Aprovada inclusão da Marcha do Orgulho Crespo no calendário de Curitiba
Inclusão da Marcha do Orgulho Crespo no calendário oficial tem segundo turno nesta terça. (Fotos: Rodrigo Fonseca/CMC)
Nesta segunda-feira (6), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) aprovou, em primeiro turno, a inclusão da Marcha do Orgulho Crespo no calendário oficial da capital do Paraná. Foram 24 votos favoráveis à proposta, apresentada pela ex-vereadora Carol Dartora (PT), que depois ganhou a coautoria de Giorgia Prates - Mandata Preta (PT) e de Professora Josete (PT). O projeto de lei fixa o dia 12 de novembro como referência para a realização da Marcha do Orgulho Crespo, prevendo que ela acontecerá em paralelo a atividades culturais. Apenas Eder Borges (PP) votou contra.
Movimento social originado na cidade de São Paulo, a Marcha do Orgulho Crespo é realizada na capital do Paraná desde 2016 e só foi interrompida, em 2020 e 2021, em razão da pandemia de covid-19. Ela começou em resposta a uma situação de discriminação vivida pela cantora Michele Mara, no comércio da rua XV de Novembro, quando foi impedida de experimentar um turbante pela dona do estabelecimento, que disse que “o seu cabelo vai estragar o meu produto”. Hoje, Giorgia Prates trouxe um vídeo de Mara, em que ela relatou o ocorrido e a construção dessa luta antirrascista.
“O dia de hoje é fundamental para visibilizar um problema social que a gente ainda enfrenta, que é o racismo. Que toda a cidade possa prestigiar esse dia, essa marcha, que tem também atividades culturais”, comemorou Carol Dartora, que veio para Curitiba prestigiar a votação do projeto de lei. Na sua fala, lembrou um caso pessoal, de quando foi vítima de discriminação no primeiro dia de emprego, para exemplificar a importância de ações afirmativas para superar a “subjetividade do racismo [estrutural]”. A deputada federal também pediu apoio financeiro à marcha, com a destinação de emendas parlamentares para o ato.
Com elogios à gestão Rafael Greca pelo apoio a pautas antirracistas em Curitiba, Giorgia Prates destacou a articulação com o líder do governo, Tico Kuzma (PSD), e com Herivelto Oliveira (Cidadania) para a construção de um Parque da África na cidade. “É importante a gente falar sobre como lutamos diariamente para mudar o que ficou sobre nós do período escravocrata”, destacou a parlamentar, que exaltou a Marcha do Orgulho Crespo como um “espaço onde o povo negro pode reafirmar sua identidade”. Ela destacou que a desvalorização do cabelo crespo, forçando jovens negras e negros a se encaixarem em padrões que não são seus, “leva ao sofrimento e à depressão”.
“Talvez não seja possível para os não-negros entenderem a questão do cabelo. Eu nasci nos anos 1970 e era difícil ver as mulheres usando o cabelo natural. Hoje em dia é uma vitória para os negros, que foi conquistada ao longo dos anos”, disse Herivelto Oliveira, endossando as falas anteriores, sobre a importância do evento. “O racismo é estrutural no país e em Curitiba não é diferente. Ainda precisamos superar a exclusão da população negra”, destacou Professora Josete. Tito Zeglin (PDT), Tico Kuzma, Serginho do Posto (União), Dalton Borba (PDT) e Angelo Vanhoni (PT) elogiaram a inclusão da Marcha do Orgulho Crespo no calendário oficial.
Também acompanharam a votação, no Palácio Rio Branco, Amanda Mendes (da coordenação da Marcha do Orgulho Crespo), Romulo Pimenta Costa, Claudia Nunes (Projeto Crespura), Nicole Oliveira (Coletivo Enegrescer), Luís Melão (MDB Afro), Gustavo Tresco e Lucas Corrêa, ambos assessores parlamentares da deputada Carol Dartora. Indiara Barbosa (Novo) e Amália Tortato (Novo) se abstiveram, mantendo o posicionamento da bancada, que é de não votar na criação de datas comemorativas. O projeto de lei volta à pauta, para deliberação em segundo turno, nesta terça-feira (005.00193.2022 com a emenda 034.00101.2023).
“Vou ficar em depressão porque me chamaram de careca?”, pergunta Borges
Único parlamentar a votar contra a inclusão da Marcha do Orgulho Crespo no calendário oficial de Curitiba, Eder Borges defendeu que “a impressão que eu tenho é que o intuito da marcha não é celebrar a cultura africana, tampouco conscientização verdadeira contra o racismo, mas que se trata de uma manifestação contra brancos, contra a honra de Curitiba e contra cristãos”. Ele vinculou a atividade ao Partido dos Trabalhadores, queixou-se de ser acusado de racismo e disse que historicamente houve mais escravização de povos africanos por árabes que por europeus, vinculando esse debate ao confronto entre o Hamas e Israel na Faixa de Gaza.
“É muito grave acusar alguém de um crime, não tem nenhum criminoso aqui. Em casos pontuais de racismo, como o que vimos no posto de gasolina, onde um idiota envergonhou a nossa cidade, isso foi repudiado por vereadores e parlamentares de todas as matizes ideológicas. Casos pontuais devem ser repudiados”, disse Eder Borges. Para ilustrar seu ponto de vista, perguntou se deveria organizar uma Marcha do Orgulho Calvo: “vou ficar em depressão porque me chamaram de careca?”. O vereador disse que “existe uma cultura de demonização dos brancos” e que “não se combate racismo com mais racismo”.
“Curitiba tem muito racista. Será que você não consegue enxergar a estrutura racista?”, disse o vereador Angelo Vanhoni, ao fazer o contraponto à fala de Borges. “Quando o Eder fala que tal coisa é partido político, tal coisa é ideologia, eu fico me perguntando a quem interessa falsear a verdade? Às vezes quem fala contra o ódio está fazendo exatamente o contrário, está disseminando o ódio”, acusou. Giorgia Prates disse que não entendeu “metade do que ele disse”, por isso não discutiria com Borges. Dalton Borba apontou que, diante da aprovação do projeto pela “maciça maioria”, o registro de apenas um voto era “insignificante”.
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