"A conjuntura não pode prejudicar o debate da cidade", pediu Fruet
Ao entregar o projeto de revisão do Plano Diretor de Curitiba, o prefeito Gustavo Fruet (PDT) fez o primeiro discurso dele, em 2015, durante uma sessão plenária do Legislativo. “O desafio é ter clareza em relação à conjuntura, não deixando que ela prejudique o debate estrutural da cidade”, pediu aos vereadores, após demonstrar preocupação com os cenários político e econômico.
“Ao assumir a Prefeitura de Curitiba, soube que passaríamos por uma dificuldade financeira expressiva. Só que a confluência de uma crise política e de uma crise econômica trouxeram ainda mais imprevisibilidade”, advertiu Fruet, antes de comunicar ao plenário que repasses do governo estadual estão atrasados há seis meses (“São R$ 50 milhões que fazem falta”, disse) e que a União, “cujo histórico era de boa pagadora”, desde julho do ano passado retarda um ou outro pagamento.
O chefe do Executivo disse que, diante das dificuldades, “foi cortada uma série de despesas [da prefeitura]”. “E isso nos permitiu pagar nossas contas em dia”, frisou Gustavo Fruet. Há duas semanas, na prestação de contas da secretaria de Finanças, Elenora Fruet explicou que a prefeitura passava por problemas de “fluxo de caixa” (leia mais). “É um momento desafiador, que exige imensa responsabilidade”, declarou o prefeito.
Plano Diretor
Sem citar diretamente a greve de quatro dias no transporte coletivo da cidade, em janeiro deste ano, o prefeito Gustavo Fruet disse que a revisão do Plano Diretor implica numa revisão do financiamento da máquina pública. “Entregamos à Câmara de Vereadores um projeto de PD que trata do uso do solo, da estruturação dos sistemas viário e de transporte”, afirmou. “É fundamental que Curitiba pense num modal de alta capacidade de transporte”, reforçou Fruet.
“Eu lembro que quando meu pai foi prefeito [de 1983 a 1986], Curitiba ainda tinha 40% do território para ocupar, tinha cerca de 800 mil habitantes. Naquela época todo orçamento era direcionado para infraestrutura. Os equipamentos públicos nas áreas social, Educação e Saúde eram poucos”, contextualizou. “Só que nesses 30 anos, de lá para cá, a cidade deu um salto. Os serviços públicos foram expandidos a tal ponto que hoje a folha de pagamento dos servidores chega a R$ 3 bilhões. Praticamente toda receita própria está comprometida com isso”, disse Fruet.
O prefeito de Curitiba também citou o adensamento da cidade como um fator “encarecedor” da gestão pública. “Não temos mais para onde expandir, a última área livre fica na Região Sul, no Campo de Santana. Fazer obras passou a custar também o valor das desapropriações de imóveis particulares”, comentou Fruet com a imprensa. Perguntado pelos jornalistas, disse que nas projeções do Poder Público, logo a cidade terá um carro por habitante.
“Deslocamento gera custo”, explicou, antes de defender a tese de que seria necessário “desconcentrar” a cidade. Nesse cenário, bairros seriam estimulados a se tornarem centros urbanos, com oferta de trabalho, lazer e cultura para os moradores do entorno – reduzindo, assim, a necessidade de as pessoas irem de um lugar ao outro. “A revisão do Plano Diretor sugere novos modais para Curitiba”, afirmou.
Fruet defendeu medidas de ciclomobilidade e a prioridade, nas vias públicas, do transporte coletivo. “A rapidez dos ônibus que passam pelo Centro, nas faixas exclusivas, aumentou 25%”, comentou o prefeito. Perguntado sobre engarrafamentos e dificuldade de estacionar, citou exemplos de outros países, onde a tendência é focar em iniciativas de transporte coletivo, em detrimento do individual. “Estamos propondo estratégias para os próximos 30 anos de Curitiba”, disse à imprensa.
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