Atendimento à mulher vítima de violência debatido na Tribuna Livre
A Câmara Municipal recebeu na Tribuna Livre desta quarta-feira (8) a coordenadora da Casa da Mulher Brasileira de Curitiba, Sandra Prado. A convite da vereadora Professora Josete (PT), ela falou sobre as atividades do equipamento e sobre os esforços do Município em prestar atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica.
“Muitas pessoas desconhecem esse tipo de política pública. É um equipamento muito importante, com compromisso de fazer daquele um espaço de acolhimento, com sensibilidade para essas vítimas de violência. Isso enquanto não tivermos uma sociedade justa, em que as mulheres sejam respeitadas enquanto cidadãs”, pontuou Josete. “A Casa da Mulher Brasileira nem deveria existir, porque não deveria existir violência”, ponderou o presidente do Legislativo, Serginho do Posto (PSDB). “Assim nem deveríamos ter leis e medidas protetivas, a nível mundial”, lamentou o vereador.
Segundo Sandra Prado, o Programa “Mulher, Viver Sem Violência”, do Ministério da Justiça e Cidadania, lançado em 2013, é que deu origem à Casa da Mulher Brasileira. Sendo Curitiba a terceira cidade brasileira a receber o equipamento, a Casa foi inaugurada em junho de 2016 e integra serviços voltado às mulheres em situação de violência, com a articulação dos atendimentos especializados na área de saúde, justiça, segurança, rede socioassistencial e da promoção da autonomia financeira. “Lá oferecemos recepção, acolhimento e triagem, além de apoio psicossocial. Contamos ainda com juizado especializado, central de transporte, alojamento de passagem, defensoria, promotoria especializada”, conta Sandra.
Durante o debate, Noemia Rocha (PMDB) questionou a falta da estrutura de uma delegacia especializada dentro da Casa e se isso não acabaria fazendo a vítima desistir do processo de denúncia. “A delegacia especializada conta apenas com uma escrivã, ainda, por falta de estrutura física, questão que deve ser resolvida em breve, por conta de uma obra que precisa ser realizada e já conta com recursos disponíveis”, relatou Sandra Prado. No entanto, segundo ela, a Casa oferece o serviço de transporte até a delegacia especializada, não sendo necessário o deslocamento da vítima por conta própria.
Outro ponto levantado por Noemia disse respeito à contribuição da região metropolitana na administração do equipamento. Conforme explicou Sandra Prado, a Casa é administrada pelo Município, mas recebe recursos da União.
“As mulheres da região metropolitana também são atendidas na Casa da Mulher Brasileira. Isso porque o segundo município com maior número de homicídios contra a mulher é Piraquara. Por isso não podemos deixar de atender as mulheres da RMC. Nós entendemos que o atendimento da casa precisa ser humanizado. O gestor precisa ter a sensibilidade porque a procura é muito grande. Depois procuramos uma articulação com o governo estadual e buscamos uma alternativa para esta mulher”.
A vereadora Fabiane Rosa (PSDC) destacou que muitos relatos de violência indicam o início do processo a começar contra os animais da casa. “A covardia é o fator motivador da agressão. Às vezes a agressão começa pelos animais, passa pelos filhos e chega às mulheres”. Ela ainda apoiou a ideia apresentada por Sandra Praddo do uso de animais como terapia de apoio às mulheres violentadas. “É fundamental a participação dos animais, porque a melhor terapia é o amor”, frisou Fabiane. A necessidade de apoio para os efeitos psicológicos e emocionais das agressões também foi questionada pelo vereador Osias Morais (PRB), para quem as marcas na “alma podem ser imperceptíveis” mas que “podem durar pela vida toda”.
Feminismo
Durante a sessão, o vereador Colpani (PSB) questionou o uso de uma frase, em matéria publicada no site da Câmara Municipal. “Não entendi aquela frase, que diz que a mulher que é dona de casa não pode ser independente”, disse. O parlamentar se referia à citação de Marianna Coelho, uma precursora do feminismo no Brasil e que viveu em Curitiba no início do século 20. A frase atribuída a Marianna diz que “a mulher que apenas sabe ser dona de casa, [que] é incapaz de viver do seu trabalho, não se pode tornar independente” (leia mais).
Em resposta ao vereador, Professora Josete (PT) informou que a matéria fazia parte de uma pesquisa histórica da Diretoria de Comunicação da Câmara sobre a atuação feminina na cidade. “Não é uma crítica à mulher que optou por não ir ao mercado de trabalho, que é um direito da mulher. Ser dona de casa aqui não tem sentido pejorativo. Ela quis dizer que, às vezes ela tem um companheiro, mas se o seu casamento acaba, ela tem que retomar a vida de uma outra forma”, exemplificou. “Ela falou da dificuldade de, no início do século 20, uma mulher conseguir ser independente financeiramente, o que é uma primeira necessidade para uma mulher ser independente” acrescentou Julieta Reis (DEM).
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