Câmara concede Vulto Emérito ao infectologista Clóvis Arns da Cunha

por João Cândido Martins — publicado 03/12/2021 16h33, última modificação 03/12/2021 16h33
Fidelidade à ciência, humanismo, solidariedade e combate à desinformação foram condutas que justificaram a concessão do título
Câmara concede Vulto Emérito ao infectologista Clóvis Arns da Cunha

A Câmara Municipal de Curitiba homenageou o médico Clóvis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), que teve um papel decisivo no combate à pandemia em Curitiba e também em todo o país. (Foto: Carlos Costa/CMC)

A Câmara Municipal de Curitiba (CMC) concedeu o título de Vulto Emérito ao médico Clóvis Arns da Cunha, presidente da Associação Brasileira de Infectologia (ABI). A cerimônia foi presidida por Alexandre Leprevost (Solidariedade), 1º vice-presidente da Câmara e teve como proponente o vereador Marcelo Fachinello (PSC), líder do bloco PSC-Patriota. Além deles, compuseram a Mesa a secretária municipal de saúde, Márcia Cecília Huçulak, representando o prefeito Rafael Greca e o vereador Oscalino do Povo (PP). 

O vereador Marcelo Fachinello inicialmente explicou as origens e a razão do prêmio de vulto emérito, honraria criada no município em 1963 que destaca personalidades nascidas em Curitiba que promoveram alguma ação em benefício da coletividade. A última regulamentação do título de vulto emérito data de 2018. De acordo com Fachinello, o título tem um caráter público que transcende o próprio homenageado e marca a memória coletiva da cidade. “O curitibano preza pelos bons exemplos, portanto o prêmio de vulto emérito homenageia a pessoa, mas sinaliza para cidade os valores que prestigiamos enquanto cidade”, pontuou o vereador. De acordo com ele, o homenageado além de se ser um profissional brilhante com atuação que se pauta pelo humanismo e pela solidariedade. “O sucesso profissional de Clóvis foi conquistado com base em um caráter ilibado, e condutas pessoais irrepreensíveis”, disse o proponente da homenagem. 

Fachinello ainda ressaltou que além de praticar a medicina em altos padrões, Clóvis, na condição de presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia empreendeu esforços no sentido de informar quanto ao vírus (Covid-19), para evitar conflitos. O vereador disse que queria poder agradecer a cada profissional da saúde que atua na cidade, mas que estavam todos representados na figura do homenageado. 

“Desde o início da pandemia, Clóvis fez um trabalho importantíssimo em várias frentes. Não apenas praticou a medicina do atendimento e da recuperação dos pacientes vítimas do Covid-19, mas também atuou no front da informação, um trabalho de absoluta relevância nos tempos atuais, em que vivemos uma outra pandemia, esta de desinformação, de politicagem e de extremismos”, explicou o vereador que acrescentou ter sido o homenageado um defensor implacável da ciência que combateu o vírus com base em preceitos científicos e no conhecimento objetivo sobre as características da doença. Ainda de acordo com Fachinello, o homenageado sofreu ataques com acusações infundadas de que estaria politizando sua atuação. “Mesmo assim, ele combateu a mentira, a desinformação e a irresponsabilidade. Nossa história reservará um local especial aos profissionais que foram verdadeiras luzes em meio a tanta obscuridade”.

Fiel à ciência
Márcia Huçulak, secretária municipal de saúde, fez uso da palavra representando o prefeito Rafael Greca. Para ela, a homenagem é justa, correta e merecida. “Num momento em que vivíamos uma guerra contra o vírus, o doutor Clóvis foi nosso alicerce, nossa luz”, disse ela. Embora não fizesse parte da Secretaria de Saúde, nós o consultamos quase que diariamente e ele participou de lives e vídeo-conferências com os profissionais da secretaria, o que possibilitou que Curitiba se tornasse pioneira na utilização da oximetria. 

“Ele também foi fundamental para o uso de corticóides no tratamento dos pacientes. Se pudessem, os 10 mil servidores que atuam na pasta da saúde estaria hoje aqui reforçando os aplausos a este profissional”. De acordo com a secretária, Clóvis foi responsável pelo salvamento de milhares de vidas em Curitiba e também no resto do Brasil. “E sempre com uma conduta ética e fiel à ciência, uma conduta despojada. Trata-se de um ser humano ímpar”, concluiu. 

Em vídeo, o prefeito Rafael Greca declarou que a CMC acertou na homenagem, pois Clóvis foi protagonista na remissão da pandemia em Curitiba e outros locais. “Consultor do Senado e dos tribunais superiores do Brasil sobre infectologia, o dr Clóvis é formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) com notável especialização em infectologia nos Estados Unidos. Seu Centro Clínico São Francisco é referência local e nacional. 

Agradecimento
O homenageado enalteceu a Câmara Municipal e o prefeito. Ele agradeceu à secretária pelo convite para participar do Comitê Municipal de Saúde (CMS) quanto ao combate à pandemia. “Vivemos momentos de dificuldade quando, por exemplo, tentamos convencer a população sobre a prevenção não-farmacológica (uso e máscara, distanciamento físico e uso do álcool). Da rotina na luta contra o Covid ele traz duas palavras: gratidão e felicidade. Gratidão por estar vido e felicidade por ver que os esforços foram recompensados, face a diminuição de óbitos decorrentes da doença. Ele agradeceu à sua esposa, Rejane da Cunha, que também médica, pela paciência e colaboração. Graças à Rejane, que colaborou nos informes da Sociedade Brasileira de Infectologia. “Tais textos passaram a ser aceitos - ou menos contestados - pelos negacionistas quando publicávamos que as vacinas eram seguras e necessárias”, declarou o infectologista. 

Mas ele destacou que houve ataques pessoais, como o sofrido após o feriado de Tiradentes em 2021, quando teve seu e-mail hackeado e invadido. A situação chegou a tal ponto que meu primo, o senador Flávio Arns, ingressou com uma representação na Procuradoria Geral da República. Ele ainda agradeceu aos  vereadores de Curitiba que se manifestaram em seu apoio, quando recebeu críticas por parte de outros vereadores, entusiastas do chamado “Tratamento Precoce”. Clóvis chegou a ser chamado de “esse infeliz” em razão de ser contrário ao tratamento da Covid por meio de remédios como a Hidroxicloroquina, cuja eficácia desde o início da pandemia foi amplamente contestada por respeitados setores e publicações da comunidade médica mundial, entre eles a Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Clóvis não se diz incomodado com a agressão. “Foi uma situação isolada e pertence ao passado. Tudo que a SBI publica representa a voz da ciência e não uma voz individualizada. No momento, apenas 3% da população brasileira não acreditam no funcionamento das vacinas, o que significa que, apesar da atuação dos negacionistas, o povo brasileiro revela mais consciência do que muitos outros povos do mundo. Devemos, portanto, alimentar um otimismo cauteloso”, advertiu o médico. 

Ele destacou que 90% dos paciente do Nossa Senhora das Graças e do Nossa Saúde se recuperaram, sobreviveram e a maioria está bem. “A crise mostrou o valor da equipe, todo sucesso deve ser comemorado na primeira pessoa do plural”. Ele destacou que com relação às novas variantes, como a Ômicron, as vacinas já aplicadas teriam efeito. “A variante parece ser tão contagiosa quanto as anteriores, mas menos letal. E até onde se sabe, a maior parte dos casos da nova variante se manifesta de modo assintomático”, esclareceu. O homenageado agradeceu a presença dos vereadores do município de Rolândia que assistiram a cerimônia: Paulo Sérgio de Jesus (AVANTE), 3o vice-presidente; vereadora Cristina Pieretti (PP), 2a secretaria; Rodrigo da Costa Teodoro (PSD), 1o secretário. Também participaram do evento músicos da Banda Lyra Curitibana. Todas as fotos do evento podem ser encontradas no Flickr da Câmara Municipal e a cerimônia pode ser assistida na íntegra no Canal da CMC no Youtube.