Baixa atratividade da Linha Verde gerou projeto de lei, diz Prefeitura

por Assessoria Comunicação publicado 19/11/2015 17h55, última modificação 05/10/2021 06h46
Em audiência pública na tarde desta quinta-feira (19), servidores da Prefeitura de Curitiba responderam questionamentos da Comissão de Serviço Público da Câmara de Vereadores ao projeto do Executivo (005.00175.2015) para alterar a lei municipal 13.909/2011, que rege as construções na Linha Verde. Segundo o superintendente técnico da Secretaria Municipal do Urbanismo (SMU), Rafael Mueller, a proposição foi embasada por estudos que comprovaram a baixa atratividade para a implantação de empreendimentos na antiga BR-116, que corta 23 bairros da cidade, do Atuba ao Tatuquara, “mesmo com o baixo valor dos terrenos”.

“Um estudo técnico confirmou que os terrenos estavam sendo ocupados em seus parâmetros básicos, sem a aquisição do recurso do Cepac [Certificado de Potencial Adicional de Construção]”, declarou Mueller. Esse mecanismo, explicou ele, funciona como o potencial construtivo. Emitidos em leilões, eles permitem a construção em área adicional, chamada de ACA. Os valores arrecadados, por sua vez, são direcionados a obras de infraestrutura na Linha Verde, junto a outras fontes de financiamento das obras. De acordo com os dados apresentados, em 2014 foram emitidos 31 alvarás com a compra de Cepacs, enquanto 750 alvarás não o utilizaram. “Esse é um indicativo que algo não anda bem. O que queremos, efetivamente, é aumentar a aquisição dos Cepacs”, afirmou.

Mueller também defendeu que o projeto “não altera os princípios básicos da lei e itens significativos que resultariam em impacto ao equilíbrio econômico-financeiro no que se refere a questões como zoneamento, diretrizes gerais, conceito, objetivo e área de abrangência” da Linha Verde. A proposta, completou Wilhem Meissner, assessor da Secretaria Municipal de Planejamento e Administração (Seplad), não poderia “descaracterizar” a Operação Urbana Consorciada Linha Verde (OUC-LV), caso contrário seria necessário refazê-la. “A gente pode dizer que estamos corrigindo os atrativos.”

Das alterações propostas na lei 13.909/2011, três são novos incentivos construtivos, que pretendem melhorar a atratividade da Linha Verde, mediante a aquisição mínima de 80% da ACA admitida para o imóvel. Uma delas aumenta para até 75% a possibilidade de utilização do subsolo para a construção de subterrâneos. Segundo Cristiane Born, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), o Executivo “entende que é mais prudente” aumentar a taxa de ocupação do que o empreendimento construir mais de um subsolo, que poderia ter um impacto ambiental “muito maior”.

O segundo incentivo é para conjuntos de habitação coletiva, com a densidade máxima de 80 habitações por hectare. O último deles prevê benefícios para imóveis que promovam a preservação do patrimônio natural e histórico, a melhoria da qualidade ambiental e a habitação de interesse social, mediante regulamentação específica.

As demais alterações propostas na lei tratam de adequações na norma, “para melhorar sua aplicação”, e dos mecanismos de gestão do OUC-LV. Nesse contexto, uma das medidas é para que os integrantes do Grupo de Gestão e da Comissão Executiva tenham suplentes. Outro dispositivo do projeto corrige o nome da Seplad, que em 2011 ainda era se chamava Smad (Secretaria Municipal de Administração). Mueller defendeu que a permissão de usos e porte comerciais nas vias coletoras e setoriais, desde que haja a compra do Cepac (1 para cada 8 m²), não é um incentivo construtivo, em sim uma “correção” na legislação vigente.

Considerações
Presidente da Comissão de Serviço Público, a vereadora Julieta Reis (DEM) avaliou que  a prefeitura deveria ter promovido uma audiência pública antes de enviar o projeto à Casa, em agosto passado. “A lei foi amplamente discutida em 2011. Participamos de várias audiências e foi uma surpresa agora recebermos a mensagem do senhor prefeito sem nenhuma explicação. É claro que a Linha Verde tem que melhorar, mas as pessoas se esquecem como a região antes era pior. Grandes empreendimentos vão acabar sendo construídos, como dois shoppings, e trarão impacto ao trânsito. É necessário olhar para o sistema viário e construir mais trincheiras” completou.

Autora do parecer por mais informações, no colegiado de Serviço Público, a Professora Josete (PT) insistiu que o Executivo deve realizar audiências públicas para debater as mudanças propostas com os moradores e comerciantes da região. Ela também cobrou a apresentação dos estudos que embasaram o projeto, na projeção de impacto financeiro e na elaboração do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), exigido pelo Estatuto de Cidade.

O arquiteto Alexandre Pedroto, que acompanhou a audiência pública, disse não concordar com a justificativa da SMMA, de que o estudo de impacto ambiental já contempla os aspectos do EIV. A ausência, indicou ele, pode gerar “questionamento jurídico” à lei. O cidadão também acredita que os incentivos aprovados na revisão do Plano Diretor de Curitiba podem ser mais vantajosos que os propostos à Linha Verde.

“A expectativa era de mais obras na região, que não atingiu seus objetivos. É adequado rever seus usos, já que as operações urbanas conseguem trazer recursos à prefeitura. Todos os incorporadores e arquitetos com que a gente conversa reclamam muito da Linha Verde, dizem que é mais fácil comprar o potencial construtivo que os Cepacs e, assim, investir em outras áreas da cidade”, avaliou o arquiteto e urbanista, vereador Jonny Stica (PT), que representou a Comissão de Urbanismo, Obras Públicas e TI no debate.

Também participaram da audiência pública os vereadores Serginho do Posto (PSDB), que faz parte da Comissão de Serviço Público, e Paulo Salamuni (PV), líder do prefeito  no Legislativo municipal. O engenheiro Assis Francisco Anastácio falou em nome do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).

Tramitação
Além de apresentar questionamentos ao Executivo, o parecer da Comissão de Serviço Público indicou a devolução do projeto a Legislação, Justiça e Redação, o que deve ocorrer na reunião da próxima terça-feira (24). Só esse colegiado pode submeter a matéria ao colegiado de Economia, Finanças e Fiscalização, que não havia sido indicado na instrução jurídica da Câmara. Depois disso é que a proposição retorna a Serviço Público e seguirá para Urbanismo, para então encerrar o trâmite nas comissões e poder ser votada em plenário.

Confira mais fotos do evento no Flickr da Câmara de Curitiba.