Audiência debate intensificação da agricultura urbana em Curitiba
Na tarde desta sexta-feira (10), a comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável promoveu uma reunião pública que teve por tema a agricultura urbana. O vereador Goura (PDT), que coordenou o evento, exemplificou que iniciativas como a Horta Comunitária do Cristo Rei “não são apenas temas de cultivo de alimentos, mas também de cultivo de cidadania”. Ele destacou que em Curitiba existem experiências na área tanto no campo público quanto no privado. “Nossa cidade tem potencial para que isso seja regulamentado, mas devemos ter uma legislação mais moderna e antenada com as necessidades do mundo atual”, disse.
Goura, que pretende apresentar um projeto de lei sobre o assunto, destacou que a horta comunitária resgata o convívio social e também revigora o debate sobre soberania alimentar e temas correlatos. Luiz Gusi, secretário municipal de Abastecimento, esclareceu que a Prefeitura de Curitiba tem interesse no tema, mas para que é necessária uma campanha de conscientização da população, pois “o cidadão urbano possui pouca consciência de onde e como são produzidos os alimentos”.
De acordo com Gusi, a agricultura urbana pode ser uma ferramenta estratégica de segurança alimentar. “Principalmente porque Curitiba aderiu aos objetivos de sustentabilidade propostos pela ONU”, ponderou. O secretário explicou que Curitiba possui um programa de agricultura urbana desde 1986. “São 428 mil m² de hortas que beneficiam 900 famílias e mais 15 mil m² que atendem instituições de ensino”.
Para o representante do Executivo, deve ser estimulada a participação dos setores público, privado e terceiro setor. “É o caso, por exemplo, da parceria com empresa Rumo que possui vazios urbanos adjacentes às linhas de trens”. O secretário exibiu dois vídeos. Um sobre o projeto desenvolvido no Rio Bonito com a participação de chefs gastronômicos e outro sobre o projeto do Centro de Referência em Agricultura Urbana que será feito num terreno atrás da rodoviária.
Feed Your City
Para Ricardo Leinig, da Horta Comunitária do Cristo Rei, não é simples o Estado regulamentar as hortas urbanas sem que caia na ingerência. “A horta do Cristo Rei abriu a possibilidade para outras iniciativas parecidas”. De acordo com Leinig, hortas comunitárias sempre existiram [principalmente nas periferias], mas a do Cristo Rei chamou atenção pelo debate que gerou. “Não havia uma intenção original de divulgar a horta, mas a notificação da prefeitura nos fez mudar de opinião”, disse. A hortafoi indicada pela Organização das Nações Unidas (ONU) ao primeiro Feed Your City, projeto que salienta casos de agricultura urbana em pequena escala.
Marcos José de Abreu, o Marquito, que é vereador em Florianópolis, comentou sobre a chamada “revolução dos baldinhos”. “Os integrantes da comunidade levam seus resíduos alimentares em baldinhos para que sejam destinados à posterior compostagem”, explicou. Para ele não faz sentido o resíduo ser levado por quilômetros em direção a um aterro onde não vai ser transformado em nada [quando poderia ser transformado em composto orgânico].
O vereador catarinense destacou o projeto Rede Semear de agricultura urbana, desenvolvido em Florianópolis. Marquito lembrou que durante o embargo político, Cuba teve na agricultura urbana um grande instrumento de sobrevivência. “Berlim no pós-guerra também se utilizou desse recurso e, da mesma forma, Londres com seus tetos verdes e a cidade de Detroit, que virou uma referência. Enquanto isso, no Brasil, não temos uma política nacional de agricultura urbana”.
Para Claudio Oliver, da Casa da Videira, seria o caso de se chamar a agricultura urbana de jardinagem. “A jardinagem produz 8 vezes mais do qualquer monocultura”. “Curitiba produz 2 milhões de quilos de lixo diários, sendo que 51% são dejetos orgânicos. A cidade era conhecida por suas inovações e precisa inovar de novo”. Oliver lembrou o conceito de “cidade regenerativa” proposto pela ONU. “Um supermercado tem em média expostos 45 mil produtos em suas estantes e gôndolas. 1/3 disso é milho. Devemos transformar o carrinho de mercado num símbolo de expressão política”.
Participações
Professora Josete (PT) parabenizou o vereador Goura pela iniciativa. “O tema nos faz repensar a sociedade e buscar alternativas para que possamos nos humanizar novamente”, disse a vereadora, que integra o Conselho Municipal de Segurança Alimentar. Para ela, o tema da agricultura urbana é muito importante para se discutir a soberania e a segurança alimentar.
Luís Reis, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no Paraná (IAB-PR), mencionou que a entidade, em parceria com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e com o mandato do vereador Goura, apresentaram uma carta à prefeitura com sugestões ao plano de zoneamento. “Nessa proposta estão contemplados temas como telhado verde e horta urbana”, explicou o arquiteto.
O advogado Mathieu Bertrand Struck compareceu à reunião representando os movimentos Salvemos o Bosque da Casa Gomm (primeira horta autônoma em parque público) e o Parque Bom Retiro. Para ele, a horta urbana representa a criação e o reestabelecimento de laços sociais. “Ela é uma prática cultural”, afirmou o advogado. Mathieu destacou que em Berlim, as hortas urbanas são praticadas em terrenos arrendados pelo governo.
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