CMC celebra raízes africanas e nações do candomblé
Nessa terça-feira (21), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) promoveu uma sessão solene para homenagear o Dia Nacional das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, data instituída pela lei federal 14.519/2023. A iniciativa do evento foi do vereador Bruno Pessuti (Pode). A cerimônia foi presidida pelo vereador Mauro Bobato (Pode), terceiro-secretário da Mesa Diretora, e teve a presença do deputado estadual Requião Filho (PT).
No entendimento de Bobato, a realização da cerimônia é um marco na história da Câmara, pois foi uma celebração inédita dessas vertentes religiosas. “Parabéns ao Bruno pela iniciativa e a todos os homenageados que preservam com fé a cultura e as tradições afro que são ancestrais”, disse. Também estava presente no evento a vereadora Giorgia Prates – Mandata Preta (PT), que celebrou o momento, pois conhecia os homenageados. “A Casa precisa dessa representatividade e é necessário mostrar a todos esses instrumentos musicais, danças e toques que nos falam tanto”, defendeu.
A mesa foi composta por: Jefferson Lima de Pires Assis, representando o Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Imperatriz da Liberdade; Mãe Dilma de Iemanjá; Karen Alessandra Leon Borges, representando o grupo Tambores do Paraná; e Heráclito Maciel, representando o Terreiro de Umbanda Pai Maneco (TPM). Além deles, estava presente Eraldo Torres, da Federação de Umbanda do Estado do Paraná (FUEP).
Saudação
Bruno Pessuti iniciou a saudação aos homenageados esclarecendo que a solenidade tinha por objetivo celebrar a diversidade religiosa existente no Brasil e a inviolabilidade da crença. “Uma ação que entendemos necessária, principalmente neste momento do Brasil, em que presenciamos ações de intolerância religiosa”, afirmou. Ele lembrou que o candomblé nasceu na África e aportou no Brasil trazido pelas levas de escravos encaminhados ao solo brasileiro, mas que sua prática era proibida e muitos adeptos foram perseguidos. Esse é o motivo pelo qual os praticantes das religiões de matriz africana tiveram de associar os orixás com figuras religiosas cristãs – processo chamado de sincretismo.
Pessuti esclareceu, ainda, que cada orixá tem uma característica própria. De acordo com ele, os povos praticam e cultuam as tradições do candomblé como símbolos de resistência. “Apesar dessas perseguições, as tradições foram mantidas e a data traduz a força desses povos”. A ideia da cerimônia, continuou o vereador, é homenagear pessoas e instituições que enaltecem as religiões de matrizes africanas e nações do candomblé. “Uma homenagem à umbanda e ao candomblé pelos relevantes serviços que prestam à sociedade no serviço espiritual e social, além de serem extremamente relevantes na preservação da ancestralidade desses povos para as novas gerações. Sua importância é tão inegável que vários municípios reconhecem a umbanda e o candomblé como patrimônios imateriais".
O parlamentar destacou os textos dos artigos 215 e 216 da Constituição Federal, que conferem ao Estado a obrigação de garantir o pleno exercício dos direitos culturais, além do apoio e do incentivo à difusão dessas manifestações. “Trouxemos o Grêmio Recreativo Cultural Imperatriz da Liberdade, que trabalha no sentido de resgatar fatos históricos que produzam reflexões sobre o passado”, apontou o propositor da sessão solene. Ele esclareceu que o projeto promove a integração social, cultural e cidadã por meio de sua arte, além de estimular a produção artística de seus componentes. “Quero parabenizar o Carnaval de Curitiba, que conseguiu reunir 18 mil pessoas. O maior público do evento nos últimos anos”, frisou.
Homenagens
A Mãe Dilma de Iemanjá também foi homenageada durante a solenidade. Ela, que iniciou a caminhada espiritual em Rio do Sul (SC), não só montou a Tenda Lar de Ogum em 1991, onde atua até hoje, mas também é responsável pelas obrigações realizadas na Tenda Mamãe Oxum, no bairro Xaxim, e Cigano Iago, no bairro Água Verde. Mãe Dilma ainda atua no Terreiro de Umbanda Tio Toninho de Aruanda, no Santa Cândida, e promove campanhas de arrecadação de roupas e de alimentos para comunidades carentes.
O vereador Bruno Pessuti citou, em seguida, o grupo Tambores do Paraná, que se dedica à preservação das tradições de matriz afro e à difusão das religiões por meio da música e da dança, com destaque para a Escola de Atabaque. O grupo Tambores do Paraná, atualmente, está sob a coordenação de Karen Leon e de Fernando Coradin. “É um grupo sem qualquer fim lucrativo, que depende de doações para a realização de seus projetos. Recentemente, o grupo perdeu um de seus idealizadores: Maykon Kopp, que deixou um legado de luta em prol da diversidade religiosa”, lembrou.
A cerimônia igualmente homenageou o Terreiro de Umbanda Pai Maneco, fundado em 1987 e sediado no Santa Cândida, com mais de 1500 integrantes. A entidade promove atividades de ensino e de pesquisa voltados à manutenção das tradições de umbanda. O TPM já realizou apresentações em espaços como o Teatro Positivo, a Ópera de Arame, a Pedreira Paulo Leminski, a rua XV, o Parque São Lourenço, o Asilo São Vicente de Paula e diversas escolas de Curitiba. Ele está na rota do turismo religioso de Curitiba e também arrecada e distribui alimentos às mais de 800 pessoas em situação de vulnerabilidade.
Agradecimento
A mãe de santo Lucília Guimarães, do TPM, falou em nome dos homenageados e destacou que o fato da Câmara realizar a solenidade era algo pouco comum. “Estamos ocupando um espaço que é muito importante para a cidade”, disse ela. “Essa homenagem traz representatividade, mas ainda não vi a palavra umbanda. A data tem relevância, mas não vejo a palavra umbanda”, apontou. Ela também esclareceu que o candomblé e a umbanda não cobram dízimos de seus participantes. “Nossas iniciativas e projetos sociais dependem do apoio do poder público”, finalizou.
>> Confira, no link abaixo, o álbum da sessão solene:
*Notícia revisada pelo estudante de Letras Brunno Abati
Supervisão do estágio: Alex Gruba
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba