Advogado denuncia racismo de guardas municipais contra músicos

por Assessoria Comunicação publicado 18/12/2015 06h35, última modificação 05/10/2021 08h21

O advogado Elias Mattar Assad esteve na Câmara, a pedido de Paulo Salamuni (PV), para tratar do incidente que envolveu alguns músicos amadores que foram abordados, segundo ele, de forma inadequada por agentes da Guarda Municipal (GM), no dia 2 de dezembro, na estação tubo Centenário-Campo Comprido, na Praça Rui Barbosa.

“Estes três jovens músicos estavam no interior de um ônibus e foram convidados a se retirar, embora tivessem pago suas passagens. Lembro que a prática de se fazer música no transporte coletivo é comum e regulamentada em muitos lugares do mundo. Em Curitiba, a produção de arte em ambientes públicos é tema de uma lei aprovada e sancionada nesse mesmo ano de 2015”, disse ele, durante a sessão plenária desta quinta-feira.

“A diferença”, ressaltou Mattar Assad, “é que nesse caso houve um componente discriminatório”. De acordo com o advogado, os músicos estavam dentro de uma estação tubo quando foram interpelados por fiscais da URBS que solicitaram apoio da Guarda. A partir desse momento, teve início o que Assad chamou de “sessão de horror. Curiosamente, o único dos três músicos que não levou choques e não foi agredido moral e fisicamente foi o que tem a pele branca”. Assad disse que os agentes chegaram a sugerir que o músico branco estaria “mal acompanhado”.

“Curitiba não combina com esse tipo de atitude. A raiz de um problema como esse está na falta de respeito com o outro, com aquele que lhe é diferente. São músicos, honram nossa cidade e merecem um tratamento de cidadão. Os fiscais da URBS e os agentes da GM não devem agir motivados por pré julgamentos embasados na cor da pele das pessoas”, exigiu o advogado. Ele ainda frisou que o conteúdo da garrafa que estava em posse dos músicos era água, e não cachaça, como teria alegado a Guarda Municipal. “E se fosse cachaça, não haveria problema algum”, concluiu o advogado.

Relato
Os músicos abordados pelos agentes da Guarda eram Victor Lazarotte, Ricardo Gomes de Almeida e Guido Esturaro do Amaral. De acordo com o relato dos músicos, houve constrangimentos no trajeto até a delegacia, inclusive com o uso de violência física por parte dos agentes da GM. “Os guardas chegaram a tocar nosso violão enquanto aguardávamos para falar com a autoridade policial”, disse Lazarotte.

“Usaram armas de choque duas vezes e alegaram que resistimos à prisão”, frisou Ricardo Gomes que complementou: “nosso amigo da cor branca não passou por essas situações e chegou a ser indagado se estaria em nossa companhia”.

Para Paulo Salamuni (PV), líder do prefeito na Casa, o tema deve ser debatido. “Elias me ligou ontem e expôs estes fatos. Pedimos a ele que trouxesse os jovens à Casa para um desagravo. Eu vou acompanhar pessoalmente o trâmite das investigações sobre esse caso”. O vereador Chico do Uberaba (PMN), presidente da Comissão de Direitos Humanos, Defesa da Cidadania e Segurança Pública, solicitou que as informações sobre a abordagem fossem encaminhadas “por escrito” àquele colegiado.

Autor do projeto que resultou na lei que regulamenta a apresentação de artistas em espaços públicos (14.701/2015), o vereador Mestre Pop (PSC) mostrou solidariedade aos músicos. “Eu também fui artista de rua e, da mesma forma, sofri situações constrangedoras, assédios. Houve uma ocasião em que tive meu material de trabalho confiscado sem maiores justificativas”, revelou Pop. A lei [proposta por Pop] autoriza apresentações em locais públicos e também a comercialização de cds e dvds que contenham material de autoria do próprio artista.