Após debate, vereador desiste de repúdio à campanha para pessoas com deficiência

por Assessoria Comunicação publicado 02/12/2015 12h50, última modificação 05/10/2021 07h37

A revelação de que os polêmicos outdoors “pelo fim dos privilégios a deficientes” foram uma ação do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CMDPcD), anunciada (veja aqui) na tarde de ontem (1º), gerou polêmica na sessão desta quarta-feira (2) na Câmara de Curitiba. Chicarelli (PSDC) propôs uma moção de repúdio (060.00010.2015) à campanha, mas retirou o requerimento depois de duas horas de debate sobre a iniciativa. Para os vereadores favoráveis, a medida chamou a atenção, em todo o país, para as dificuldades enfrentadas pela pessoa com deficiência (PcD). Outros parlamentares argumentaram que os recursos públicos deveriam ter sido aplicados em outras áreas, como na educação especial.

A maior parte dos vereadores se manifestou a favor da iniciativa. “Eu, como único vereador a ter uma deficiência [a amputação do antebraço esquerdo], me senti representado”, defendeu Pier Petruzziello (PTB). “A campanha foi colegiada, do Conselho, e não da Prefeitura de Curitiba. Deu tão certo que a presidente da entidade [e secretária especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência], Mirella Prosdócimo, foi chamada para participar do programa "Encontro", com a Fátima Bernardes. Domingo estará no Fantástico, também da Rede Globo”, revelou hoje cedo.

Petruzzielo apoiou o uso da palavra “privilégios”. “Ela foi proposital, justamente porque a maior parte das pessoas acha que temos privilégios. Mas o que existem são direitos. Pega um ponto crucial”, acrescentou. Pedro Paulo (PT) e o líder do prefeito da Casa, Paulo Salamuni (PV), também argumentaram que a estratégia não foi da Secretaria Municipal da Comunicação (SMCS), e sim do Conselho.

Prós...
“Quando a notícia sobre o outdoor que falava no fim dos privilégios apareceu, na segunda-feira [30], claro que repudiamos [leia mais]. Se fosse um movimento real, continuaríamos contrários, mas temos que entender que era uma peça publicitária, justamente para voltar a atenção aos direitos da pessoa com deficiência”, avaliou Julieta Reis (DEM). Professor Galdino (PSDB) já havia comentado a polêmica antes mesmo de iniciada a discussão sobre o requerimento de Chicarelli. “Tiro o jaleco pela primeira vez. O outdoor foi para chocar a população, levantar o debate, mexer com a consciência coletiva. Genial”, afirmou, em discurso durante o pequeno expediente da sessão. Colpani (PSB), Rogerio Campos (PSC) e Tico Kuzma (Pros) também se pronunciaram a favor da iniciativa.

Presidente da Comissão de Acessibilidade, o vereador Zé Maria (SD) avaliou que “o objetivo foi bom, mas a maneira [para chamar a atenção] poderia ter sido diferente, com uma caminhada cívica, por exemplo”. “Curitiba é a única capital que ainda tem escolas especiais, mas querem fechá-las”, apontou.

E contras
Para Chicarelli, foi “totalmente ridícula”. “O prefeito no mínimo deveria pedir a cabeça de sua secretária [Mirella]. A campanha foi provocativa e onerou os cofres públicos. Não quero acreditar que quem defende as pessoas com deficiência tenha aprovado isso [no Conselho]”, disse o autor do requerimento. Mauro Ignácio (PSB) definiu a ação como “equivocada, por não trazer ações concretas para a pessoa com deficiência, como o apoio para as escolas especiais”.

Chico do Uberaba (PMN) comparou a estratégia a uma eventual campanha que incentivasse “as pessoas a comprarem armas e saírem atirando”, mas que tivesse como finalidade o desarmamento. “Demonstra mais uma incompetência da gestão. Até o líder do prefeito e o presidente da Casa foram pegos de surpresa e pensavam [na segunda-feira] em uma moção de repúdio. Enganou a cidade inteira. Não sou da área da publicidade, mas será que é assim que se chama a atenção? O que esperar de uma prefeitura que coloca uma capivara como símbolo da cidade? Que corta árvores para plantar radares?”, questionou.

Valdemir Soares sustentou que os vereadores deveriam ter sido avisados da campanha. Ele defendeu que a repercussão na imprensa nacional não será necessariamente positiva: “Tem muita gente ofendida. Não tem essa história de "ofendeu, mas deu resultado". Dinheiro público não pode ser usado para ofender, só para promover”. E acrescentou: “Quero saber quanto estamos pagando por esta campanha. Não tem dinheiro para roçar, fazer a coleta de lixo, tapar buracos, fazer atendimentos em comunidades terapêuticas, mas tem verba para gastar em uma campanha de extremo mau gosto”.

Pedido de informações
A Câmara Municipal enviará à Prefeitura de Curitiba um pedido de informações oficiais sobre a campanha. Encabeçado por Chico do Uberaba, o requerimento (062.00483.2015) foi assinado por diversos vereadores. Eles questionam o valor gasto, a origem dos recursos e a quem coube a atualização do perfil no Facebook do suposto Movimento pela Reforma de Direitos, dentre outras perguntas.

Repercussão
A campanha publicitária provocou debates na Câmara de Curitiba desde segunda-feira, quando vereadores se mostraram indignados com um outdoor que defendia o “fim dos privilégios para deficientes” (leia mais). Na sessão de terça-feira, o assunto voltou a ser abordado. (leia também).