Câmara debate drogadição no ambiente familiar e profissional

por Assessoria Comunicação publicado 24/06/2016 16h10, última modificação 07/10/2021 09h27

A Escola do Legislativo da Câmara de Curitiba promoveu, na manhã desta sexta-feira (24), debate sobre drogadição no ambiente de trabalho e na família. A vereadora Noemia Rocha (PMDB) fez a saudação oficial e destacou a escolha do tema: “Trabalho com a recuperação de dependentes químicos há quase 30 anos. Estamos lidando com uma nova geração de viciados que ainda estão no ventre [materno]. É uma uma situação muito grave”.

Segundo o diretor da Escola do Legislativo, Antonio Torrens, a intenção é abordar “temas que não são leves, mas que precisam ser discutidos”. Também participaram da atividade os vereadores Chicarelli (PSDC) e Professora Josete (PT). A psicóloga Dione Maria Menz, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), abordou, por exemplo, a maneira de se diagnosticar a dependência do álcool, as dificuldades do tratamento e a relação estabelecida entre o paciente e a equipe de atendimento. “A pessoa está em uma emergência de saúde e precisamos tratá-la como em qualquer outro problema clínico”, disse. “A dependência de drogas é um fenômeno multicausal complexo. Precisamos entender muito mais de pessoas do que de drogas”, acrescentou.

Para a também psicóloga e professora da UFPR Maria Virginia Cremasco, a dependência química deve ser pensada na relação estabelecida entre contexto psicossocial, a pessoa e o uso da droga. Ela citou o médico neurologista Sigmund Freud, criador da Psicanálise: “Trabalhar é o meio de prover sustento para o corpo e para a alma. No trabalho nós passamos a vida, desenvolvemos nossa identidade, experimentamos situações e construímos relações. E é também no trabalho que adoecemos”.

Maria Virginia comentou sobre o consumo de drogas, sejam elas ilícitas ou lícitas, sendo o álcool um exemplo, com o uso funcional. “A pessoa usa essa substância no final do dia para "relaxar do trabalho". Depois de um tempo, a droga deixa de ser um meio para lidar com as dificuldades, passando a ser um fim em si mesmo”, explicou.

O desenvolvimento de políticas antidrogas foi comentado pelo médico Marcelo Kimati Dias, da Prefeitura de Curitiba. Segundo ele, é necessário elaborar uma estratégia pública voltada “para a pessoa, para os usuários e a forma como essas pessoas estabelecem relações com essas substâncias”. “Não existe sistema bem sucedido se ele impõe algum pressuposto para a pessoa se tratar”, explicou.

“O sistema de saúde precisa estar preparado para lidar com as singularidades, porque uma pessoa que bebe num happy hour é diferente daquela que só consegue passar momentos de lazer se estiver totalmente alcoolizada”, apontou. O médico frisou a importância de atendimento individualizado, hospitalar ou não, para o dependente químico. Ele ainda destacou ações na capital, como a extensão do horário de atendimento nos CAPSs (Centro de Atenção Psicossocial) da prefeitura. “Um princípio que deve ser respeitado é a questão da vulnerabilidade social. Por isso precisamos proteger crianças e adolescentes, criando alternativas de lazer em que o uso de drogas não está incluído”, acrescentou.

Médica psiquiatra do Setor de Medicina e Saúde Ocupacional da Câmara de Curitiba, Maria Helena Ferreira defendeu a criação de uma estratégia de atenção à saúde dos trabalhadores do Legislativo. “Pensar no individual e coletivo, uma ideia diferente para usar a estrutura que temos e construirmos uma qualidade de vida no trabalho. Essa questão das drogas transcendeu a relação familiar e social. Atendemos servidores aqui que percebemos estar num grande sofrimento. Vamos aproveitar este momento e revermos esse mito sociocultural de marginalidade, de louco, como se fosse possível desligar o corpo da mente”, discorreu.

Debate
Durante a apresentação de questionamentos da plateia, o servidor Carlos Barbosa, da Ouvidoria de Curitiba, disse que é positivo ver a preocupação da Escola do Legislativo com o problema. “Essa guerra às drogas, vemos um certo moralismo nesse tema há tanto tempo, mas é preciso pensar em tratar a drogadição com a complexidade que deve ser pensada”, opinou.

A vereadora Josete pediu o posicionamento dos especialistas sobre a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, tema votado e derrubado na Câmara Municipal, mas que ainda gera discussões. “Eu me posicionei contrariamente, embora saiba que as pessoas podem entrar nos estádios já alcoolizada ou consumir depois”, declarou.

“Se o álcool fosse criado hoje, certamente seria uma droga ilícita, por conta das mortes e acidentes decorrentes do seu consumo. Beber dentro do estádio caracteriza uma questão de vulnerabilidade social, está associado a um grande número de acidentes, o que gera impacto sobre o sistema de saúde. Sou a favor da lei seca e da não venda de bebidas próxima às escolas”, respondeu Marcelo Kimati. “Proibir as bebidas nos estádios é um bem social, em termos de acidentes e também de violência, porque o uso pode levar ao impulso”, complementou Maria Helena.