Apresentadas propostas nacional e municipal de igualdade racial
“Avançamos muito, mas ainda temos muito para trabalhar. As estatísticas ainda são muito desfavoráveis quando se fala em desigualdade racial”, afirmou a secretária nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Sandra Terena. Recebida pela Câmara Municipal de Curitiba (CMC) durante a sessão desta quarta-feira (20), ela defendeu propostas do governo federal para a área. Na esfera local, os vereadores ouviram o assessor de Políticas de Igualdade Racial da prefeitura, Adegmar José da Silva (Candiero).
Dentre outras agendas na cidade, Sandra Terena acompanha um curso de dois dias, com término nesta quarta, sobre o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), ao qual Curitiba aderiu em novembro de 2018. A atividade tem como foco a elaboração do Plano Municipal de Promoção da Igualdade Racial, e é uma parceria entre a Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, vinculada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Órgãos públicos locais apoiam sua operacionalização.
De origem indígena, Sandra Terena nasceu em Curitiba. Presidente da Comissão de Direitos Humanos, Defesa da Cidadania e Segurança Pública da CMC, Maria Leticia Fagundes (PV) saudou a convidada. “Ela é uma das principais vozes brasileiras na construção das políticas públicas direcionadas à defesa de direitos de comunidades tradicionais. Faz parte de uma minoria invisível que conseguiu cursar uma universidade [de Comunicação Social], pós-graduação [em Comunicação Audiovisual] e conseguiu aplicar esse conhecimento para implementar, na prática, a busca pela melhor qualidade de vida de seu povo”, indicou a parlamentar.
A secretária nacional destacou a celebração, nesta quinta-feira (21), do Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas), a data remete ao Massacre de Sharpeville, ocorrido na cidade de Johanesburgo, África do Sul. Em 21 de março de 1960, a polícia sul-africana executou 69 pessoas e feriu cerca de outras 180, durante um protesto pacífico contra o regime de segregação racial (apartheid).
“A cada 23 minutos, morre um jovem negro no Brasil”, alertou Sandra. Segundo ela, 77% das pessoas assassinadas na faixa de 15 a 29 anos de idade são pretas ou pardas. “Se você tiver pele negra no Brasil, tem 2,6 vezes mais risco de morrer assassinado”, reforçou. “Não podemos ignorar esses fatos. Isso precisa acabar.”
Para o enfrentamento nacional da vulnerabilidade dos jovens expostos à violência, com foco na população negra, Sandra citou o plano Juventude Negra. Lançada no final de 2013, a iniciativa tem como meta reduzir os índices de violência por meio da inclusão social, por exemplo. “Lembrando que este governo também quer dar voz aos povos indígenas, quilombolas, ciganos e demais comunidades tradicionais que compõem a pluralidade cultural do país”, acrescentou.
A secretária ainda defendeu a promoção da cultura, entre as populações vulneráveis, como ferramenta de combate ao racismo. “Com muito sacrifício consegui me formar. Sei da responsabilidade que tenho, e quero contar também com a sensibilidade dos senhores vereadores para que juntos a gente possa fazer um bom trabalho nas políticas públicas voltadas à igualdade racial. Curitiba também tem uma diversidade grande.”
Plano municipal
Segundo Candiero, o Plano Municipal de Promoção da Igualdade Racial está em fase de elaboração e será submetido à análise da CMC. Ao ser convidado para assumir a Assessoria de Políticas de Igualdade Racial do Município, ele disse ter recebido um pedido do prefeito Rafael Greca: desmistificar a ideia que Curitiba não tem negros.
Candiero apontou a importância da população negra para o estado e afirmou que a prefeitura estuda a revitalização da praça Zumbi dos Palmares, localizada no bairro Pinheirinho, para que o espaço possa “cumprir suas funções”. Coordenador-geral de gestão do Sinapir, Rodrigo de Faria também acompanhou as falas de Sandra e o assessor municipal.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba