Câmara comemora os 40 anos da Gibiteca de Curitiba

por João Cândido Martins | Revisão: Vanusa Paiva — publicado 09/12/2022 11h40, última modificação 09/12/2022 11h46
Entidade se tornou referência na divulgação do universo das histórias em quadrinhos, em particular, as feitas no Brasil.
Câmara comemora os 40 anos da Gibiteca de Curitiba

Os 40 anos da Gibiteca de Curitiba foram comemorados pela CMC com uma sessão solene. (Foto: Carlos Costa/CMC)

Nesta quinta-feira (8), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) promoveu uma sessão solene alusiva à passagem dos 40 anos da Gibiteca de Curitiba. A cerimônia foi presidida pelo vereador Alexandre Leprevost (Solidariedade) e teve a iniciativa dos vereadores Serginho do Posto (União) e Nori Seto (PP). Leprevost manifestou que estava honrado em poder presidir a sessão e parabenizou os proponentes da homenagem pela iniciativa de homenagear aqueles que mantêm a Gibiteca forte e ativa. “Um lugar que é fonte de conhecimento e formador de talentos”, disse o parlamentar. 

Compuseram a mesa os vereadores Alexandre Leprevost, Nori Seto (PP), Serginho do Posto e Jornalista Márcio Barros (PSD). Além deles, Key Imaguirre, fundador da Gibiteca; Fúlvio Pacheco, coordenador da Gibiteca; e Gabriel Paris, diretor de Patrimônio Cultural, representando Ana Cristina de Castro, presidente da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Alexandre Leprevost também destacou a presença de João Luis Teixeira, CEO da empresa Samba Express.

>> Confira a solenidade na íntegra:

Saudação
O vereador Nori Seto promoveu a saudação oficial aos homenageados. Ele, em parceria com o vereador Serginho do Posto, foi um dos autores da proposta que originou a cerimônia. Ele disse que a ideia de homenagear os 40 anos da Gibiteca de Curitiba se deve à importância da entidade que, de acordo com Seto, “transcende o público que frequenta, sendo uma referência nacional e internacional no universo das histórias em quadrinhos”. O vereador ressaltou que a homenagem foi planejada com participação de Fúlvio Pacheco, coordenador da Gibiteca, a quem foi sugerida a listagem de 40 nomes representativos da história da entidade. 

Nori evocou uma lembrança de infância. Seu pai, Cláudio, que foi o primeiro professor da Gibiteca de Curitiba e um dos nomes mais importantes dos quadrinhos brasileiros, mantinha em casa um quarto com uma montanha de revistas e publicações diversas. Em certa ocasião, uma entrevistadora indagou o porquê de as revistas estarem amontoadas de forma caótica, e não organizadas em pilhas. Cláudio Seto respondeu que, quando criança, era fascinado com a imagem da caixa-forte na qual o personagem Tio Patinhas guardava montanhas de moedas. Ele não tinha tantas moedas, mas fez uma “caixa-forte de gibis”. “Vocês devem imaginar como o acesso a todas essas histórias influenciou minha formação cultural”, disse Nori Seto. 

“Fico emocionado ao ver tantas pessoas conhecidas que tiveram convivência próxima com meu saudoso pai, Cláudio Seto, que me ensinou a apreciar a arte e a cultura em suas mais variadas formas”, disse Nori. Ele lembrou que seu pai dizia que a busca do artista não deveria ser por prêmios e homenagens, mas por ideais e o bem comum. “Mas ele também entendia que o reconhecimento, quando vem, é muito gratificante e gera muita alegria, pois demonstra que o trabalho está sendo feito no caminho correto”, afirmou o vereador. Para ele, todos os homenageados são ou foram protagonistas na trajetória da Gibiteca. “Vocês roteirizaram, desenharam e colorizaram toda essa história que teve começo, meio e, se depender de nós, nunca vai ter fim”, concluiu. 

Serginho do Posto declarou sua alegria por ter sido um dos proponentes da homenagem. “Quero exaltar todos os homenageados na figura do professor Key Imaguirre, fundador da Gibiteca, e também destacar o Fúlvio Pacheco, atual coordenador da entidade, a quem considero a pessoa certa no lugar certo”, disse o vereador. Serginho falou sobre o desenhista Cláudio Seto, pai do vereador Nori Seto. “Cláudio foi jornalista, quadrinista, chargista, artista plástico, pesquisador da cultura japonesa e é considerado o introdutor da cultura mangá no Brasil, pois lançou a primeira revista nacional do gênero ainda no ano de 1968”, contou o parlamentar. 

De acordo com ele, Cláudio Seto veio para Curitiba em 1975, onde passou a trabalhar na Grafipar, editora local que teve forte presença nos quadrinhos brasileiros entre os anos 70 e 80 e ainda é uma referência na área. Cláudio Seto também publicou “A História de Curitiba em Quadrinhos”, lançado com texto da professora Cassiana de Lacerda, por ocasião das comemorações dos 300 anos de Curitiba, em 1993. “Corajoso, Cláudio Seto publicou material adulto ainda no tempo da ditadura. Foi o primeiro professor da Gibiteca de Curitiba e se tornou um dos principais profissionais dos quadrinhos no Brasil”, explicou Serginho. 

Em 2007, recebeu a Cidadania Honorária de Curitiba e faleceu no ano seguinte, sendo homenageado pelo prêmio HQ Mix de 2008, considerado o “Oscar dos quadrinhos brasileiros”. Serginho lembrou do projeto de sua autoria que pretende transformar a Gibiteca em patrimônio cultural de Curitiba. “Seria um grande reconhecimento a essa entidade que há quatro décadas cumpre seus propósitos”, afirmou o vereador. 

Agradecimento
Key Imaguirre, fundador da Gibiteca de Curitiba, declarou que a homenagem é um dos fatos mais gloriosos na história da entidade. “Um importante reconhecimento oficial que se deve ao esforço, à dedicação e à competência dos que dirigiram e colaboraram nas suas atividades”, afirmou. Para ele, a Gibiteca é uma entidade extremamente ativa que proporciona à população o acesso ao universo dos quadrinhos. Ele lembrou que quando participou do júri do Festival de Caricaturas de Montreal, na década de 80, teve contato com profissionais de todo o mundo e ao perguntar a eles sobre se haveria uma entidade aos moldes da Gibiteca, só obteve respostas negativas. 

Imaguirre lembrou que existem museus dedicados aos quadrinhos, que eventos na área são constantemente realizados e que hoje existe uma série de instituições que prestigiam os quadrinhos. “Há 40 anos, a literatura gráfica não era plenamente aceita como arte, mas hoje me surpreende a quantidade de pessoas nos eventos do gênero”, afirmou. Ele disse estar feliz com o fato de que a Gibiteca não se limitou ao caldo cultural em que ela surgiu nos anos 80. De acordo com Imaguirre, “a Gibiteca seguiu seus próprios caminhos e alcançou um desenvolvimento extraordinário, graças aos que se dedicaram ao ideal de divulgar os quadrinhos brasileiros”. 

Fúlvio Pacheco, coordenador da Gibiteca, agradeceu à Câmara pela homenagem e aos homenageados. Sobre a escolha dos nomes homenageados, ele revelou ter buscado ajuda de Key Imaguirre, que, na condição de fundador da entidade, conheceu pessoas em todas as fases de sua existência. Ele destacou que a Gibiteca não se restringe ao mundo dos quadrinhos. “Também promovemos eventos em outras áreas ‘nerds’, como os RPGs e o universo Jedi (Star Wars)”. 

Homenageados
Key Imaguirre, arquiteto, professor da UFPR e fundador da Gibiteca de Curitiba; Ana Cristina de Castro, presidente da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), representada pelo servidor Gabriel Paris; Edson Bueno, diretor de ação cultural da FCC e promotor da área teatral, foi diretor da Gibiteca entre 1983 e 86; Fúlvio Pacheco, quadrinista, atualmente coordena a Gibiteca; Rosalina Oduka, funcionária de carreira da FCC desde 2016 e faz parte da equipe da Gibiteca; Luis Pacheco, fotógrafo, responsável por mais de 60 vídeos sobre a Gibiteca; Hugo Tavares, historiador e servidor da FCC, foi o responsável pelo retorno da Gibiteca à Casa da Baronesa e pela viabilização da mostra Traços Curitibanos; Marcelo Lopes, ilustrador e cartunista, ministra cursos na Gibiteca e representa a classe no Conselho Municipal de Cultura; Antonio Eder, quadrinista e animador, codiretor da Dogzila, ministrou cursos na Gibiteca e foi um dos criadores do personagem "O Gralha"; José Aguiar, autor premiado por meio do selo Quadrinhofilia, com obras publicadas no Brasil e no exterior, além de criar os eventos Gibicon e Cena HQ; André Kaliman, quadrinista, ministra cursos na Gibiteca, um dos profissionais mais ativos da entidade; João Ferreira, professor de desenho na Gibiteca e em outros espaços da cidade; Ariel da Cunha, ministra cursos na Gibiteca; Bianca Pinheiro, quadrinista famosa com participações na Graphic MSP, ministrou aulas de roteiro na Gibiteca; Francis Ortolan, quadrinista e animador, pós-graduado em Quadrinhos pela OPET e também professor na Gibiteca; Mile Pampuche, escritora e roteirista, ministra cursos em espaços culturais como a Gibiteca; Rafaela Corsi, desenhista da nova geração, é professora da Gibiteca; Natan SS, caricaturista, curador de caricatura e cartum na Traços Curitibanos e representante no setorial de ilustração; Wilson Muller, criador do personagem Zequinha, também integrou o grupo de criadores do personagem O Gralha, em 1997 na Gibiteca; Edson José Cortiano, cartunista e professor na UFPR, editou o fanzine “Casa de Tolerância”, que embasou a criação da Gibiteca; Luis César Beneda, chargista e cartunista, pioneiro na produção de cartuns no Paraná; Ademir Paixão, caricaturista e chargista com trabalhos nos principais veículos de imprensa do Paraná; Valkir Fernandes, codiretor da Dogzilla, quadrinista, curador de animação da Traços Curitibanos; Arol Sakura, roteirista, quadrinista e animadora, professora na Gibiteca de Curitiba; Luis Solda, consagrado cartunista com participação no jornal Pasquim e na revista Bundas; Tako X, fez parte da revista MAD, é colaborador na criação do personagem Gralha, representado pelo próprio personagem Gralha; Luis Antonio Guinski, artista plástico e designer, participante do zine “Gibitiba”, da Gibiteca; Márcia Zeliga, artista plástica, escritora e ilustradora do Mundo da Fantasia desde 1980, já ilustrou mais 100 títulos infanto-juvenis; Priscila Vieira, artista, designer e cartunista, é também criadora da personagem Amelie, com 22 mil leitores diários em todo o mundo; José Avellar foi proprietário da banca Nanicão, um importante ponto de venda de quadrinhos na galeria Julio Moreira, durante os anos 70 e 80; Mitie Takinani, proprietária da Itiban, uma das maiores "comic shops" do país e, em 2022, integrou o júri técnico da CCXP Awards; Roberson Caldeira Nunes, funcionário da Casa da Memória e organizador da Trekcon, primeiro evento geek curitibano; Flávia Nogueira, produtora cultural desde 2007, coordena a Zombie Walk CWB; Daniel Sachs, editor da produtora Ink Blue Comics; Simon Taylor, ilustrador e designer, foi um dos criadores do grupo Urban Sketches; Lucas Fernandes, fanzineiro e quadrinista, desde os anos 90 é produtor cultural em Curitiba; Cristiano Karstensen, ilustrador da mostra Underground Ilustrado; e Mateus Bufoni, coordenador do evento coletivo Jogata. 

>> Veja todas as fotos da sessão solene no Flickr da CMC!

08/12/2022 - Sessão Solene - 40 anos da Gibiteca