“A favela é potente, ela não é carente”, diz Zé da Cufa
“A pandemia afetou diretamente as favelas. A favela não entrou em homeoffice. Ela foi impactada diretamente, mas não entrou em homeoffice”, disse o presidente da Cufa Paraná. (Foto: Carlos Costa/CMC)
No Paraná, em 17 meses de pandemia, mais de 270 mil pessoas vem sendo assistidas mensalmente. São famílias que moram em 510 favelas do estado. Até o momento, 938 mil toneladas de alimentos foram distribuídos. Doações que, se contabilizadas, movimentaram em R$ 15 milhões na economia. Esses números representam parte do trabalho que feito pela Central Única das Favelas (Cufa) e foram apresentados pelo presidente da entidade no estado, José Campos Jardim, na Tribuna Livre desta quarta-feira (18).
O convite para que o Zé da Cufa participasse da sessão plenária de hoje partiu de João da 5 Irmãos (PSL), conforme o requerimento 076.00029.2021. “A cufa, como muitas pessoas conhecem, foi criada há 20 anos para desenvolver atividades sociais e de inclusão em todo o Brasil. Por exemplo, no esporte [tem] a Taça das Favelas e na área de cursos profissionalizantes, destacando a produção cultural. Durante a pandemia, a Cufa tem atuado fortemente com o projeto Cufa contra o Vírus”, destacou o vereador.
Se no PR, a instituição atende 510 favelas, no Brasil, o número chega a 10 mil comunidades. Nesses locais, a Cufa promove atividades nas áreas da educação, lazer, esportes, cultura, saúde e cidadania. Em Curitiba e região metropolitana, a Central do Paraná atua em 12 cidades, assistindo 220 favelas e 100 mil habitantes, em média. E durante a pandemia da covid-19, conforme o presidente estadual, cerca de R$ 9 milhões em doações tem sido distribuídos mensalmente.
Além da doação de cestas básicas, a Cufa Paraná tem buscado meios para contribuir com a melhoria da renda dessas famílias e minimizar outros efeitos da pandemia, como o acesso à educação. Uma das ações é a distribuição de chips de celular com acesso à internet. “Distribuímos 10 mil chips que ajudam as mães a conectar seus filhos ao conteúdo escolar. Geralmente as mães têm entre 2 a 3 filhos em casa, em idade escolar. Quando não 3, ela tem 2 em idade escolar. Então criamos o ‘Alô Social’ onde conectamos 10 mil mães, e renovamos por mais 6 meses os dados telefônicos dessas mães”, contou.
Zé da Cufa ainda explicou que a instituição detectou outro problema grave nessas comunidades: sem renda, o responsável pela família deve escolher entre comprar um máscara para se proteger ou comprar alimento. Para minimizá-lo, a Cufa Paraná tem distribuído máscaras aos moradores dessas comunidades. Até agora, já foram entregues 500 mil unidades. Ainda tem destinado recursos, por meio de um auxílio de R$ 120,00 mensais, “através de um programa construído com diversas empresas”.
“A favela é potente, ela não é carente”
A pandemia afetou diretamente as favelas. A favela não entrou em homeoffice. Ela foi impactada diretamente, mas não entrou em homeoffice. […] Na pandemia, a favela segurou a economia. Nós não vimos os frentistas pararem, não vimos os motoristas de ônibus parar. Essas pessoas contribuem [com a economia]”, afirmou. Segundo Zé da Cufa, antes da pandemia, por ano, as favelas do Brasil, onde moram 20 milhões de pessoas, movimentavam R$ 119 bilhões na economia.
Para o convidado da Tribuna Livre, ao criar movimentações que vão além de doar cestas básicas ou distribuir um auxílio financeiro, a instituição busca dar dignidade a essas famílias, em um momento em que a vulnerabilidade ainda é muito grande. Por isso, a Cufa Paraná tem atuado na recolocação das pessoas no mercado de trabalho, em parceria com uma rede de farmácias e uma rede bancária. E agora, busca uma parceria com um shopping da cidade.
“A dignidade está no responsável familiar entrar no mercado e comprar aquilo que ele quer, comprar a marca do arroz que é acessível e o que a família gosta, comprar a bolacha que o filho come. E muitas vezes o que a gente doa não é aquilo que é agradável ao paladar, porém as pessoas aceitam porque a situação é complicada”, analisou.
Questionado por João da 5 Irmãos se a Taça das Favelas será realizada em 2021, o presidente estadual disse que hoje a instituição “corre para ajudar famílias”, seja na distribuição de alimentos, na geração de renda e até mesmo no reforço escolar, ao montar uma sala para atender as crianças em sistema híbrido. Ao vereador, ele também orientou que pessoas interessadas em atuar como voluntários entrem em contato com a Cufa Paraná através das redes sociais (Facebook, YouTube ou Instagram).
À Maria Leticia (PV), que indagou se a instituição se preocupa com pobreza menstrual nas favelas, Zé da Cufa respondeu que a Cufa Paraná tem debatido a inclusão dos absorventes higiênicos nas cestas básicas e que já distribuiu cerca de 7 mil pacotes em Maringá e sua região metropolitana e outros 40 mil no evento da Arena da Baixada, em junho deste ano.
“A Cufa é um selo social que acolhe outros selos e tem ajudado pequenas instituições e pequenos projetos. Para poder ajudar as pequenas instituições, a Cufa pleiteia a criação de coworking social. Esse coworking vai poder ajudar os empreendedores sociais, possibilitando a formação, os negócios e o aprimoramento dos produtos que são vendidos. A meta é lançar o coworking em 2022”, finalizou o convidado, ao responder os vereadores Noemia Rocha (MDB), Indiara Barbosa (Novo) e Dalton Borba (PDT).
Utilidade pública à Cufa
Autor de projeto de lei que declara a Cufa Paraná de utilidade pública municipal (014.00014.2021), Herivelto Oliveira (Cidadania) afirmou que a proposta passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) nesta terça-feira (17), mas não seguiu o trâmite regimental porque depende da anexação de alguns documentos para isso. O vereador informou que essa proposta, sendo aprovada, ajudará a instituição a firmar parcerias com o poder público para o repasse de recursos. Também participou o debate o vereador Sidnei Toaldo (Patriota).
Tribuna Livre
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