Câmara publica online manuscritos de 300 anos
O Legislativo lançará, na sessão plenária da próxima segunda-feira (17), o hotsite “Os Manuscritos – Documentos Históricos de Curitiba”, que vai possibilitar pesquisas online em livros com mais de 300 anos de existência, que contêm documentos anteriores à fundação da cidade (29 de março de 1693). O trabalho está sendo feito pela Câmara Municipal de Curitiba (CMC) em parceria com a Fundação Cultural, que guardará todas as atas manuscritas, atualmente preservadas na biblioteca do Legislativo, em um lugar com melhores condições de armazenamento.
Um dos livros mais importantes da coleção é o Tombo de Curytiba, onde consta uma carta escrita pelos moradores ao capitão povoador Matheus Leme pedindo a criação da CMC, em 24 de março de 1693. Confira um trecho da mensagem:
“...quanto mais crese a gente se vão fazendo móres desaforos, e bem se vio esta festa andarmos todos com as armas na mão, e apeloirou-se dos outros mais e outros ensultos de roubo, como e notório e constante pelos casos tem susidido e daqui em diante será pior, o que tudo causa o estar este dito povo tão desamparado de governo e desiplina da justisa [sic].”
Cinco dias depois, foi fundada a Câmara e a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Mas é importante ressaltar que o Livro Tombo veio depois. Em 1721, o ouvidor Raphael Pires Pardinho (uma espécie de fiscal da Coroa) veio da capital da Província de São Paulo – à qual o Sul era subordinado – e determinou que todos os documentos oficiais fossem juntados em um livro que se chamaria Tombo. “Para que nada se perdesse”, conta a historiadora da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Maria Luíza Gonçalves Baracho, que fez uma pesquisa aprofundada sobre a publicação.
Para o lançamento foram convidados o prefeito Rafael Greca, a presidente da FCC, Ana Cristina de Castro, o diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira, o secretário municipal de Comunicação Social, Israel Reinstein, além de acadêmicos da área e estudiosos do tema.
Conteúdos
Além do Livro Tombo, com sua transcrição feita pelo funcionário público Francisco Negrão, o hotsite “Os Manuscritos” disponibiliza outros documentos que contam uma parte da história da cidade, como por exemplo todas as solicitações de terras feitas por moradores à Câmara Municipal no ano de 1887; os termos de compromisso dos prefeitos eleitos até 2012 e dos vereadores e suplentes entre 1947 e 1963; e dois projetos de lei que autorizaram, em 1965, a construção da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (no Alto da Glória) e, em 1969, a doação do terreno do Pinheirão à Federação Paranaense de Futebol. Esses documentos já estavam digitalizados e agora podem ser folheados com um deslizar de dedos na tela dos tablets e smartphones, ou com um clique do mouse.
Também foram produzidos vídeos sobre o processo de restauração do Livro Tombo e sobre a importância da preservação de documentos. “Essa é uma forma de democratizar a informação, os documentos estão aí desde a fundação da cidade, mas é necessário que a população possa conferir. Esse é um processo de transparência também das nossas atas, que contam a história da cidade”, observou o presidente do Legislativo, Serginho do Posto (PSDB).
A historiadora Mary Del Priore – que escreveu obras como O Castelo de Papel, sobre a Princesa Isabel, e a série Histórias da Gente Brasileira – concorda que disponibilizar documentos originais ao público é uma forma de ampliar a transparência. “É importante que o poder público guarde documentos originais? Não é só importante, é absolutamente fundamental. A história do nosso país depende justamente de que o poder público tenha consciência de que a análise do nosso passado, os nossos problemas, e as soluções que virão estão justamente nesses velhos documentos.”
O projeto
Para a concretização desse projeto, a Câmara assinou dois convênios com a Prefeitura de Curitiba. O primeiro para a guarda e conservação do acervo histórico do Legislativo, com mais de 170 livros-ata destinados temporariamente à Casa da Memória. O segundo para a digitalização do material pelo Arquivo Público Municipal.
A administração também adquiriu um software específico, o flipbook, para que pudesse tornar acessível a todos os documentos digitalizados. O manuseio com o clique do mouse ou com a ponta dos dedos dá a impressão do folhear de um livro.
O hotsite Os Manuscritos foi elaborado e organizado pela Diretoria de Comunicação da CMC e desenvolvido pela Diretoria de Informática. Durante 10 meses, as equipes técnicas ficaram debruçadas sobre esse projeto para que qualquer pessoa possa ler obras que hoje são de difícil acesso.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba