Audiência sobre violência no Centro fez homenagem a jovem assassinado
A fim de buscar soluções para os casos de violência e criminalidade, especialmente no Centro, uma audiência pública realizada na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), nesta segunda-feira (6), reuniu representantes de estudantes, da sociedade civil organizada e das polícias Civil e Militar. A discussão “Segurança Pública e o direito à cidade” foi uma reivindicação da Casa do Estudante Universitário entregue ao vereador Marcos Vieira (PDT), integrante da Comissão de Educação, Cultura e Turismo.
Durante o evento, os presentes fizeram um minuto de silêncio pela morte do estudante da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) Jorge Farias, de 21 anos, que foi cercado e assassinado com uma facada, no centro da capital, no mês de maio. “É uma dor coletiva de perder, à luz do dia, um dos nossos membros”, disse o presidente da Casa do Estudante, Cleverton Quadros. Ele destacou ainda que a criminalidade atinge não somente estudantes no trajeto casa-escola, mas também moradores da região central e comerciantes.
Um trabalho conjunto entre a Polícia Militar e a Guarda Municipal, em espaços como o Passeio Público, cujo módulo policial foi desativado, foi sugerido por Edeluz Ribas Alves. Ela é presidente da Associação de Moradores, Proprietários, Comerciantes e Amigos da Praça Santos Andrade e Passeio Público há 17 anos e disse que está “cansada de esperar que as coisas melhorem”. Ela afirmou que deseja a garantia do atendimento à segurança pública para a população.
Por haver grande número de instituições de ensino na região central, o presidente da Comissão de Educação, Professor Euler (PSD), falou sobre a importância de se atentar para os ambientes escolares. Euler citou também o projeto da Lei de Zoneamento, entregue pelo prefeito Rafael Greca na Câmara, na semana passada, e que prevê medidas para incentivar construção de moradias para a região central. “Que as pessoas retornem a morar no centro, uma nova ocupação como fator para diminuir os índices de criminalidade”, sugeriu.
Na mesma linha, a estudante Isabela Marinho falou sobre o “acesso à cidade”. “Falta gente na cidade, a cidade está esvaziada”, frisou. Ela citou que é preciso garantir "direitos legais", como transporte e infraestrutura, indicando a falta de iluminação em alguns pontos nas vias, o que, segundo ela, faz do entorno das universidade e escolas locais mais “vulneráveis”.
Professor Euler (PSD), assim como Geovane Fernandes (PTB), destacaram os trabalhos dos Conselhos Municipais de Segurança (Conseg) nos bairros e a contribuição desses colegiados para o trabalho policial. “Quanto maior o sentimento de pertencimento ao seu bairro, mais eficiente é a participação da população”, disse Euler.
O capitão Gildo dos Santos Lima, do 12º Batalhão de Polícia Militar, informou que a PM tem feito trabalhos em conjunto com a Guarda Municipal, por meio do patrulhamento comunitário, e atende 28 bairros da capital. Para Lima, é preciso que a população registre as ocorrências pelo 190, para que, ao menos, o fato entre para as estatísticas da polícia, ajudando no trabalho preventivo. “Temos roubos, mas as pessoas não registram”, pontuou.
Já o delegado da Delegacia de Furtos e Roubos, Emannoel David, descreveu como é feito o trabalho da Polícia Civil na investigação de crimes, como o que vitimou o estudante Jorge Farias. Ainda falou das limitações da polícia, como o corpo efetivo de 30 investigadores para 2 milhões de habitantes. “O Estado tem buscado meios de suprir isso, mas uma defasagem história [no quadro de funcionários] não consegue ser suprida de um governo para o outro”, ponderou.
Representando a área acadêmica, a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Priscila Placha Sá, afirma que por meio do estudo sobre a história do Brasil “temos a possibilidade de dizer que a violência é o componente da estrutura da sociedade brasileira”, citando questões como escravatura, patriarcado e desigualdade de raças e gêneros. Ela também atribui o aumento da criminalidade ao agravamento de crises econômicas e, atualmente, o novo uso de redes sociais para a promoção da violência e de crimes. O público presente na audiência pode participar, ao final das explanações, com sugestões e dúvidas. Também estiveram presentes os vereadores Maria Manfron (PP), Oscalino do Povo (Pode) e Professora Josete (PT).
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba