Audiência debateu atendimento psicossocial em Curitiba
A Câmara de Curitiba recebeu, nesta sexta-feira (23), mais de 130 pessoas durante audiência pública sobre drogadição e saúde mental. O evento foi promovido pela vereadora Noemia Rocha (PMDB) e, segundo a parlamentar, é importante debater o uso das drogas e o acolhimento de dependentes químicos no Município. “Nossa ideia é estabelecer um panorama sobre o que se realiza em Curitiba e de que maneira podemos aprimorar os serviços oferecidos”, disse.
Noemia Rocha também avalia que é necessário mais esforços do poder público em relação às comunidades terapêuticas, que, segundo a vereadora, fazem um “importante trabalho” na área assistencial aos usuários de drogas. “Apesar da boa vontade dessas comunidades, falta estrutura financeira, que é uma responsabilidade do Estado”, complementou.
O presidente da Frente Parlamentar contra o Crack e outras Drogas, Valdemir Soares (PRB), demonstrou satisfação pela abertura do Legislativo para discutir o tema. “Queremos fomentar políticas públicas efetivas contra as drogas, além de trabalhar pela conscientização e prevenção”, asseverou. Soares também valorizou o trabalho realizado pelas igrejas e movimentos sociais junto às famílias para que a “demanda por tratamento no futuro seja menor”.
Para o professor Luis Felipe Ferro, do departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Paraná, o tratamento para o usuário de drogas precisa englobar também a família do paciente. “Culpamos sempre o indivíduo, esquecendo que ele tem uma família. As unidades de acolhimento são importantes nos momentos em que a família já está num estado de saturação em relação ao convívio com usuário ou doente”, explicou.
O diretor do departamento de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde, Marcelo Kimati Dias, disse a “fragilidade” da rede assistencial psicossocial está na falta de envolvimento dos usuários dos equipamentos de saúde e dos trabalhadores, no processo de estruturação da rede. “Fortalecer o atendimento psicossocial através do SUS é uma obrigação do Estado. O usuário atendido pela rede pública tem a possibilidade de continuar seu convívio familiar. Os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) são dispositivos de tratamento mais eficazes, e o tempo de internamento do paciente é muito menor”, ponderou.
A igualdade do cidadão perante a lei e necessidade de atendimento isonômico para todas as pessoas foram defendidos por Fernanda Garcez, promotora de Justiça do Ministério Público do Paraná. “A maioria dos transtornos mentais é crônica, não existindo solução definitiva. Precisamos garantir o acesso ao atendimento especializado, principalmente de urgência e emergência”, asseverou.
Uma rede de atendimento multidisciplinar e com abordagens diferenciadas ao paciente foram citadas pelo psiquiatra e presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria, André Rotta Burkiewicz. O médico defende espaços adequados para tratamento dos pacientes psiquiátricos. “Mais de 50% dos presos no Brasil são pacientes psiquiátricos. Muitos deles não deveriam estar presos, mas tratados”, pontuou.
O vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia, Guilherme Bertassoni da Silva, considera primordial valorizar a integração entre as diferentes profissões responsáveis pelo atendimento aos usuários de drogas e pacientes mentais. “Estamos num momento de mudança do modelo de tratamento. É uma transição. O fortalecimento da saúde mental no SUS permite um intercâmbio maior entre as categorias”, explicou.
O combate ao tráfico de droga e o encaminhamento correto dos usuários de entorpecentes foi citada como uma das prioridades pelo coronel Roberson Bondaruk, da Assessoria de Segurança Institucional do MP-PR. “O aumento da produção de droga faz a polícia se desdobrar para encontrar o traficante. Por isso é importante a preparação da polícia para distinguir entre o usuário, o traficante e o usuário que trafica para sustentar o vício”, declarou.
Durante a audiência, diversas pessoas puderam se manifestar, através de perguntas e até mesmo com testemunhos, para esclarecer a importância do tratamento contra as drogas e a possibilidade de reconstrução de vida. Dentre as falas, esteve a psicóloga Adriane Wollmann, coordenadora do programa Consultório na Rua, da Secretaria Municipal de Saúde. Adriane salientou o fato de que a maioria das pessoas em situação de rua apresentam transtornos mentais, mas apenas metade faz uso do álcool e outras drogas.
“Existem muitos motivos para as pessoas estarem nas ruas. Poder trabalhar com estes moradores e ajudá-los é muito importante. Lembro inclusive que a primeira pessoa internada no Hospital do Idoso Zilda Arns, que possui leitos psiquiátricos, foi um morador de rua”, relatou. Também participaram da audiência a vereadora Professora Josete (PT), integrantes da Fundação de Ação Social (FAS), trabalhadores da área da saúde de Curitiba, além de integrantes de comunidades terapêuticas.
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