil? Não.

O jornalista diplomado, se fizer bom uso de sua formação, além do domínio as técnicas e da linguagem específicas para profissão. Tem a responsabilidade ética e a real noção de sua importância para a sociedade aponto de ser um a gente dessa liberdade de expressão, por ter, como já frisei, o dever de dar espaço a todas as partes envolvidas em uma história, sendo, sim, um instrumento de das minorias. Enquanto isso assistimos absurdos sendo cometidos em nome da liberdade de expressão, vemos pessoas públicas passando por cima de outros princípios constitucionais como o da igualdade e da dignidade humana com o objetivo claro de promover ideias ou ideais ilegais e antiéticos, transformando seu preconceito em valor moral, na utilização mais subversiva de um princípio tão belo quanto a liberdade de expressão. E numa imprensa desregulamentada, será cada vez mais comum setores da mídia assumirem esse discurso.

Paralelamente a essa incerteza quanto ao futuro da profissão, o jornalista vive a precarização das condições de trabalho. Além da baixa remuneração, que o obriga a ter mais de um emprego e ainda apelar para alguns ‘freelas’, o jornalista vive em situação de extrema pressão e, por cota da concentração da propriedade dos meios de comunicação, que tem o mercado cada vez mais restrito, torna-se passivo a situações de assédio moral. Por isso não surpreendeu o resultado da pesquisa do Departamento de Psicologia da Unicamp, divulgada em março, que constatou que o aumento bem acima da média dos demais trabalhadores brasileiros, dos casos de depressão e uso abusivo de álcool e drogas entre os profissionais do jornalismo.

Lembro aqui de uma entrevista da Adélia à CBN, no ano passado. Quando comemorava 40anos de carreira, ela comentou como foi sei início na década de 70, na Rádio Iguaçú, Contou que chegava à uma da tarde na rádio e só saía de madrugada. “Era uma dedicação total, amor e idealismo completo”, disse ela, lembrando da falta de recursos para a produção jornalística na época. Pois hoje, 40 anos depois, com toda tecnologia que temos à nossa disposição continua sendo só o amor e o idealismo para justificar a insistência na carreira de jornalista, em continuar nas ruas apurando tudo que acontece na idade, para passar a informação e seus desdobramentos d forma mais precisa possível á população. Por isso, os jornalistas hoje homenageados, assim como muitos outros que estão aqui para nos prestigiar, em especial os que arriscam sua saúde e o desenvolvimento econômico de sua família e por puro amor e idealismo suem nas redações. Merecem sim, esse reconhecimento.

É o reconhecimento para toda uma classe, que sabe bem o seu papel social, que enfrenta a pressão dos interesses de seus patrões e, também, dos Poderes que fiscaliza e consegue graças a seu amore idealismo, desvendar um esquema de desvio de verbas e publicidade na Câmara, descobrir a edição de Diários Secretos na Assembleia, denunciar supersalários, privilégios e regalias concedidos com dinheiro público no Judiciário, dando valorosa contribuição para a nossa democracia, mas que vai muito além disso, que mostra para a sociedade o que está acontecendo no mundo e de que forma isso influencia o dia-a-dia dos cidadãos. Jornalismo é o instrumento de inserção universal.

O exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter – a definição de Cláudio Abramo para o jornalismo segue até hoje como tema de muitas redações e entidades de classe dos jornalistas. E é com inteligência, caráter, amor e idealismo que seguiremos, enfrentando todas essas adversidades, em busca de uma sociedade mais justa transparente e igual.

Claro que num momento como esse não podemos deixar de fazer agradecimentos. Agradecer aos vereadores que propuseram e nos privilegiaram com essa homenagem, aos colegas de profissão que tornam nossa rotina bem mais suportável e, principalmente à nossa famílias, que dedicaram tempo, recursos, ensinamentos e muita paciência para o desenvolvimento de nossas carreiras e pela profissão que escolhemos, jornalistas ou professores, dificilmente verão o retorno material desse investimento.

Quando um orador termia surgem as palmas. Umas de aplauso outras pelo alívio de ver terminado discurso. Hoje não será diferente, baterão palmas quando eu terminar. E eu as quero, quero muitas, mas não para esse desabafo que acabei de fazer. Quero aplausos para os amigos da História, Geraldo Becker, Vladimir Luis de Oliveira e Renato Augusto Carneiro Júnior e os jornalistas congratulados com o prêmio Colunista Dino Almeida: Rodrigo Bellé, Adélia Lopes e Filipi Oliveira. Boa noite e muito obrigado.