“Estamos subindo a montanha”, diz secretária da Saúde sobre covid-19
por Fernanda Foggiato
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publicado
06/04/2020 21h10,
última modificação
26/08/2020 01h16
Colaboradores: Filipi.oliveira
Márcia Huçulak apresentou o plano de contingência no enfrentamento ao novo coronavírus na capital.
Em reunião remota da Comissão de Saúde, Bem-Estar Social e Esporte da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), nesta segunda-feira (6), a secretária municipal da Saúde, Márcia Huçulak, apresentou o plano de contingência no enfrentamento ao novo coronavírus na capital. “Precisamos agir, mais do que nunca. Estamos subindo a montanha”, afirmou ela, sobre o pico de casos da pandemia. “Nossa previsão, e nossos planejamentos têm se confirmado, do ponto de vista de planejamento das ações, [é que] nós vamos começar esta semana a ter problemas em Curitiba. Até então a gente tinha uma situação confortável.”
“A pandemia, na nossa previsão, vai até agosto. O mundo inteiro trabalha no achatamento da curva. Quanto mais a gente achatar, menos pessoas por dia [vão adoecer]”, acrescentou. Até esse domingo (5), Curitiba registrava 162 casos confirmados de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Desses pacientes, 15 estão internados, 12 em leitos de UTI, e 68 foram liberados do isolamento. O primeiro óbito, de uma mulher de 56 anos, com comorbidades, foi confirmado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) nesta manhã. O Paraná soma 445 casos confirmados.
“Nós estamos vivendo um momento totalmente diverso de qualquer epidemia que a gente já tenha enfrentado”, afirmou ela, em relação à H1N1 e à zika, por exemplo. “A covid-19 abalou o mundo. Todos os sistemas do mundo estão buscando. Não há evidências robustas do que funciona e não funciona. E nós estamos construindo o caminho ao enfrentar a pandemia. Há muita cogitação, há muita especulação, muitos desenhos de cenários, mas nós não sabemos.”
Segundo Márcia Huçulak, a mobilização da SMS começou após o primeiro alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 3 de janeiro. Inicialmente, com reuniões, o treinamento dos profissionais de emergência e urgência e a compra de insumos e equipamentos. Em relação ao plano de contingência implementado pela pasta, afirmou que Curitiba passa, esta semana, à terceira fase, em que há “persistência da transmissão do novo coronavírus e a gente entra em nível de emergência”.
“É uma doença que tem a transmissão muito fácil. E 80% dos casos serão casos leves, brandos, com quadros muito parecidos com uma gripe”, continuou. Ela alertou ao risco em especial aos idosos e pessoas com comorbidades, como diabetes e hipertensão, e à importância do isolamento domiciliar. “O que a ciência tem nos mostrado é o isolamento domiciliar por 14 dias [de pessoas com sintomas leves, monitoradas por telefone por profissionais da pasta]. O call center nos ajuda nisso.” A secretária ainda destacou a implantação pioneira das teleconsultas, em 27 de março.
Márcia Huçulak negou haver a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) aos profissionais de saúde da cidade. “Não temos limitação nenhuma, orçamentária e financeira. Nosso prefeito abriu todo o orçamento”, declarou. A dificuldade para a compra de máscaras e outros equipamentos, defendeu, “é mundial”. “Estamos repondo”, disse.
“A população começou a comprar [máscaras] para uso pessoal e a faltar para nós. Isso foi um problema no país, no mundo. E se tiver em casa, em caixa lacrada, por favor entregue em um hospital, em um serviço de saúde”, pediu. De acordo com ela, o consumo diário de máscaras no Sistema Único de Saúde (SUS) municipal passou de cerca de 5 mil para 200 mil. “Eram 90 frascos de álcool em gel por dia. Agora são 700”, completou.
Dentre outras medidas adotadas pelo Município, a titular da SMS destacou o decreto 407/2020, que autoriza a requisição de produtos e serviços de assistência hospitalares, como leitos, equipamentos e medicamentos, necessários ao enfrentamento do novo coronavírus. “Curitiba não tem mais diferença entre leito SUS e não SUS. É uma coisa só.” Segundo ela, todos os serviços estão integrados e a capital hoje conta com 5.620 leitos hospitalares, sendo 760 leitos de UTI, número que pode ser ampliado.
Debate virtual
Presidente da Comissão de Saúde, Dr. Wolmir Aguiar (PSC) destacou a devolução de R$ 22 milhões pela CMC, no final de 2019, para a Saúde municipal. Também lembrou que os vereadores destinaram uma série de emendas parlamentares à saúde municipal, ao orçamento deste ano, entre proposições individuais e coletivas. “A Câmara tem feito seu papel”, disse, em resposta à sugestão feita por Márcia no final da apresentação, de a Casa “alocar recursos para o coronavírus”.
À líder da oposição, Noemia Rocha (MDB), a secretária disse que não é possível, neste momento, dimensionar o orçamento destinado ao combate do novo coronavírus. “Estamos gastando muito. Todo nosso planejamento orçamentário e financeiro se perde. Isso no Brasil e no mundo. Os equipamentos subiram muito e quando a gente acha, dá gracas a Deus”, pontuou. De acordo com ela, o governo federal vai financiar os leitos de UTI e alguns insumos. “Estamos discutindo com o governo do estado os leitos clínicos.”
A Noemia Rocha, Dalton Borba (PDT) e Maria Leticia (PV), Márcia Huçulak voltou a negar a falta de EPIs. “Há muita falação. Não falta EPI”, defendeu. Os profissionais, argumentou, devem ser cautelosos ao retirar os equipamentos, para não haver contágio. “O que pedimos é o uso racional. O racionamento é mundial, não é aqui.”
Para Dalton Borba, faltaram explicações “do que será feito daqui para a frente, e não do que foi feito para trás”. Questionada por ele sobre a existência de um “plano B” caso o “contágio se torne fora de controle e o sistema entre em colapso”, a titular da SMS detalhou os leitos de UTI. Conforme ela, as vagas poderão ser requisitadas conforme a demanda, até se chegar a 1 mil.
“Não dissemos que não vamos fazer um hospital de campanha, e sim que estamos otimizando o que existe. Como o Hospital Vitória [na CIC, atualmente fechado]. É só fazer a limpeza e colocar a equipe lá dentro. Temos opções”, respondeu Márcia Huçulak. Também disse que, para a retaguarda dos pacientes, existem “estruturas asilares prontas” e outros equipamentos, já ofertados à Prefeitura de Curitiba.
Maria Leticia defendeu que a secretária, por “dever de ofício”, precisava prestar informações aos vereadores. Em sua avaliação, é prematuro e leviano dispensar a implantação de um hospital de campanha da Arena, dentre outras medidas adotadas. “Mil leitos [de UTI] dará contar de atender? Chegará o momento que teremos que escolher quem vai para o leito e quem vai para o saco mortuário.” Ainda conforme a vereadora, “está sim faltando EPI”. “Recebemos vários relatos de médicos. Se informa uma coisa e se pratica outra”, disse.
“Nossa equipe está toda devotada por fazer o melhor por Curitiba. A gente não dorme”, rebateu a secretária da Saúde. “Não somos levianos. Não somos moleques. Pode a senhora ter sua avaliação.” O momento, disse ela, não é de “agressões, acusações infundadas”. “Não é verdade que faltam EPIs. Se as pessoas querem fazer deste momento para discurso político, para se autopromover, só tenho a lamentar.”
Ainda no debate com os vereadores, Márcia Huçulak declarou a Oscalino do Povo (Pode) que as equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) estão preparadas, desde o início da pandemia, para o transporte de pacientes com a suspeita de covid-19. Tito Zeglin (PDT), primeiro vice-presidente do Legislativo, informou que Changzhou, na China, uma das cidades-irmãs de Curitiba, deve doar materiais e equipamentos para o combate ao novo coronavírus na capital. Jairo Marcelino (PSD) elogiou o trabalho da pasta.
Por extrapolar o limite de tempo que a secretária havia disponibilizado para a reunião, Professor Euler (PSD) e Tico Kuzma (Pros) abriram mão de se manifestar, enquanto Marcos Vieira (PDT) e Professora Josete (PT) não tiveram tempo para fazer perguntas. No debate com a Fundação de Ação Social (FAS), Vieira e Josete lamentaram. Segundo eles, o principal questionamento seria quanto ao remanejamento dos partos do Mãe Curitibana. “Poderia ter ficado alguém de sua equipe [da SMS], avaliou a vereadora.
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