Câmara disponibiliza manuscritos de 300 anos para consultas online
Texto atualizado às 14h15, de 4 de dezembro de 2018, com a retirada do dia do lançamento. Uma nova data será anunciada em breve.
Você já imaginou poder ler o primeiro livro de Curitiba quando quiser e de onde estiver? Já pensou ter acesso ao documento de fundação da cidade no seu celular? Uma parceria entre a Câmara Municipal de Curitiba e a Fundação Cultural de Curitiba tornou tudo isso possível. O Legislativo lançará em breve o hotsite “Os Manuscritos – Documentos Históricos de Curitiba”, para possibilitar pesquisas online e gratuitas. O Livro Tombo é a publicação mais antiga sobre a capital e traz documentos manuscritos até mesmo anteriores à data oficial da fundação de Curitiba e da Câmara – 29 de março de 1693.
“...quanto mais crese a gente se vão fazendo móres desaforos, e bem se vio esta festa andarmos todos com as armas na mão, e apeloirou-se dos outros mais e outros ensultos de roubo, como e notório e constante pelos casos tem susidido e daqui em diante será pior, o que tudo causa o estar este dito povo tão desamparado de governo e desiplina da justisa [sic].”
Esse é o trecho de uma carta escrita pelos moradores ao Capitão povoador Matheus Leme, em 24 de março de 1693. Cinco dias depois, foi fundada a Câmara e a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. O Livro Tombo veio depois. Em 1721, o ouvidor Raphael Pires Pardinho veio da capital da Província de São Paulo – à qual o Sul era subordinado – e determinou que todos os documentos oficiais fossem juntados em um livro que se chamaria Tombo. “Para que nada se perdesse”, conta a historiadora da FCC, Maria Luíza Gonçalves Baracho, que fez uma pesquisa aprofundada sobre a publicação.
Além do Livro Tombo, com sua transcrição feita pelo funcionário público Francisco Negrão, o hotsite “Os Manuscritos” disponibiliza outros documentos que contam uma parte da história da cidade, como por exemplo todas as solicitações de terras feitas por moradores à Câmara Municipal no ano de 1887; os termos de compromisso dos prefeitos eleitos até 2012 e dos vereadores e suplentes entre 1947 e 1963; e dois projetos de lei que autorizaram, em 1965, a construção da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e, em 1969, a doação do terreno do Pinheirão à Federação Paranaense de Futebol. Esses documentos já estavam digitalizados e agora podem ser folheados com um deslizar de dedos na tela dos tablets e smartphones, ou com um clique do mouse.
Também foram produzidos vídeos sobre o processo de restauração do Livro Tombo e sobre a importância da preservação de documentos. “Essa é uma forma de democratizar a informação, os documentos estão aí desde a fundação da cidade, mas é necessário que a população possa conferir. Esse é um processo de transparência também das nossas atas, que contam a história da cidade”, observou o presidente do Legislativo, Serginho do Posto.
A historiadora Mary Del Priore – que escreveu obras como O Castelo de Papel, sobre a Princesa Isabel, e a série Histórias da Gente Brasileira – concorda que disponibilizar documentos originais ao público é uma forma de ampliar a transparência. “É importante que o poder público guarde documentos originais? Não é só importante, é absolutamente fundamental. A história do nosso país depende justamente de que o poder público tenha consciência de que a análise do nosso passado, os nossos problemas, e as soluções que virão estão justamente nesses velhos documentos.”
O projeto
Para a concretização desse projeto, a Câmara Municipal de Curitiba assinou dois convênios com a Prefeitura de Curitiba. O primeiro para a guarda e conservação do acervo histórico do Legislativo, com mais de 170 livros-ata destinados temporariamente à Casa da Memória (leia mais). O segundo para guarda da Fundação Cultural de Curitiba e digitalização pelo Arquivo Público Municipal (leia mais).
A administração também adquiriu um software específico, o flipbook, para que pudesse tornar acessível a todos os documentos digitalizados. O manuseio com o clique do mouse ou com a ponta dos dedos dá a impressão do folhear de um livro.
O hotsite Os Manuscritos foi elaborado e organizado pela Diretoria de Comunicação da CMC e desenvolvido pela Diretoria de Informática. Durante 10 meses, as equipes técnicas ficaram debruçadas sobre esse projeto para que qualquer pessoa possa ler obras que hoje são de difícil acesso.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba